Durante o Seu ministério neste mundo, o Senhor Jesus ensinou o povo israelita sobre a justiça de Deus, que Ele viera cumprir na terra (Mateus 3:15). Ela traz bem-aventurança aos que a procuram (Mateus 5:6), e Deus proverá todas as necessidades dos que a procuram junto com o Seu reino (Mateus 6:33). O reino de Deus é dos que são perseguidos por causa da justiça (Mateus 5:10). Aos fariseus, que se diziam muito religiosos, Ele declarou que as coisas mais importantes na lei de Moisés são a justiça, a misericórdia e a fé (Mateus 23:23). A misericórdia é sinônima de “amor de Deus” como se vê na passagem paralela a esta em Lucas 11:42.
Quando indagado por um doutor da lei sobre qual é o maior dos mandamentos da lei, o Senhor Jesus respondeu que é “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Deuteronômio 6:5) acrescentando ainda “e de todo o teu entendimento” (Mateus 22:37), e continuou citando outro que declarou ser semelhante a esse “... amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19:18). Terminou dizendo que “destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mateus 22:40). “O amor é o cumprimento da lei” (Romanos 13:10).
Aos Seus discípulos, porém, Jesus Cristo deu um novo mandamento: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros.” (João 13:34). Este mandamento é “novo” porque tem uma nova dimensão “assim como eu vos amei a vós”. É o amor inseparável.
Esta é uma pergunta que, de pronto, nos convida à resposta: Ninguém (Romanos 8:35-39).
Cristo, o Filho de Deus, manifestou Seu amor pelo mundo pecador enquanto esteve vivendo entre nós aqui no mundo. Os Evangelhos nos contam sobejamente como Ele revelou esta característica divina em Seu trato com pessoas de todas as classes sociais, de boa ou má reputação, amigos e inimigos, dispondo-se a perdoar os seus pecados sem exigir nada em troca, às vezes até mesmo espontaneamente, para a surpresa dos que isso testemunhavam. Sua vida e a sua morte no madeiro no monte do Calvário foram a revelação do amor divino pelo mundo pecador (João 3:16).
Paulo exclamou: “Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Romanos 5:8) e “Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal” (1 Timóteo 1:15). Percebemos aqui que Paulo não cessa de se admirar do alcance do amor de Deus para os que nada merecem da Sua parte.
O amor faz parte do caráter de Deus: Ele não só “é o Deus de amor” mas em Sua essência “é amor” (2 Coríntios 13:11 e 1 João 4:8). Na história da humanidade, Deus manifestou o seu amor a esta parte da Sua criação em várias oportunidades, entre as quais se destacam a Sua consideração por Adão e Eva depois que estes O desobedeceram, a preservação de Noé, a sua família e exemplares da criação através de um dilúvio de extensão mundial, e a conservação do povo de Israel apesar da sua rebeldia e idolatria.
Deus fez com que um dos seus profetas, quase três mil anos atrás, ilustrasse em sua própria vida o divino amor, compaixão e lealdade inseparável para com o povo de Israel, que lhe tem sido infiel na maior parte da sua história: obedecendo ao mandado de Deus, Oseias se casou com uma mulher chamada Gomer, teve dela dois filhos e uma filha, a quem deu nomes simbólicos. Gomer em seguida abandonou seu marido Oseias para entregar-se à devassidão. Contudo Oseias continuou a amá-la e finalmente conseguiu comprá-la da escravidão para restaurá-la ao lar como sua esposa novamente.
Oseias figurou a extensão e a profundidade do amor de Deus, ao passar pelas agruras da traição e contemplar o horrível desmoronamento espiritual, moral e físico da sua esposa, sofrendo mais ainda porque continuava a amá-la. Sua profecia é lembrada no Novo Testamento, pois previu a volta de Jesus do Egito quando menino, a salvação disponibilizada aos gentios e a grande tribulação ainda futura que virá sobre Israel (veja Mateus 2.15 e 9.13; Lucas 23.30; Romanos 9.25-26; Apocalipse 6.16).Mas Deus ainda tem um futuro glorioso para esse povo, quando todo o seu remanescente se salvará e terá um lugar relevante no reino milenar de Cristo, assim cumprindo todo o teor da profecia (Ezequiel 11:17-21, Romanos 9:27).
A maior manifestação do amor de Deus para a humanidade foi quando enviou o seu Filho ao mundo para assumir nossa humanidade, e de se humilhar à condição de servo a fim de dar a sua vida humana na mais cruel das mortes. Assim foi satisfeita a justiça de Deus, permitindo que, mediante o arrependimento e conversão, até o mais vil dos homens seja salvo da perdição eterna à qual estamos todos condenados por causa do nosso pecado herdado e praticado.
O amor de Deus é descrito em Sua Palavra como sendo:
Soberano, pois Ele é quem decide a quem deve amar e a ninguém precisa responder pela Sua decisão (Deuteronômio 7:8, 10:15). Para a nossa felicidade Ele nos amou (João 3:16).
Imenso, pois estando nós ainda mortos em nossos delitos, Ele pela Sua graça nos vivificou e nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus (Efésios 2:5 a 7).
Constante, está em nosso meio para nos salvar (Sofonias 3:17).
Atento, nunca nos esquecendo (Isaías 49:14,15).
Inalienável, pois nada nos pode separar dele (Romanos 8:39).
Constrangedor, atraindo-nos com laços de amor (Oseias 1:4).
Eterno e benigno (Jeremias 31:3).
Assim como irmãos naturais nem sempre se dão bem, às vezes brigam entre si, e não raro se tornam inimigos irreconciliáveis, também acontece que não poucos crentes se deixam levar por sentimentos reprováveis como egoismo, inveja, e outros, e em consequência tratam mal e se afastam dos seus irmãos.
Para sermos “imitadores de Deus, como filhos amados” (Efésios 5:1) devemos continuar amando os irmãos de maneira inseparável, constantemente dispostos a perdoar (lembremos a parábola do credor incompassivo – Mateus 18:27 a 35), não permitindo que algo se interponha. Temos uma linda descrição deste amor em 1 Coríntios 13, que todo crente deve memorizar e praticar em sua vida.
Amar assim os irmãos é evidência “que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1 João 3:14).
São palavras do Senhor Jesus, e este é o amor de Deus: assim como o amor de Deus abrange a todos, provamos que realmente somos filhos de Deus ao amar e fazer o bem a todos, mesmo aos nossos inimigos.
É fácil fazer o bem em reciprocidade ao bem recebido, mas não é natural retribuir o mal com o bem. Este é um comportamento estranho, que contraria os impulsos naturais: muitos dirão ser covardia, falta de caráter, “levar desaforo para casa”, etc. Somente o nosso desejo de obedecer à vontade divina, reforçado com o poder do Espírito Santo em nós, é que pode vencer o desejo da carne e os preconceitos do mundo.
A lei dava uma medida de justiça apenas: mas devemos ir além dela e ser perfeitos assim como é perfeito o nosso Pai nos céus. Esta perfeição é produto da maturidade espiritual que permite ao crente imitar a Deus, abençoando a todos sem imparcialidade, amando seus inimigos, orando pelos que o perseguem, falando bem daqueles que o maldizem, etc. (Mateus 5:44-48, ver também Lucas 6:27-35). Este é o caminho do amadurecimento espiritual. É o amor inseparável, divino, manifestado por nós ao mundo incrédulo.