Antioquia do Orontes (havia outras) foi uma cidade antiga situada no lado oriental do rio Orontes, fundada perto do fim do 4º século a.C. por Seleuco I Nicator, um general macedônio de Alexandre Magno. A localização privilegiada de Antioquia beneficiava os seus habitantes, chegando a rivalizar Alexandria como a principal cidade do oriente próximo e era o principal centro do judaísmo helênico por ocasião do período final do segundo templo de Jerusalém.
O general Seleuco I Nicator deu guarida a muitos judeus na cidade e lhes concedeu direitos civis iguais aos dos gregos, sendo que, séculos mais tarde quando lemos sobre ela na Bíblia, sua população se compunha principalmente de sírios, gregos, judeus e romanos. O idioma usado era o grego, por isso os judeus que lá moravam eram chamados “helenistas”, e assim são chamados na Bíblia. O Velho Testamento, traduzido para o grego durante o terceiro e segundo século antes de Cristo em Alexandria, era usado pelos judeus em suas sinagogas em Antioquia.
Em 64 a.C. Antioquia foi anexada a Roma por Pompeu, que lhe concedeu privilégios consideráveis e fez dela a capital da província romana chamada Síria. Sua importância e esplendor lhe ganharam o nome de “Rainha do Oriente”, a terceira cidade em importância do império romano, depois de Roma e Alexandria.
Damos a seguir um breve relato de como o Evangelho chegou a Antioquia durante a perseguição que se seguiu à morte de Estêvão, aproximadamente em 33 a.D. (Atos 8:1), e do crescimento notável desta igreja pioneira entre os gentios.
Entre os crentes de Jerusalém que foram dispersos por causa de Estêvão, havia alguns que foram até a Antioquia levando o Evangelho para os judeus apenas (Atos 11:19), enquanto outros procedentes de Chipre e Cirene pregaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus em seu próprio idioma.
Assim, tanto judeus como gentios ouviram o Evangelho, e como a mão do Senhor era com eles, grande número creu e se converteu ao Senhor. Quando a igreja em Jerusalém soube disso, enviaram Barnabé até lá, um "homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé": ótimas credenciais para um missionário.
Recomendamos a leitura do excelente artigo sobre Barnabé do saudoso irmão Kenneth Jones: “Barnabé, o filho da consolação", publicado pelo Boletim dos Obreiros anos atrás e encontrado na internet AQUI. Desse artigo extraímos o seguinte comentário:
“BARNABÉ foi escolhido para uma missão à igreja em Antioquia (Atos 11:22). A igreja não podia ter escolhido alguém melhor. Mesmo sendo levita e a igreja em Jerusalém só pregava aos judeus, ele amava todas as raças. A sua paixão era unir os irmãos e se alegrar pelo progresso do Evangelho e o desenvolvimento no ministério. Ele possuía as três qualidades essenciais para o serviço de Deus. “Porque era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor” (Atos 11:24). “Era homem bom”: a bondade é a atitude cristã para com o homem. Barnabé não prejudicava ninguém, mas somente fazia o bem. “Cheio do Espírito Santo”: significa que ele estava sob o controle do Espírito Santo. Não havia nada na sua vida para impedir a atuação do Espírito Santo e a sua atitude para com Deus. “Cheio de fé”: a fé é a atitude para com a Palavra de Deus. Lucas descreve a chegada de Barnabé à igreja em Antioquia: “Tendo ele chegado e vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração permanecessem no Senhor” (Atos 11:23). Tudo foi melhor do que ele esperava. Ele viu gregos, judeus e povos de outras raças, todos unidos formando uma igreja, cumprindo a ordem de Cristo de pregar o Evangelho a todos os povos. Portanto, o que mais alegrou Barnabé foi a graça de Deus manifestada na igreja. “Tendo ele chegado e vendo a graça de Deus, alegrou-se” (Atos 11:23). Ele viu a graça de Deus em ação pela transformação de vidas pelo Evangelho, fazendo a reconciliação do pagão com Deus e a comunhão não somente com Deus, mas também uns com os outros”.
É bom quando uma igreja nova é visitada por homens com as qualidades espirituais de Barnabé. Enquanto ele permaneceu ali, muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor, e foi preservada a unidade espiritual com a igreja de Jerusalém.
A igreja de Antioquia passou a contar também com o ensino de Saulo, que Barnabé foi buscar em Tarso. Essa era a cidade de Saulo, que lhe dava a cidadania romana, e estava dentro da província de Cilícia, onde ele testemunhava do Evangelho (Gálatas 1:21).
Barnabé sabia que Saulo havia sido escolhido pelo Senhor Jesus para ser o Seu apóstolo entre os gentios (Atos 9:15, Romanos 1:1, Gálatas 1:1)), e também conhecia a sua capacidade para ensinar, e se empenhou para encontrá-lo e trazê-lo a Antioquia. Os dois ficaram ali por um ano, ensinando a muitos. Calcula-se que foi o ano 44 a.D.
Foi ali que os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos, significando “seguidores de Cristo”. O nome foi usado com desprezo pelo rei Agripa anos mais tarde (Atos 26:28) e como epiteto vergonhoso, objeto de perseguições do governo romano (1 Pedro 4:16), só aparecendo nesses três lugares na Bíblia. O nome Cristo refere-se ao Messias esperado pelos judeus, por isso os judeus incrédulos não os chamavam de “cristãos” ou “messiânicos”, mas de “nazarenos”, pois não criam que o Senhor Jesus fosse realmente o Messias.
Vieram também profetas de Jerusalém para Antioquia. Eram homens dotados pelo Espírito Santo com o dom de profecia, para exortar e fortalecer as igrejas antes delas disporem dos livros do Novo Testamento. Como Judas e Silas (Atos 14:4 e 15:32), ajudavam os apóstolos.
Um destes profetas, chamado Ágabo, previu que haveria “uma grande fome por todo o mundo” – “mundo” foi uma expressão coloquial para significar o Oriente Médio, onde viviam. A história registra escassez de alimentos nessa região durante o reinado do imperador Cláudio (41-44 a.D.), que precedeu Nero, assim cumprindo a profecia feita por Ágabo.
Os irmãos da igreja de Antioquia, aqui chamados “discípulos”, fizeram uma coleta entre si, cada um dando conforme as suas posses, e enviaram uma contribuição para os irmãos que habitavam na Judeia. A contribuição foi mandada aos anciãos por mão de Barnabé e Saulo.
Este é um modelo de como fazer as contribuições nas igrejas: cada um dando conforme as suas posses, em mãos de dois tesoureiros, para distribuição pelos anciãos da igreja (note-se a pluralidade nos dois casos). Nunca se lê na Bíblia sobre uma contribuição mediante “dízimos” nas igrejas cristãs. A contribuição é feita pelos irmãos, voluntariamente, conforme a sua prosperidade.
É a primeira vez que a palavra “ancião” é usada para os que estão na direção da igreja. “Ancião” era um título usado no Velho Testamento para designar pessoas idosas a quem era dada autoridade no governo devido à sua longa experiência e reconhecida capacidade. Vemos muitas referências aos “anciãos” dos judeus no Novo Testamento, cujas tradições orientavam o povo, e que juntamente com os principais sacerdotes e escribas foram responsáveis pela captura, condenação e morte de Jesus Cristo.
De certa forma, a direção e a condução das primeiras igrejas se assemelhavam às das sinagogas, e os supervisores (“presbíteros” ou “bispos”, transliterações do grego “presbyteros” e “epískopos”) tinham autoridade e funções equivalentes às dos “anciãos” na sinagoga. Os supervisores das igrejas são chamados de “anciãos” na Bíblia pela primeira vez nesta ocasião (Atos 11:30). Paulo e Barnabé promoveram a eleição de “anciãos” em cada igreja de Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia (Atos 14:23) e essa é a palavra mais usada no Novo Testamento para os supervisores das igrejas.
A introdução do Evangelho em Antioquia foi um passo importante no seu avanço pelo mundo, e foi dali que mais tarde Paulo e os seus companheiros saíram para as suas viagens missionárias, espalhando o Evangelho e reunindo congregações dos que criam para formar igrejas, depois voltando para relatar as suas experiências nas viagens e seus resultados.
Por causa da sua longevidade e do papel fundamental que desempenhou tanto no surgimento do período helenístico do judaísmo como no início do cristianismo, Antioquia foi chamada de "berço do Cristianismo." Chegou a ser uma metrópole de meio milhão de pessoas, mas durante a Idade Média sofreu um grande declínio por causa de guerras, terremotos e das mudanças de rota de comércio, e reduziu-se a ruínas, encontradas próximas da cidade moderna de Antáquia, na Turquia.