Estas “mesas” mencionadas na Bíblia são figuras de linguagem (metonímia), onde o recipiente é utilizado para designar o conteúdo. Existem três destas "mesas" mencionadas nas Escrituras, sendo elas a de Israel, a do Senhor e a dos demônios. Vejamos brevemente cada uma delas.
Estes são os privilégios conferidos divinamente a esse povo terreno de Deus. Davi menciona essa mesa no Salmo 23: “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos...” (Salmo 23:5). O Senhor aqui é visto sob o aspecto de um Pastor revelando o Seu amor e cuidado pelo Seu povo. Davi tinha sido pastor de ovelhas e compreendia bem as necessidades das ovelhas bem como as responsabilidades do pastor. Neste salmo ele se compara a uma ovelha, que é um animal fraco, incapaz de defender-se e tolo, tendo Deus como o seu Supridor, Defensor, Guia, enfim tudo que precisa para o seu bem-estar. Este salmo também retrata profeticamente o Senhor Jesus como Bom Pastor (João 10:11,14), que cuida do Seu rebanho tendo dado a Sua vida por ele.
O povo de Israel estava cercado de inimigos no tempo de Davi. Davi pessoalmente enfrentou e liderou muitas batalhas, confiado em Deus, e este salmo é o seu testemunho do cuidado, segurança, e generosidade de Deus. A Sua mesa estava farta de bênçãos para o Seu povo, livrando-o dos inimigos que o ameaçava. Ao morrer Davi, o seu filho Salomão teve o privilégio de reinar sobre Israel quando essa nação gozou de paz e chegou ao ápice da prosperidade, fruto da piedade do seu pai.
Lamentavelmente Salomão eventualmente permitiu a entrada da idolatria entre o povo. Ao morrer Salomão, a nação se partiu em duas, a idolatria prevaleceu e elas se afastaram de Deus, o seu Pastor. Lemos em Ezequiel 34:5 que “Assim se espalharam, por não haver pastor; e tornaram-se pasto a todas as feras do campo, porquanto se espalharam” (Ezequiel 34:5). Devido à dureza dos seus corações a sua mesa tornou-se "em laço, e em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas. " (Romanos 11:9,10 ref. Salmos 34:8 e 28:4). Essa é a situação do povo de Israel desde os tempos apostólicos até hoje, embora individualmente muitos deles tenham se arrependido e voltado a Deus, e mesmo recebido Jesus Cristo como Salvador e Senhor e assim participado da “mesa do Senhor” descrita abaixo.
Mas Deus prometeu a Israel: “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas. Livrá-las-ei de todos os lugares por onde foram espalhadas, no dia de nuvens e de escuridão.” (Ezequiel 34:12). Este dia é mencionado por outros profetas dando-lhe este e outros nomes, entre eles o “Dia do Senhor” (Amós 5:18, Joel 2:1, Sofonias 1:14, 1 Tessalonicenses 5:2, etc.). Haverá uma grande tribulação para a terra e especialmente para os judeus, mas o remanescente dos judeus se converterá a Cristo e será salvo
A “mesa de Israel” será então restabelecida na terra, e esse remanescente, salvo dos seus inimigos, voltará à terra que antigamente o Senhor prometeu aos seus patriarcas (Sofonias 3:20, Romanos 11:25-27, etc.), para participar do reino milenar mundial de Cristo. Seu piedoso rei Davi, ressuscitado, reinará sobre a nação em cumprimento da profecia: “E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. Também meu servo Davi reinará sobre eles, e todos eles terão um pastor só; andarão nos meus juízos, e guardarão os meus estatutos, e os observarão” (Ezequiel 34:23 e 37:24).
Os apóstolos de Jesus Cristo, também ressuscitados, julgarão as suas tribos (Mateus 19:28, Lucas 22:30).
As expressões "mesa do Senhor" e "ceia do Senhor" são encontradas no Novo Testamento apenas em I Coríntios 10:21 e 11:27, respectivamente. As palavras “mesa” e “ceia” não são intercambiáveis: enquanto "ceia" tem um significado literal, "mesa" denota metaforicamente tudo que o Senhor fornece ao crente, inclusive o privilégio de participar da "ceia do Senhor".
Os detalhes sobre a participação da “ceia do Senhor” são dados em 1 Coríntios 11:17-34, e portanto menciona os símbolos na ordem em que devem ser tomados, isto é, primeiro o pão e depois o cálice. É de se notar que nunca se menciona o conteúdo físico do cálice nas Escrituras, mas, seja o que for, o seu conteúdo é símbolo do “sangue” de Cristo. Devemos lembrar que “sangue” aqui não é apenas a substância, mas metaforicamente é a morte de Cristo na qual derramou o Seu sangue em sacrifício, e é assim que é referido na Bíblia. O uso de vinho como a substância é tradicional, e em algumas igrejas exclusivo, mas não tem base no ensino bíblico.
Em 1 Coríntios 10:21, dos símbolos na ceia do Senhor é primeiro mencionado o “cálice” e depois o “pão”, pois a morte de Cristo (o sacrifício), foi que originou os privilégios e responsabilidades (o pão), desfrutados pelos que por meio dele foram remidos.
A “mesa do Senhor”, foi prevista em figura no Velho Testamento em passagens como Deuteronômio 12:27: "oferecerás os teus holocaustos, a carne e o sangue sobre o altar do Senhor teu Deus; e o sangue dos teus sacrifícios se derramará sobre o altar do Senhor teu Deus, porém a carne comerás." Assim como o altar dos holocaustos fornecia alimento a Israel, o sacrifício de Cristo na Cruz foi o meio de fornecer-nos a vida nova e o sustento divino, contidos na “mesa do Senhor” (1 Coríntios 10:17-18). Tanto o corpo de Cristo como a unidade espiritual dos membros da Sua igreja (o Seu corpo espiritual) são representados pelo pão que é comido na “ceia do Senhor”.
Em seu sentido mais lato, o crente está permanentemente presente à “mesa do Senhor”. Foi o sangue de Cristo que cumpriu com a justiça divina, e ao mesmo tempo manifestou o amor de Deus. Dele resultou nossa reconciliação com Deus e a comunhão com outros igualmente redimidos por esse sangue. Essa comunhão é expressa no pão do qual todos comem, “Pois nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo; porque todos participamos de um mesmo pão” (v.17).
Enquanto a “ceia” é o início da “mesa”, esta tem provisão para responsabilidades para serem exercidas e privilégios a serem desfrutados constantemente, não só na ocasião da realização da “ceia”. São muito numerosas as bênçãos disponíveis para o crente, e não vamos enumerá-las aqui. Como exclamou o apóstolo Paulo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo” (Efésios 1:3).
Para desfrutar melhor dessa provisão divina, o crente deve abster-se de qualquer coisa ou comportamento que não seja consistente com a mesa do Senhor: ele não pode participar deles e também desta mesa. Há uma comunhão para se manter, e cada um deve procurar o bem alheio e não o próprio, evitando assim que o outro venha a tropeçar. Tudo o que fizer, deve ser para a glória de Deus.
Em 1 Coríntios 10, versículos 1 a 12, a experiência do povo de Israel é dada como exemplo e advertência: “todos foram batizados em Moisés... e beberam da mesma bebida espiritual, que era Cristo, mas Deus não se agradou da maior parte deles”, sendo em grande parte castigados com a morte. Isto porque alguns foram idólatras, alguns se prostituiram, alguns tentaram o Senhor e alguns murmuraram, e “tudo isto lhes acontecia como exemplo, e foi escrito para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia”.
As ofertas e sacrifícios feitos pelos idólatras, nos vários altares dedicados às suas imagens ou esculturas, geram o suprimento pelos poderes das trevas em sua “mesa” aos devotos deste ou daquele deus, santo, ou outro objeto religioso. A atividade desses seres sem dúvida abrange muito mais do que o simples atendimento ao culto ou veneração desses objetos, pois existem outras formas de dedicação a outros “senhores”, como às riquezas (Mateus 6:24, 16:13).
A mesa dos demônios está posta para o mundo descrente com uma variedade de iguarias formosas e atraentes, e os crentes são prevenidos em 1 Coríntios 10:21 de que não devem procurar participar desta mesa junto com a mesa do Senhor. Na igreja em Corinto havia a tentação para os crentes participarem de costumes e práticas idólatras para usufruir dos seus supostos benefícios. Em sua carta o apóstolo Paulo protestou contra isto, pois é incoerente para um crente em Jesus Cristo participar das duas mesas.
É também um ato de traição e deslealdade ao Senhor Jesus alguém que diz tê-lo como Salvador e Senhor juntar-se aos que procuram os demônios para suprir-se. Tal comportamento poderá provocar o Senhor ao ciúme (1 Coríntios 10:22, Ezequiel 16:42), sendo insensato pois “somos, porventura, mais fortes do que Ele?” indaga o apóstolo. O crente que assim transgride é passível de julgamento ao invés de participar das bênçãos da mesa do Senhor.