Seu nome vem do hebraico "mi¯kha¯ya¯hu¯"que se traduz “Quem é como Jeová?”. Há vários personagens com esse nome na Bíblia, considerando que o nome também é contraído para Miqueias, como é chamado um dos profetas cuja profecia foi incorporada como livro nas Escrituras. Por isso temos o nome do pai, Inlá, como sobrenome. Nada mais se sabe sobre a sua pessoa, mas é o personagem principal de um episódio importante perto do fim do reinado de Acabe, rei das dez tribos de Israel.
Em 907 AC Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá, casou-se com Atália, filha do rei Acabe, rei de Israel (2 Crônicas 18:1). Assim aparentado, Acabe perguntou a Jeosafá se ele estaria disposto a participar com ele de uma campanha militar contra o rei da Síria, que estava próximo à cidade fronteiriça Ramote-Gileade, no nordeste do território de Israel.
Jeosafá de pronto disse que reconhecia que eram ambos parte de um só povo, e que estariam unidos em guerra contra outros, mas pediu que Acabe primeiro consultasse a “palavra do Senhor”, ou seja, um profeta de Deus.
Acabe imediatamente convocou os profetas oficiais, em número de 400, e lhes perguntou “Iremos à peleja contra Ramote-Gileade, ou deixarei de ir?” (Eram falsos profetas pois Acabe era idólatra e havia perseguido duramente os que serviam o Senhor).
Submissos ao seu rei, e obedecendo um espírito mentiroso (2 Crônicas 18:18-22), todos profetizaram o sucesso da empreitada mediante enunciado oracular e pela ação simbólica de seu líder, Zedekias, filho de Quenaaná.
Jeosafá logo percebeu que eram falsos profetas, e indagou se havia ainda ali algum profeta do Senhor a quem pudessem consultar. Acabe sabia muito bem a diferença, porque logo admitiu que havia um, mas que o odiava porque nunca profetizava o bem a seu respeito. Jeosafá o repreendeu por falar assim.
O profeta Isaías declarou a respeito de gente como Acabe: “dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e profetizai-nos ilusões; desviai-vos do caminho, apartai-vos da vereda; fazei que o Santo de Israel deixe de estar perante nós.“
O profeta que Acabe odiava era Micaías, filho de Inlá. Ele não estava entre os profetas que haviam sido convocados, e Acabe enviou um servo para buscá-lo depressa.
Este mensageiro de Acabe logo preveniu Micaías que, como todos os profetas eram unânimes a favor do rei, “seja, pois, também a tua palavra como a de um deles, e fala o que é bom.” Mas Micaías manteve-se firme e fiel ao Senhor “Vive o Senhor, que o que meu Deus me disser, isso falarei.”
Diante do rei, este lhe fez a mesma pergunta que havia feito aos falsos profetas, e Micaías repetiu exatamente a resposta que aqueles haviam dado. Mas o fez de tal forma que ficou evidente ao rei e aos outros que ele não falava sinceramente, mas estava apenas ironicamente arremedando o que os outros diziam.
Acabe o adjurou a não falar outra coisa senão a verdade em nome do Senhor. Micaías assim fez, e contou como vira Israel disperso pelos montes, como ovelhas sem pastor, e que o Senhor lhe dissera que não tinham senhor e que cada um tornasse em paz para a sua casa. O Senhor não estava com o rei Acabe, logo o povo não tinha um líder merecedor do cargo, e era preferível que voltasse para casa.
Acabe procurou diminuir a importância do que Micaías havia declarado, dizendo a Josafá que foi justamente o que lhe havia dito, que este profeta não profetizaria o bem a respeito dele, porém o mal.
Declarando que esta era a palavra do Senhor, Micaías prosseguiu, informando a visão que teve do Senhor assentado em Seu trono no céu, e todo o exército celestial em pé à Sua direita e Sua esquerda. O Senhor perguntou quem induziria Acabe a subir para cair em Ramote-Gileade. Em meio a várias sugestões diferentes, um espírito se apresentou diante do Senhor e se ofereceu para induzi-lo mediante se fazer em um espírito mentiroso na boca de todos os profetas. O Senhor concordou, e o mandou ir.
Entre os estudiosos da Bíblia essa visão tem provocado algumas perguntas e discussões sobre a sua autenticidade, se ela indicava que os falsos profetas tinham sido inspirados por ordem divina, se a ação do Senhor aqui é consistente com o Seu caráter santo. A dificuldade que encontram é devido a um ponto de vista cristão, ou por causa de uma teoria sobre inspiração divina por demais rígida.
Entendemos que o profeta Micaías estava enfrentando uma situação perigosa e fez o melhor que podia para evitar o desastre previsto.
Tentando afastar o rei da influência dos 400 falsos profetas que diziam o que ele queria ouvir, ele usou de ironia para desprezar o comportamento deles. Em seguida, informou o desastre que viria se o rei agisse seguindo a previsão que faziam. Finalmente, se isso não tivesse o efeito desejado, ele desacreditou da forma mais solene a declaração dos profetas oficiais.
Deste modo sua visão não contém qualquer admissão de alguma inspiração divina dos falsos profetas. É uma declaração enfática que estes homens estavam proclamando falsidade em nome do Senhor, assim pondo em perigo a segurança do seu país e a vida do rei. Eram os precursores dos falsos profetas denunciados por Jeremias (Jeremias 23:9-40) e por Ezequiel (Ezequiel 13:1-15).
O antropomorfismo da visão não é problema se enterdermos que é o subterfúgio literário de um profeta tão patriótico como aqueles que se opõem a ele, e perfeitamente consciente de ser esta a mensagem do Senhor.
Os falsos profetas mentiram ao falar o que era bom para Acabe, mas foi o Senhor que falou o mal a respeito dele através de Micaías, profetizando com acerto o mal que lhe viria.
O relato termina com a agressão e insulto feitos a Micaías, pelo falso profeta Zedequias filho de Quenaaná. Um dia Zedequias iria procurar refúgio do inimigo, prova que não tinha o Espírito do Senhor.