"Ai deles! Porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Corá."
(Judas, 11)
No capítulo 16 de Números lemos a respeito da contradição, ou rebelião, promovida por um levita, Corá. Bisneto de Levi, ele sem dúvida tinha muita influência e autoridade, pois conseguiu reunir atrás de si duzentos e cinqüenta homens de renome, líderes do povo.
Inflado pela sua posição, Corá promoveu uma demonstração de força diante de Moisés e Arão a fim de arrancar-lhes a autoridade, exclamando que Moisés e Arão se exaltavam indevidamente sobre o povo, onde todos deviam ser iguais. Com seus comparsas, Datã e Abirão, ele instigou o povo à revolta, alegando ainda que Moisés e Arão haviam feito Israel subir de “uma terra que mana leite e mel” (o Egito) para fazê-los morrer no deserto e ainda por cima queriam fazer-se príncipes entre eles!
Tudo era mentira, sem qualquer fundamento. Moisés não havia assumido a liderança por vontade própria, tendo relutado muito antes de aceitar a missão que o Senhor lhe confiara, e Arão foi também nomeado pelo Senhor porque Moisés queria alguém que o ajudasse. O povo já teria entrado na terra de Canaã não fosse a sua incredulidade. Se tivessem seguido ao mando de Moisés, eles já estariam desfrutando da verdadeira terra que “mana leite e mel”, que não era o Egito onde eram escravizados.
Moisés nada queria para si, ao contrário de Corá, que provocou esta rebelião por inveja. O Senhor havia definido a posição e o ministério de cada um, inclusive o de Corá, um coatita (Êxodo 6:16,18; Números 3:17,28,29,31; 4:36; 26:57,62).
Moisés, em sua mansidão, não retrucou com invectivas nem procurou defender sua posição. Com toda humildade ele propôs deixar para que o Senhor indicasse quem era o santo da Sua escolha, ou seja, o homem que Deus havia separado para Si para esse fim. É Deus quem faz a escolha e dá competência aos Seus servos para o desempenho de serviços específicos. Moisés sabia o que os havia motivado - embora já tendo um cargo importante no Tabernáculo, eles queriam a liderança exercendo o sacerdócio. Moisés os repreendeu por isso e lembrou-os que estavam agindo contra o Senhor.
Datã e Abirão não quiseram cooperar neste teste e fizeram acusações maliciosas contra Moisés e Arão. Moisés desta vez irou-se com tamanha injustiça e declarou diante de Deus a sua inocência.
O juízo do Senhor veio, severo e rápido. Não fosse pela intercessão de Moisés e Arão, Ele teria consumido a congregação toda. Os rebeldes principais, Corá, Datã e Abirão foram castigados de maneira notável, seus propósitos eram de separar o povo, o Senhor os separou do povo e depois separou o solo debaixo deles para que fossem tragados, com as suas famílias e os seus bens. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6:7).
É abominável para um homem ou um grupo revoltar-se contra a ordem que Deus estabeleceu, e introduzir algo para dividir o Seu povo. O caminho para a rebeldia começa com a falta de contentamento e, do ceticismo gerado, passa para as reclamações contra as circunstâncias e contra aquilo que Deus tem estabelecido, depois adquire amargura e ressentimento, seguidos finalmente por rebelião e hostilidade. Vigiemos se estivermos descontentes, céticos, inclinados a reclamar ou a ficar ressentidos, estas atitudes nos levarão à rebeldia contra Deus e as conseqüências serão sérias para nós, como foi para aquele povo.
Quando irmãos na fé se reúnem em nome de Cristo numa localidade, regularmente, aceitando o senhorio do Senhor Jesus e reconhecendo o controle do Espírito Santo, submetendo-se incondicionalmente à autoridade única e exclusiva da Palavra de Deus contida na Bíblia, forma-se uma igreja de Deus.
Suas funções principais são adoração, louvor, ações de graça, Ceia do Senhor, orações, súplicas, intercessões, comunicação e ministério (Hebreus 13:15-16, 1 Timóteo 2:1-2; Atos 20:7). Não temos ensino ou exemplo na Bíblia que aprove alguma interferência ou jurisdição sobre a igreja por parte de outra, muito menos ainda por parte de uma pessoa ou grupo de pessoas que a ela não pertença. Embora não muito distantes entre si, as sete igrejas do Apocalipse eram muito diferentes, no entanto o Senhor não instruiu que houvesse interferência entre elas, ou que alguma fosse “excomungada” pelas outras por causa do seu estado.
Sempre que uma igreja se forma com esta base, Deus lhe concede dons espirituais suficientes para a edificação dos seus membros, que incluem aqueles necessários para a sua liderança e administração (1 Coríntios 12). Os líderes responsáveis pela direção da igreja, conhecidos como anciãos, presbíteros ou bispos, são chamados a esse trabalho pelo Senhor, nunca são eleitos pelo rebanho (1 Coríntios 12:6,11). A igreja não é regida democraticamente, mas é o Espírito Santo que liga os seus membros, para que cada um faça a sua parte conforme lhe é concedido.
O novo nascimento deve ser a experiência de todo o crente que é membro da igreja, mas a condição espiritual, sabedoria e habilidade de cada um varia muito. Os líderes da igreja aprovados por Deus serão reconhecidos pela sua maturidade espiritual, sua sabedoria no ensino e no pastoreio, e na sua dedicação ao trabalho. As qualidades básicas são encontradas nas cartas de Paulo a Timóteo e a Tito (1 Timóteo 3:1-8 e Tito 1:5-20). A integridade de caráter é essencial.
Referindo-se ao sumo sacerdote, a Bíblia diz: “Ninguém toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão” (Hebreus 5:4). Assim também os servos de Deus são escolhidos por Ele, e nunca devemos procurar impor nossa vontade sem a Sua autoridade. O Novo Testamento nos ensina a reconhecer os dons de ministério (1 Coríntios 12:4-31; Efésios 4:8,11,12), os supervisores (anciãos, presbíteros, bispos) e os servos (diáconos) (1 Timóteo 3:1-13; Tito 1:5-9).
Ainda hoje, vemos igrejas sendo perturbadas pela inveja e ambição de alguns dos seus membros, que vaidosamente querem uma posição destacada, sem reconhecer que Deus não os quer lá, pois lhes faltam caráter e os dons ou talentos necessários. Isto resulta em rebelião contra sua liderança e mesmo na divisão da igreja, estilo Corá. Somos instruídos a nos revestir de humildade e mansidão (Colossenses 3:12), pois toda a autoridade na igreja vem de Deus.
É da responsabilidade dos membros da igreja para com seus bispos: orar por eles, reconhecer os seus trabalhos, obedecê-los, estimá-los, honrá-los, apoiá-los financeiramente e confiar neles. Assim como não compete à congregação eleger seus presbíteros, também não pode destituí-los da sua posição mediante uma votação. Pela sua atuação o presbítero prestará contas a Deus (Hebreus 13:17), não ao rebanho. Nenhuma acusação contra presbítero deverá ser aceita se não houver duas ou três testemunhas (1 Timóteo 5:19).
Cuidemos para não perecermos na rebelião de Corá!