Um obreiro é aquele que executa uma obra. Obra, por sua vez, é o conjunto das ações realizadas por alguém, alguma coisa ou um fenômeno (natural, social, psicológico) tendo em vista um certo resultado.
Transpondo esse vocábulo para a área espiritual, entendemos que um “obreiro” é todo aquele que executa a obra de Deus aqui na Terra. Todos os que recebem Jesus Cristo como o Senhor de suas vidas se submetem à situação de servos. Os servos obedecem ao desejo do seu Senhor, agindo para desempenhar o que lhes é designado, logo todos são “obreiros”.
Ao final do “sermão do monte das Oliveiras”, dois dias antes da Sua crucificação, o Senhor Jesus contou uma parábola que, embora contada no contexto dos dias finais antes da Sua segunda vinda e da seleção dos que vão participar do Seu reino milenar, bem ilustra o obreiro cristão. É a “Parábola dos Talentos” encontrada em Mateus 25:14 a 28, em que um senhor, que partia em viagem, distribuiu dinheiro a três dos seus servos em valores diferentes proporcionais à sua capacidade individual, a fim de que negociassem e produzissem lucro para ele.
O Senhor Jesus está atualmente ausente, e também distribui responsabilidades correspondentes à capacidade de cada um dos Seus obreiros. É comum confundir os “talentos”, medida de moeda usada na parábola, com as qualidades naturais ou adquiridas (como habilidades físicas e mentais) que costumamos chamar de “talentos”. Estas qualidades constituem a “capacidade” e é em função dela que são distribuídas as responsabilidades, os “talentos” da parábola.
Quando voltou da viagem o senhor da parábola acertou contas com os seus servos, e verificou que os dois que haviam recebido mais responsabilidade haviam trabalhado bem e obtido bom resultado, proporcional à responsabilidade neles investida. Efetivamente demonstraram ser verdadeiros “servos” porque fizeram o que o seu senhor lhes ordenara e obtiveram sucesso.
Um dia os obreiros do Senhor Jesus haverão de prestar contas a Ele pela maneira em que executaram as tarefas confiadas à sua responsabilidade. Terão se aplicado em Sua obra, nas oportunidades que se lhes ofereceram, com amor e dedicação, tendo assim algo de positivo para apresentar? Quanto mais tiverem se envolvido no trabalho do Senhor, mais responsabilidades lhes terão sido confiadas: “a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância...”. Os que assim trabalharam serão honrados com a aprovação do Senhor, e recompensados com a sua nomeação para algo mais importante: “Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mateus 25:23).
Na parábola há uma séria advertência aos falsos obreiros, que são como o terceiro servo da parábola que nada fez além de enterrar o que tinha recebido. Ele provou que na verdade não amava o seu senhor, pois nada fez em seu benefício e ainda o insultou quando veio prestar contas. Se, ao menos, tivesse entregue seu dinheiro aos banqueiros para que rendesse juros, ainda teria sido aprovado.
O servo mau e negligente da parábola simboliza os que apenas se apresentam como sendo de Cristo, mas na realidade nunca se converteram, na realidade não O amam e nada querem fazer por Ele, até mesmo se ressentem contra Ele. Serão severamente repreendidos pelo Senhor como servos inúteis e condenados ao inferno.
Se um obreiro realmente ama ao Senhor e se acha incapaz de tomar uma responsabilidade, pelo menos tem a oportunidade de dar o seu apoio aos que trabalham. Esse apoio pode tomar diversas formas de ordem material e espiritual, seja como contribuição financeira, encorajamento, auxílio no ensinamento, evangelização, ou outras.
A obra do Senhor às vezes parece desapontadora. O obreiro se afadiga e vê pouco resultado, às vezes mesmo nenhum. Como ele gostaria de ver almas se chegando para ouvir o Evangelho, e recebendo de bom grado as boas novas de salvação! Mas o interesse é pouco, o inimigo parece prevalecer, e a tentação de desistir é grande. Mas o Senhor promete, nas palavras de Paulo: “Meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1 Coríntios 15:58). O nosso trabalho para o Senhor, seja ele qual for, nunca será em vão se for feito segundo a vontade d’Ele. O resultado será positivo, mesmo quando não podemos vê-lo diante de nós.
Deus nunca Se esquece do nosso trabalho, e do amor que demonstramos para com o Seu nome, em qualquer coisa que façamos para Ele, e para o bem-estar dos demais obreiros, ou santos: “Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis” (Hebreus 6:10). Toda e qualquer coisa que façamos para o bem da obra de Cristo, como contribuições financeiras, sacrifícios de oração, dedicação de tempo para encorajamento, conforto e admoestação, hospedagem, e muito mais - tudo ficará gravado na infalível memória de Deus. Tudo é serviço prestado para revelar o nosso amor e dedicação ao nome de Deus, e do Seu Amado Filho, e nunca é inútil.
Haverá recompensa para cada obreiro em proporção ao seu próprio trabalho: “Nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho” (1 Coríntios 3:7-8). Plantar e regar são funções diferentes num jardim, e Paulo aqui afirma que nem ele, que pregou o Evangelho, nem Apolo que ensinou os novos convertidos, são importantes por si próprios, pois é Deus que dá o crescimento. Os dois são uma unidade, pois sem plantar nada brota, e sem regar nada sobrevive. Cada obreiro faz a sua parte e receberá o galardão segundo o que o seu trabalho merece. Isso se aplica a todo o trabalho na obra de Cristo, onde há muitos obreiros, cada um fazendo a sua parte.
Em lugar nenhum encontramos o ensinamento que um obreiro receberá galardão em função do trabalho de outro, por exemplo, um irmão que ora, e contribui financeiramente para o trabalho de outro irmão envolvido diretamente em uma obra missionária não é responsável nem receberá galardão segundo o que o trabalho do outro merece. Cada um é um obreiro, servo do Senhor, e seu galardão tem a ver exclusivamente com o seu próprio serviço, como vimos acima.
Certos obreiros, no desejo de dedicar o seu tempo integral para a obra de Deus, abrem mão do trabalho secular e respectiva remuneração. Seu sustento deveria vir, em primeiro lugar, dos que são beneficiados pelo seu ministério (1 Coríntios 9:14). Mas muitos não usam desse direito, seguindo o exemplo de Paulo, a fim de apresentar o Evangelho gratuitamente, passando a depender inteiramente da provisão de Deus. Às vezes, como Paulo, encontram trabalho remunerado em sua área de trabalho, outras vezes contam com a contribuição daqueles do povo de Deus que têm os recursos disponíveis e são movidos a desta forma cooperar com seus irmãos “na vanguarda”, que é um privilégio do cristão (2 Coríntios 8:7).
Em suma, são todos co-participantes do trabalho de Deus, todos os seus recursos para a obra são provenientes de Cristo, e é Deus Quem dá o crescimento. Serão julgados pessoalmente pela maneira em que empregaram seus recursos nas responsabilidades que lhe foram confiadas. Se tiverem colaborado com outros obreiros, o julgamento ainda assim terá por base o valor da sua própria contribuição apenas, não envolvendo também a parte que for da responsabilidade dos outros.