A Ceia do Senhor foi instituída "na noite em que foi traído", e enquanto comiam a páscoa. Esta realizava-se de tarde, pelo mandamento de Jeová, mas não há lei com respeito à hora em que se deve tomar a Ceia do Senhor. Em Atos 2:42 e 46, onde lemos da Ceia (o "Partir do Pão"), não se menciona hora alguma, nem de tarde nem de manhã; somente é afirmado que "partiram o pão em casa" (em vez de tomarem publicamente a Ceia no templo). Em Atos 20:7, o primeiro dia da semana fica claramente mencionado, mas é só for inferência que julgamos ser realizada de tarde a reunião.
É provável que os primeiros discípulos sempre tomavam a Ceia de tarde, não por mandamento mas por conveniência, pois o domingo não era feriado oficial como o é hoje em dia. Ao nosso ver, não há ensino nem princípio espiritual ligado com a hora em que se toma a Ceia, seja de manhã, de tarde ou de noite.
Quanto aos que insistem numa exata imitação da primeira Ceia, por que é que não a celebram na quinta-feira, o dia da sua instituição original?… O cristianismo não é semelhante ao judaísmo – um sistema religioso de "dias e meses e anos" em obediência a um horário divinamente apontado; mas é uma vida que deve ser governada por princípios espirituais, e sujeita à Palavra de Deus mas não a meras inferências e deduções.
As igrejas têm liberdade para celebrar a Ceia de manhã, de tarde ou de noite, conforme a conveniência local, mas não para reclamar superioridade espiritual por causa da hora!
Quanto à necessidade de empregar-se unicamente pão sem fermento ("pães asmos"), não há indicação nenhuma na Escritura que isso seja essencial. Os cristãos podem usá-lo se o preferem, mas não têm direito de o imporem sobre seus irmãos, é mero cerimonialismo. Os pães asmos pertenciam ao ritual da páscoa e da "Festa dos Pães Asmos", ritos judaicos que nada têm a ver com o cristianismo, senão profeticamente.
Não há nada pecaminoso no próprio fermento; na Bíblia é um tipo do pecado, mas a sua interpretação no Novo Testamento é "a maldade e a malícia" que não se devem achar em nós (1 Coríntios 5:7-8).
Para o crente em Cristo, a "Festa dos Pães Asmos" não é a Ceia do Senhor mas sim a sua vida inteira, que deve mostrar a "sinceridade e a verdade" em tudo. Em 1 Coríntios 11:23-29, onde temos a descrição apostólica da Ceia, não se fala em pão sem fermento, mas diz que devíamos examinar – não a mesa para ver se há fermento no pão ou no vinho, mas sim "examine-se o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice".
A palavra grega "azumos" (pães asmos) nunca se emprega no Novo Testamento para descrever o pão da Ceia, mas sempre a palavra "artos" (pão comum), tanto em 1 Coríntios 11:23-28 como em Mateus 26:26, Marcos 14:22 e Lucas 22:19. Os pães asmos das festas judaicas simbolizavam a vida santa; o pão da Ceia do Senhor simboliza "o corpo, que por vós é dado", e também tem referência ao Seu corpo espiritual – a Igreja (1 Coríntios 10:17); o ponto essencial é, não a sua composição material, mas que seja "um só pão".
O preocupar-se com a hora do dia ou com a natureza exata do pão e do vinho, é colocar os pareceres humanos em lugar dos mandamentos divinos, e perder a significação e o motivo da Ceia.