Certo dia, Pedro e João estavam subindo os terraços para os átrios do templo na hora da oração, às três horas da tarde (havia duas outras, às nove da manhã, e ao meio dia). Os apóstolos e os que se convertiam a Cristo continuavam a fazer suas orações no templo. Era um período de transição, e ainda não haviam se separado do judaísmo, nem haviam sido proibidos de entrar no templo.
Um homem, coxo de nascença, era colocado diariamente na porta do templo chamada Formosa para pedir esmola. O estado miserável desse homem contrastava com a beleza arquitetônica daquela porta. Até hoje é comum ver mendigos à porta de suntuosas basílicas, catedrais e templos aproveitando-se da piedade que querem exibir os que ali freqüentam.
Ao ouvirem o pedido de esmola desse homem, Pedro e João se detiveram diante dele e pediram a sua atenção. Pedro lhe disse que não tinha prata ou ouro para dar, mas o que tinha, lhe daria. Mandou, em nome de Jesus Cristo, o nazareno, que o coxo andasse, o que lhe pareceria impossível – nunca havia conseguido fazer isso, em toda a sua vida.
Ao pecador também parece impossível se livrar do pecado e dos vícios que o acompanham, pelos quais está escravizado desde sua infância. A mensagem do Evangelho de Cristo pode lhe parecer inviável, vazia.
Depois de mandá-lo andar, Pedro tomou a mão direita do coxo para ajudá-lo a levantar-se. Foi curado imediatamente, pôs-se em pé com um salto, e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus (sem necessidade de fisioterapia).
Pedro havia ajudado até onde podia, Deus fez o resto. Havia muita gente passando por aquela porta, e ao ver como se fez a cura todos ficaram perplexos e muito admirados.
O milagre havia sido feito em nome de Jesus de Nazaré, que poucas semanas antes havia sido crucificado ali perto. Por ter sido feito em Seu NOME, o resultado maravilhoso glorificava a Sua pessoa.
Isto nos lembra que a mensagem do Evangelho de Cristo continua a ser contada, anunciada e pregada pelos servos de Deus, mas a maravilhosa transformação que se opera no caráter do convertido é obra do Espírito Santo de Deus.
Essa transformação também é imediata, e é manifestada até pelo mais vil pecador, surpreendendo os seus familiares, amigos e conhecidos pois é sobrenatural e maravilhosa.
Quando um pecador se converte, a glória não é daquele que lhe levou a mensagem do Evangelho, mas do Senhor Jesus Cristo que entregou-se à morte para que ele fosse salvo da pena, poder e presença do pecado, e lhe dá uma vida nova de santificação a Deus.
O mendigo se apegou a Pedro e João, e a ocorrência resultou no ajuntamento de grande multidão curiosa, junto ao Pórtico de Salomão. Esta foi uma grande oportunidade para testemunhar de Cristo, e Pedro imediatamente aproveitou-se dela, fazendo um discurso.
Pedro começou explicando que não fora poder ou piedade próprios dele ou de João que haviam curado o coxo, mas fora pela fé que os dois tinham no nome de Jesus.
Continuou, lembrando-os que foram eles, "varões israelitas", que O entregaram a Pilatos para ser crucificado e morto, tendo-O acusado embora Sua inocência tivesse sido reconhecida e declarada por Pilatos.
Recordou-lhes que haviam preferido a soltura de um assassino em lugar de Jesus, o próprio Autor da vida (veja João 1:1-18). Nesse interessante paradoxo de Pedro, vemos que haviam pedido vida para quem tirara a vida de outrem e estava, portanto, sujeito à pena de morte segundo a lei de Moisés, e em seu lugar exigiram a morte de um inocente, que era o próprio Autor da vida, conforme João 1:1-18.
Temos nisto uma perfeita figura em que o pecador, sujeito à perdição eterna, é substituído por Jesus Cristo, inocente de qualquer pecado. Jesus recebeu a punição em lugar do pecador, a fim de que este, arrependido, pudesse ser isentado da sua culpa e libertado.
Pedro ainda conta que, em contraste com a rejeição deles, o Deus dos seus patriarcas e antepassados O havia ressuscitado e glorificado, e de tudo isso ele e João haviam sido testemunhas. E era a fé que Pedro e João tinham em Seu nome que havia curado o coxo.
É de se notar aqui que todas as curas eram feitas pela fé de quem curava, não a de quem era curado. O Senhor Jesus dizia a alguns dos que ele curava "a tua fé te salvou" – não "curou". A fé é para salvação, não para a cura do doente (ver "A Cura Divina").
Tendo antes chamado a sua audiência de "varões israelitas", Pedro em seguida, compassivamente, mudou o seu tom acusatório. Chamou-os de "irmãos" (pois era israelita também), e disse reconhecer que eles, bem como os seus líderes, haviam tratado o Senhor Jesus daquela forma por ignorância.
Ao dizer isto, Pedro está admitindo a possibilidade que, apesar dos sinais e das evidências que Jesus havia dado, eles não haviam reconhecido que Ele era realmente o Filho de Deus. Sendo assim, eles teriam julgado que Ele mentia ao dizer que era, e estava cometendo blasfêmia: era isto o que diziam os seus líderes religiosos. Quem blasfemava estava sujeito à pena de morte. O Senhor Jesus mesmo declarou que eles não sabiam o que faziam (Lucas 23:34), assim como Paulo (1 Coríntios 2:8).
Com essa hipótese, Pedro lhes abria a possibilidade de perdão, mediante a graça de Deus, para o seu grande pecado (estava usando as suas chaves conforme Mateus 16:19).
Pedro acrescentou que foi mediante os atos cometidos por eles em sua ignorância que se cumpriram as profecias que dizem que Cristo haveria de sofrer. Interessante como as profecias são cumpridas independentemente da vontade das pessoas envolvidas.
Pedro terminou com uma exortação para que se arrependessem do que haviam feito e se voltassem para Deus para que:
seus pecados fossem cancelados,
viessem tempos de descanso da parte do Senhor para eles, e
o Senhor lhes mandasse o Cristo (Messias) que lhes foi designado, que era Jesus (para assumir o governo).
Pedro estava dirigindo a sua exortação aos "varões israelitas", e com isto abrangendo toda a nação de Israel. A nação, como um todo, havia rejeitado e crucificado o seu Messias. Se ela se arrependesse, seus pecados seriam cancelados, e viriam tempos de descanso pois novamente gozariam das bênçãos de Deus.
Mas isso não fizeram até hoje, e estão sofrendo as conseqüências do seu pecado. Deus sabia que isto iria acontecer, e, tendo recebido o Senhor Jesus no céu, está com Ele ali até "os tempos da restauração de todas as coisas". Sabemos que um dia a nação se converterá (durante a Grande Tribulação), e Cristo voltará para estabelecer o Seu reino, quando haverá a restauração.
Pedro mencionou a profecia de Moisés, que então se cumprirá. Jesus Cristo reinará durante o Milênio (Apocalipse 20:4), quando todas as profecias do Velho Testamento concernentes ao reino do Messias se cumprirão, e Israel será uma nação abençoada.
Suas palavras desmentem a "doutrina da substituição" segundo a qual a igreja de Cristo teria substituído Israel e recebido em transferência as bênçãos prometidas àquela nação. É uma doutrina falsa, sendo que o remanescente de Israel receberá no milênio aquelas bênçãos prometidas, não a Igreja.
A volta de Cristo para a Sua igreja não é contemplada aqui. Sabemos que Ele não virá até à terra, mas os Seus remidos, inclusive judeus convertidos até então, O encontrarão nos ares e, no milênio, reinarão com Ele. A nação de Israel, que será o remanescente, se converterá depois do arrebatamento e entrará no reino de Cristo na terra, com os gentios que se qualificarem.
1 Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona.
2 E, era carregado um homem, coxo de nascença, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmolas aos que entravam.
3 Ora, vendo ele a Pedro e João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.
4 E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
5 E ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa.
6 Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda.
7 Nisso, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se firmaram
8 e, dando ele um salto, pôs-se em pé. Começou a andar e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus.
9 Todo o povo, ao vê-lo andar e louvar a Deus,
10 reconhecia-o como o mesmo que estivera sentado a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e todos ficaram cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera.
11 Apegando-se o homem a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao pórtico chamado de Salomão.
12 Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?
13 O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo.
14 Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida;
15 e matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas.
16 E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
17 Agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades.
18 Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecer.
19 Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor,
20 e envie ele o Cristo, que já dantes vos foi indicado, Jesus,
21 ao qual convém que o céu receba até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio.
22 Pois Moisés disse: Suscitar-vos-á o Senhor vosso Deus, dentre vossos irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser.
23 E acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta, será exterminada dentre o povo.
24 E todos os profetas, desde Samuel e os que sucederam, quantos falaram, também anunciaram estes dias.
25 Vós sois os filhos dos profetas e do pacto que Deus fez com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.
26 Deus suscitou a seu Servo, e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades.
Atos capítulo 3