Essas perguntas dizem respeito ao batismo por água que inicialmente foi praticado por João Batista para representar o arrependimento do pecado, e continuado pelos discípulos do Senhor Jesus (João 4:1-3). Depois da morte e ressurreição do Senhor Jesus esse batismo passou a ser praticado pelos novos convertidos entre os judeus, mas agora em nome de Cristo, num ato de identificação com Ele.
Antes da sua ascensão, o Senhor Jesus mandou que se fizessem discípulos também de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (Mateus 28:19). Atualmente, os que se dizem “cristãos”, praticam as seguintes modalidades de batismo:
O batismo infantil (pedobatismo), sob o argumento que o batismo da nova aliança é semelhante à circuncisão dos meninos na aliança abrâmica, que os batismos de famílias inteiras mencionados no livro de Atos provavelmente incluía crianças, e que as promessas bíblicas relativas à família permitiriam o batismo infantil (1 Coríntios 7:14). Esta modalidade geralmente é efetuada por aspersão, mas a imersão também tem sido usada.
O batismo dos que se convertem, como testemunho da sua conversão. Alguns adotam a prática da aspersão, que consiste em despejar água na cabeça dos que estão sendo batizados. Os argumentos usados pelos que assim fazem são: a) que a palavra grega baptizo é usada num sentido secundário, “colocar sob a influência de” e a aspersão traduziria melhor esse sentido; b) a aspersão retrataria melhor a vinda do Espírito Santo sobre o crente; c) a imersão de milhares de convertidos de uma só vez seria improvável e praticamente impossível em Atos 2:41, 8:38, 10:47, 16:33; d) em Hebreus 9:10 a palavra “batizar” é utilizada para designar os rituais de aspersão da lei mosaica; e) seria, segundo eles, a forma usada pela maioria dos que se chamam cristãos.
Os demais adotam a imersão por completo em água porque: a) é o sentido normal e primário da palavra grega baptizo; b) o sentido normal das preposições gregas eis (em, para dentro) e ek (de, para fora de) indica imersão em água; c) o batismo de prosélitos judeus era efetuado em total imersão, o que indica que o batismo de João e dos discípulos de Cristo também o eram; d) a prática da igreja primitiva era a imersão; e) cada uma das “dificuldades” citadas pelos aspersionistas verdadeiramente não impedem o batismo por imersão; f) a língua grega possui palavras específicas para “aspergir” e “derramar”, mas elas nunca são usadas em relação ao batismo; g) a imersão retrata melhor o que é o ministério batizador do Espírito Santo por ocasião da conversão, de acordo com Romanos 6:3-5: a imersão na água representa a identificação com Cristo na sua morte, a submersão é figura da identificação com o Seu sepultamento, e ao emergir da água temos a semelhança da Sua ressurreição.
Historicamente, a “doutrina da regeneração” pelo batismo começou a se espalhar já no princípio do segundo século da era cristã, com o clericalismo que gradualmente passou a dominar as igrejas locais. A primeira notícia que temos de batismo infantil é do ano 197 da era cristã, quando um escritor da época condenou esse costume que estava surgindo, juntamente com o batismo dos mortos.
A aspersão, em lugar do mergulho, simplificou o ritual das instituições religiosas apóstatas, que passou a significar a “lavagem” não só simbólica, mas efetiva do pecado “original,” e, portanto, aplicada aos recém-nascidos para que fossem salvos do inferno ...
Embora as instituições religiosas reformadas, ou “igrejas protestantes”, tenham abandonado a doutrina da regeneração pelo batismo, elas continuaram com a tradição de aspergir tanto novos convertidos como crianças. Durante muito tempo, depois da Reforma Protestante, houve perseguição severa aos crentes de grupos independentes que adotassem o batismo por imersão aos convertidos. Zwingli, por exemplo, um dos grandes nomes da Reforma, ordenou que todos os que se batizassem por imersão, em Zurique, fossem afogados! Na Alemanha eles foram apelidados de “anabatistas” porque não consideravam válido o batismo infantil. Deles derivaram os batistas dos nossos dias.
As igrejas neo-testamentárias independentes variam ainda hoje em suas práticas quanto ao batismo - aspersão ou imersão -, e algumas ainda batizam crianças.
Alguns dos missionários pioneiros no Brasil, que desenvolveram seu trabalho na região dos Estados do Rio de Janeiro, sul de Minas, e interior de São Paulo, eram “aspersionistas”, e muitas igrejas nessas localidades ainda conservam essa tradição. Não colocamos em dúvida a sua boa fé.
Na medida que outras dessas igrejas se compenetraram que a aspersão, como forma de batismo, surgiu apenas no segundo século, e se convenceram da legitimidade bíblica do “mergulho” dos novos convertidos, elas foram deixando a tradição da aspersão e do batismo de crianças, passando a realizar a imersão.
Quanto às crianças, não podemos estabelecer uma idade-padrão para o batismo das que se convertem. Logo que uma criança atinge suficiente maturidade espiritual para compreender a sua condição de pecadora, ela pode vir a Cristo para recebê-lO como seu Senhor e Salvador. Ela será batizada e selada com o Espírito Santo e começará sua nova vida em Cristo. Que bênção quando isto acontece ainda em tenra idade! Ela então terá todo o direito de dar o seu testemunho através do batismo. É da responsabilidade de quem batiza certificar-se que a criança não está sendo coagida, que ela conhece as verdades básicas do Evangelho, e que tem a maturidade suficiente para realmente entender e receber o Senhor Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal, sabendo bem o que isto significa.
Todo aquele que se converte a Cristo deve dar o seu testemunho através do batismo, conforme o mandado do Senhor, sendo este o seu primeiro passo na carreira cristã. A característica de qualquer testemunho, é que ele é dado depois da ocorrência do fato, nunca em antecipação dele. Logo qualquer suposto batismo anterior à conversão não teve e nunca virá a ter valor como testemunho do novo crente, não importando se foi por imersão ou aspersão. Não há um precedente sequer na Bíblia disto.
Quero enfatizar que ninguém deverá confiar no batismo como uma premissa para a Salvação, quer seja por imersão ou aspersão, quer seja como bebê, criança ou adulto. O batismo não salva ninguém, nem é um rito para dar-nos entrada na igreja de Deus. Nossa fé é firmada unicamente na obra redentora do nosso Salvador Jesus Cristo, e é mediante essa fé que recebemos a vida eterna pela graça de Deus e por Ele somos adotados como filhos.
É, segundo me parece, uma boa prática exigir que os novos convertidos se batizem antes de serem recebidos em plena comunhão na igreja local - não se trata de um ritual, mas de uma ordenança, e é uma maneira de mostrarem publicamente sua submissão à vontade do Mestre, além de darem um testemunho público da sua conversão. Isto pressupõe que o batismo se efetue logo, e não vejo respaldo bíblico ou justificativa convincente para que o batismo seja retardado por muito tempo, conforme a prática estimulada por algumas igrejas locais.
Existem entre nós, contudo, aqueles que evidentemente são crentes verdadeiros, que andam na luz de Cristo, mas que vieram de outra prática quanto ao batismo. Nunca foram batizados por imersão, mas em tudo dão amplo testemunho público da sua fé. Devemos ter suficiente amor e compreensão para com esses irmãos e irmãs para lhes estender a nossa comunhão. Sei de alguns que, assim recebidos, sentiram que lhes faltava esse ato de obediência e se batizaram voluntariamente, alguns anos depois. Sempre tenho em mente as palavras da profecia de Oséias “Misericórdia quero, e não sacrifícios” usadas pelo Senhor Jesus contra os fariseus (p.ex. Mateus 12:7).
Por misericórdia é preferível (às vezes) abrir mão de certas práticas sobre as quais existem controvérsias entre crentes, do que desprezar nossos irmãos em Cristo por não obedecerem a letra de algum mandamento conforme nós a entendemos. “Amai-vos uns aos outros”, eis o grande mandamento (p.ex. 1 João 3).