Sendo o homem composto de corpo, alma e espírito, teria Deus dado ao homem a habilidade de gerar filhos também compostos de corpo, alma e espírito, ou é necessária nova interveniência de Deus em cada caso?
Deus tem usado quatro métodos para criar o ser humano:
Criação direta usando matéria sem vida: “formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2:7).
Criação direta a partir de um pedaço de tecido humano vivo: “da costela que o SENHOR Deus tomou do homem formou uma mulher” (Gênesis 2:22).
Criação direta de um ovo dentro de uma mulher: “Maria … Achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1:18).
Criação indireta mediante a reprodução humana, em obediência ao Seu comando: “E disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’; … E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra…” (Gênesis 1:26-28).
Quero realçar este último versículo, pois nos diz que o ser humano, em forma de macho e fêmea, é o produto da criação direta de Deus, não descendendo ou “evoluindo” de qualquer espécie de animal; e que o primeiro casal foi abençoado por Deus e ordenado que frutificasse e se multiplicasse. Este mandamento foi repetido a Noé e seus filhos (Gênesis 9:1), sendo o casamento entre um homem e uma mulher um precedente necessário para a legitimização da sua reprodução (p.ex. Jeremias 29:6).
A reprodução natural humana é portanto suficiente para a geração de novos indivíduos iguais aos seus progenitores: não requer a interveniência de Deus. Ela obedece à lei natural que Deus estabeleceu para a multiplicação de todos os seres vivos na terra, tanto vegetais como animais (com raras exceções): dois indivíduos da mesma espécie, macho e fêmea, contribuem com elementos do seu corpo para formarem uma “semente”, que após passar por diferentes fases de desenvolvimento termina ficando igual aos seus progenitores em sua fase adulta (veja Gênesis 6:19, 7:3 e 9), com elementos de cada um. No caso do ser humano, o novo indivíduo, como os pais, tem corpo, alma e espírito: se assim não fosse, a reprodução seria incompleta.
Nosso interlocutor nos esclareceu que a sua pergunta foi motivada pelo fato que os cientistas estão avançando em seus estudos e experiências em embriologia, chegando agora a fertilizar óvulos humanos em proveta e a produzir embriões para fins medicinais, o que envolve a destruição de muitos deles. Não estariam cometendo pecado, por exemplo, de homicídio? O ovo humano seria equivalente a um ser humano?
Existem grandes diferenças entre um ovo, ou embrião, e um homem adulto. São comparáveis às que existem entre uma semente e uma árvore frutífera que lhe deu origem: uma semente tem dentro de si vida e o potencial para se desenvolver e crescer até transformar-se em uma árvore. Mas não tem todas as características de uma árvore, apenas a possibilidade de um dia chegar até lá, desde que existam as condições favoráveis a esse desfecho.
Os ovos, embriões e fetos humanos são imaturos e dependem inteiramente de sua mãe para sua nutrição e sobrevivência. Até pouco tempo atrás os fetos imaturos que eram abortados invariavelmente morriam, mas hoje a técnica avançada em alguns países permite dar alimento e respiração artificial para os que já tenham um bom grau de desenvolvimento, até que se tornem completamente independentes.
O homicídio é, por definição, a destruição da vida de um ser humano. Legalmente uma pessoa só existe e tem uma identidade como ser humano depois do seu nascimento. Na Bíblia também encontramos este princípio, por exemplo: “Disse-lhe também o Anjo do SENHOR: Eis que concebeste, e terás um filho, e chamarás o seu nome Ismael, porquanto o SENHOR ouviu a tua aflição.” (Gênesis 16:11).
Em alguns casos revelados na Bíblia, Deus tem identificado pessoas antes do seu nascimento. O caso mais famoso é de João Batista, que esteve cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe (Lucas 1:15, 41); para Rebeca o SENHOR disse que havia duas nações lutando dentro do seu ventre, prevendo a sua posteridade (Gênesis 25:23); Sansão foi feito “nazireu” de Deus antes de nascer (Juízes 13:5); Davi disse que o SENHOR o havia sustentado desde o ventre materno (Salmo 22:10); o SENHOR disse a Jeremias “Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta.” (Jeremias 1:5); Paulo disse que desde o ventre de sua mãe Deus o separou e o chamou pela Sua graça (Gálatas 1:15). Mas segundo nos consta, todos só receberam o seu nome depois de nascer.
Por estes exemplos vemos que Deus tem acompanhado a vida de pessoas antes do seu nascimento. Toda a gravidez procedente de um matrimônio, a partir da concepção, merece o maior respeito porque obedece à vontade de Deus. Algumas terminam de maneira espontânea por causas naturais, fora do controle humano, geralmente para tristeza dos seus pais. Outras são terminadas artificialmente, por motivos considerados legal e clinicamente justos em alguns países, por exemplo: grave deficiência genética, alto risco para a vida da mãe, gravidez originada por estupro. Deus saberá julgar a justiça do ato.
Não há justificativa, porém, para o aborto provocado simplesmente por ser uma gravidez não programada ou desejada, na grande maioria das vezes decorrente de imoralidade sexual, quando o ato sexual não é feito entre cônjuges. A Bíblia nos conta, por exemplo, como o povo de Israel foi livrado dos amonitas por Jefté, o filho de uma prostituta, sobre quem veio o Espírito do Senhor (Juízes 11 a 12:7).
Quanto aos bebês especialmente gerados em laboratório a fim de dar saúde a crianças ameaçadas de morte por doenças congênitas, o fim parece ser nobre. Mas a fecundação de um óvulo feita artificialmente foge ao sistema introduzido por Deus, e traz grandes problemas.
Um deles é o fato que nem sempre são usadas as próprias células de dois cônjuges, resultando efetivamente em filhos bastardos, fora do casamento, com pais naturais desconhecidos; outra é a geração de ovos e embriões excedentes que acabam sendo destruídos por não atenderem aos requisitos de uma pesquisa ou de um processo medicinal como esse.
Sem entrar mais a fundo na ciência da genética, parece-me que o homem está perigosamente interferindo no âmago da reprodução humana. Seria esta a vontade de Deus? O homem foi criado perfeito, as imperfeições genéticas decorrem da degeneração humana que lhe veio com o pecado. O homem procura corrigi-las manipulando células vivas, em desacordo com as leis naturais que Deus estabeleceu. As conseqüências poderão ser ainda mais graves do que as que vemos hoje.