Introdução. Esta segunda metade do capítulo 2 continua o assunto da "Lealdade a Cristo" a qual o servo do Senhor devia manter sempre, apesar das várias dificuldades que ele encontrará. Neste trecho vemos o servo em relação à Palavra de Deus (a Escritura Sagrada) e também como um "Vaso de Honra" numa grande casa.
Palavras. Várias espécies de "palavras" (isto é conversas e doutrinas) são mencionadas neste trecho como sendo nocivas; tais conversas devem ser evitadas pelo servo do Senhor.
Palavras contenciosas (v. 14). Quantas vezes se levantam argumentos e discussões sobre assuntos religiosos, ou bíblicos, por pessoas que pouco entendem de lógica, ou dos princípios doutrinários, e que muitas vezes carecem da sinceridade ou da simples cortesia! Somente querem que prevaleça a sua própria opinião 0 resultado, quase sempre, é contenda calorosa, muitas vezes briga aberta - e nada de proveito espiritual para contestantes nem para ouvintes
Palavras profanas (v. 16). Conversas nas quais as Escrituras e as coisas divinas são tratadas desrespeitosamente, com leviandade ou descuido proposital.
Palavras enganadoras (vs. 17-18). Estas são usadas para ensinar doutrinas falsas e, assim como o câncer destrói gradualmente a carne, assim as tais palavras, se forem aceitas e seguidas, corromperão a vida espiritual do crente. Himeneu e Fileto são mencionados como pessoas que ensinavam falsa doutrina a respeito da ressurreição, dizendo que esta já se realizara quando da conversão do crente e que não haveria ressurreição do corpo (doutrina do gnosticismo). Outra referência a Himeneu se acha em 1a. Timóteo 1:20, mas de Fileto nada se sabe, além do que aqui se diz.
Palavras verdadeiras (v. 15). Eis a Escritura Sagrada, que o servo de Deus deve estudar cuidadosamente para conhecê-la bem - a sua estrutura geral, os escritores e os temas dos seus livros, as dispensações e as linhas gerais das profecias. Tudo isso é essencial - com muita oração e verdadeira humildade de espírito para que o servo possa ser um "obreiro de confiança", sabendo empregar de maneira certa essa ferramenta tão preciosa e poderosa, a Palavra da Verdade.
0 firme fundamento. Este versículo é como um parêntese entre os dois temas desta seção do capítulo: Palavras e Vasos. "Palavras" (isto é, doutrinas de várias espécies) podem confundir o crente, mas o Senhor conhece cada um dos Seus filhos - o novo nascimento em Cristo é uma verdade (João 10.14) e o caminho certo para os tais é separar-se do pecado (Isaías 52:11).
Vasos na casa. 0 servo de Deus deve esforçar-se para ser um vaso ou utensílio "de honra" na casa de Deus, que é a Igreja. Em qualquer "grande casa" há mobília, vasos e utensílios de várias qualidades e diversos tipos, cada um colocado no seu próprio lugar - cozinha, dormitório, sala de visitas, sala de jantar, quarto das crianças etc.. Cada vaso, seja feito de ouro, de prata, ou de porcelana, ou de madeira, tem o seu próprio lugar e uso.
Pratos e xícaras de ouro, por exemplo, não se colocariam na cozinha, mas na sala de jantar (na mansão de um rico, sem dúvida); cadeiras bonitas e confortáveis irão para a sala de visitas e as mais comuns servem para o quarto das crianças; e assim por diante.
Porém, mobília ou louça quebrada, um relógio que não anda (ou que não indica a hora certa), uma cama bonita, mas suja tais utensílios não dão "honra" ao seu dono. Os vasos de ouro, por exemplo, do templo de Deus em Jerusalém eram para a Sua honra porém os mesmos vasos na festa iníqua de Belsazar não lhe trouxeram honra alguma. A menina israelita na casa do grande Naamã era de pouco valor porém era um vaso de honra para ele (e para Deus) quando ela lhe indicou o meio de curar-se da lepra!
Assim, entendemos que a "honra" do vaso não consiste no seu valor intrínseco (ouro, prata, madeira), mas, sim, no seu funcionamento certo ou inútil, conforme o propósito do dono. Na Igreja de Cristo, há vários tipos de serviço e de servos, cada servo com as suas capacidades particulares e cada tipo de serviço com as suas respectivas responsabilidades. Como servos, somos de ouro (como Paulo?), ou de prata ou de madeira, conforme as nossas capacidades individuais, mas isso não é a nossa responsabilidade... Estamos cumprindo fielmente ou não o serviço que nos compete, no lugar onde o Senhor da casa nos colocou? Ali estará a "honra" ou a "desonra" que traremos ao Senhor. A Parábola dos Talentos (Mateus 25:14-30) ensina esta verdade.
a) Coisas que desonram a Deus (vs. 21-23). 0 servo que quer ser um vaso de honra para o Senhor deve evitar certos males mencionados neste trecho:
Os erros já notados nos versículos anteriores - contendas, conversas inúteis e profanas, ensinos mentirosos.
Toda espécie de injustiça.
As paixões da mocidade - impureza, impaciência, indolência, prazeres imoderados.
Questões bobas assuntos que não vale a pena discutir: perde-se tempo e irritam o espírito.
b) Coisas que honram a Deus (vs. 24-26). Eis algumas qualidades que pertencem ao servo de Deus que quer ser vaso de honra para o seu Senhor:
Ele evita a contenda e sabe instruir com paciência as coisas espirituais, sem irritar ou humilhar aos que o escutam.
Em caso de oposição, ou de conduta claramente pecaminosa, onde tem que disciplinar o culpado, isto será feito com o sincero desejo da restauração espiritual do culpado para que este não continue na escravidão de Satanás.
Nota: Com respeito ao v. 20, uma explicação comum diz que os vasos de ouro e de prata são os "vasos para honra" e que os de madeira e de barro são os "para desonra". E possível; porém a exortação do v. 21 baseia-se claramente na distinção em honra, não em material. Pois, enquanto que a purificação ou limpeza pode tornar um utensílio (qualquer que seja o seu material) mais útil e agradável ao seu dono, nenhuma limpeza tornará um vaso de madeira em vaso de ouro, ou um de barro em um de prata. Porém, um vaso de ouro ou de prata pode tornar-se sujo ou quebrado e, assim, inútil, igualmente como um de madeira ou de barro.
Ao Senhor da grande casa pertencem igualmente todos os vasos e cada um destes tem o uso próprio. Sejamos nós "vasos de ouro" (com muitos talentos) ou "vasos de madeira" (mais comumente), o nosso dever é separar-nos de tudo que e pecaminoso ou duvidoso, para que possamos ser vasos limpos. Um vaso de barro, limpo, é mais útil ao seu Dono do que um utensílio de ouro sujo e defeituoso.
14 Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes.
15 Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
16 Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade.
17 E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto;
18 os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns.
19 Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade.
20 Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra.
21 De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra.
22 Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.
23 E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas.
24 E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor;
25 instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade
26 e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos.
2 Timóteo capítulo 2:14-26