Seu nome, Jechezkel em hebraico, significa “o SENHOR fortalecerá”. Era um sacerdote que se encontrava com os cativos junto ao rio Quebar na terra dos caldeus, provavelmente tendo ido com o rei Joaquim.
No quinto ano do cativeiro de Joaquim (595 a.C), no quinto dia do quarto mês, Ezequiel teve sua primeira visão de Deus. Era o princípio do trigésimo ano a partir da restauração da adoração a Deus por Josias no décimo oitavo ano do seu reino. Na visão, Ezequiel viu o que chama de “aspecto da semelhança da glória do SENHOR” e sua descrição é feita em pormenores no primeiro capítulo do seu livro. Caindo com o rosto em terra, Ezequiel ouviu “uma voz de quem falava”.
Chamando-o de “filho do homem” a voz mandou que se pusesse em pé, e enquanto falava, o Espírito entrou nele e o pôs de pé para ouvir. Deus (de Quem provinha aquela voz) informou que o mandava ao povo de Israel rebelde, devendo se apresentar como profeta logo de início usando as palavras “Assim diz o Senhor Deus” e, quisessem ou não, pronunciasse as Suas palavras, quer ouvissem ou deixassem de ouvir.
Não devia temê-los, nem o que dissessem, nem se assustar com os seus semblantes. Ele próprio não devia ser rebelde como eles, mas abrir a sua boca e comer o que Deus lhe dava. Ao olhar, viu o rolo de um livro em uma mão estendida para ele, que foi aberto e viu que estava escrito por dentro e por fora, achando-se nele “lamentações, e suspiros e ais”.
Ao obedientemente comer o rolo, Ezequiel descobriu que era doce como o mel (segundo o Apocalipse 10:8-10 o último profeta, João, teve experiência semelhante). Foram visões para compreendermos que todo aquele que pretende comunicar uma mensagem vinda de Deus, ou da Sua Palavra, seja ele profeta ou pregador, precisa de primeiro “absorver” a mensagem que vai transmitir, tornando-a uma parte da sua própria vida, conforme lemos em Ezequiel 3:10.
Preparando-o ainda mais, Deus fez “seu rosto duro contra os seus rostos, e dura a sua fronte contra as suas frontes.”
Deus repetiu sua ordem que não hesitasse em falar ao povo de Israel mesmo se não quisessem ouvir, e avisou Ezequiel que, por causa da responsabilidade que lhe fora dada, seria castigado pelos pecados cometidos por outros se já não os tivesse prevenido.
Em seguida o Espírito levantou Ezequiel e o levou, amargurado e indignado com a rebeldia do povo, mas com a forte mão do Senhor sobre ele, até os cativos que se encontravam em um local chamado Tel-Abibe (monte de trigo). Assentou-se entre os que moravam ali, pasmado, por uma semana.
Deus então o lembrou da sua missão, com promessas e ameaças. Resolveu continuar e recebeu de Deus um novo sinal, ânimo e coragem. Deus mandou que Ezequiel preparasse um modelo do cerco de Jerusalém feito de tijolo e outros objetos. Ele deveria se deitar defronte dele:
Do lado esquerdo por trezentos e noventa dias, representando a iniquidade do reino de Israel em anos (desde o tempo de Jeroboão (975 a.C. -ver Ezequiel 4:1-17, 1 Reis 12:32, 33).
Do lado direito por quarenta dias, representando a iniquidade de Judá em anos.
Durante esse tempo Ezequiel profetizaria contra Jerusalém amarrado, tendo a água para beber e o alimento racionados, sendo este cozido com excremento, simbolizando o sofrimento do povo em Jerusalém.
Terminada essa demonstração, imediatamente Ezequiel foi levado pelo Espírito a Jerusalém (Ezequiel 8:1, 9:1-11:25). Numa visão ele viu a idolatria geral praticada ali, e as pragas que viriam sobre a cidade por causa disso. Também teve uma visão do Espírito que deixava a cidade. Em seguida Ezequiel foi transportado de volta pelo Espírito ao seu povo exilado na Caldeia, e lá declarou o que tinha visto.
Por sinais e verbalmente Deus revelou a futura fuga do rei Zedequias durante a noite, sua captura e vazamento dos seus olhos, cativeiro e morte na Babilônia. Também previu o cativeiro dos judeus remanescentes em Judá e Jerusalém, e as calamidades que o precederiam (Ezequiel 12:1-28).
Nesse mesmo ano (594 a.C.) foram escritos os capítulos 13 a 19 do livro de Ezequiel. No capítulo 14 Daniel é mencionado duas vezes, junto com Noé e Jó: mesmo com a sua justiça, declara Deus, se estivessem os três naquele tempo em Jerusalém eles só salvariam a si próprios, o que nos lembra a intercessão de Abraão pelo seu sobrinho Ló (Gênesis 18:23-33).
No ano seguinte Ezequiel reprovou os anciãos do povo pela sua hipocrisia em vir a ele procurando o conselho de Deus, mas profetisou sobre a calamidade que viria sobre todas as nações, pronunciou o juízo de Deus sobre os idólatras e confortou os piedosos (Ezequiel 20:1 a 23:49).
Em 590 a.C. começou o cerco de Jerusalem por Nabucodonozor que Ezequiel havia profetizado, já tendo ele conquistado todas as cidades de Judá fora ela, Laquis e Azeca. No dia em que o cerco começou, Deus revelou a Ezequiel, que estava na Caldeia, que Jerusalém seria destruida completamente.
A revelação foi feita pela manhã mediante o símbolo de uma caldeira cozinhando carne e ossos e anunciada ao povo. À tarde pela mão de Deus morreu a esposa de Ezequiel, e Deus mandou que não se lamentasse ou chorasse por ela, mas que gemesse em silêncio.
O povo lhe perguntou o que significavam para eles aquilo que fazia, e ele respondeu que o Senhor Deus mandou que lhes informasse que Ele profanaria o Seu santuário que representava tudo que havia de grandioso para eles, e os seus filhos e filhas que haviam deixado seriam mortos. Assim como Ezequiel agiu com a morte da sua esposa, eles também deveriam fazer. Era um sinal para saberem que Ele era o Senhor Deus (Ezequiel 24).
Em 589 a.C. Ezequiel profetizou contra o faraó e todo o Egito, avisando que sofreriam uma desolação de quarenta anos (Ezequiel 29), e no ano seguinte profetizou contra Tiro, informando que também sofreria invasão e destruição por parte de Nabucodonozor (Ezequiel 26).
A cidade de Jerusalém, cujos habitantes já sofriam severamente com a fome devido ao cerco, foi finalmente invadida pelos caldeus em 588 a.C. e as profecias pronunciadas por Ezequiel contra ela foram seguidamente cumpridas, após um intervalo de apenas seis anos.
A maior parte dos judeus que sobraram em sua terra fugiu para o Egito. Alguns ainda ficaram, e Ezequiel profetizou no ano seguinte (587 a.C.):
a completa destruição desse remanescente do povo
a terrível praga e aflições que Nabucodonor levaria até o Egito (Ezequiel 32:1-16 e 33-21-29)
que o faraó e o povo do Egito seriam destruídos, bem com o resto das nações incircuncisas (Ezequiel 32:17-32).
Em 584 a.C. o capitão da guarda de Nabucodonozor, Nebuzaradão, levou para a Babilônia os restantes setecentos e quarenta e cinco judeus e israelitas, completando assim a profecia de Ezequiel que a iniquidade de Israel duraria trezentos e noventa anos (Ezequiel 4:5-6).
Em 575 a.C. Ezequiel profetizou a construção de um novo templo. No lugar onde estivera o templo de Salomão um novo templo veio a ser construído por Zerubabel por ocasião da volta do exílio, e este foi ampliado por Herodes durante o tempo de Cristo. Mas este também foi destruído, pelos romanos, e não correspondia perfeitamente aos detalhes dados por Ezequiel.
Deduzimos, portanto, que este novo templo profetizado por Ezequiel ainda está no futuro. Não é o “terceiro templo” já projetado por Israel e que provavelmente estará em uso durante o tempo da Tribulação, mas será o templo construído por Cristo e usado no milênio como a sede do governo mundial (Isaías 2:2-4, Ezequiel 43:7, 48:35, Daniel 2:44-45, 7:13-27, Zacarias 6:12-13,14:8-9, Apocalipse 11:15).
A partir do capítulo 36 até o fim do seu livro Ezequiel faz profecias sobre a restauração do povo de Israel em sua terra prometida, durante o milênio do reino de Cristo. Os futuros inimigos de Israel serão destruídos (capítulo 38, 39), o templo construído (cap.40 a 42), onde se fará adoração (cap. 43, 44) e a administração do mundo (cap.45, 46), as águas serão purificadas (cap. 47:1-12), a terra será repartida (cap. 47:13-20 e 48).
Assim como as profecias do início do livro foram cumpridas em seu tempo, podemos ter certeza que as do restante, ainda futuras para nós, também serão cumpridas fielmente: é a Palavra do Senhor.