Os nomes Diabo e Satanás são usados na Bíblia para um único ser, e derivam de duas palavras:
Na sequência bíblica a palavra “Satanás” aparece pela primeira vez no primeiro livro de Crônicas (21:1), onde se refere a um agente espiritual inimigo de Israel que provocou o rei Davi a recensear o seu povo, levando-o a cometer este grande pecado contra Deus e trazendo pestilência sobre o povo.
No entanto, Satanás já é citado no livro de Jó, de origem mais antiga, quatorze vezes nos seus dois primeiros capítulos, tratando-se ali claramente de um único ser que se apresentou junto com os anjos (“filhos de Deus”) diante de Deus, e o propósito dele era difamar o justo Jó: era, portanto, um “difamador”, cabendo-lhe também o nome de Diabo que lhe é dado em grego no Novo Testamento.
O nome Satanás aparece, referindo-se a esse ser, em 49 versículos da Bíblia, dos quais 34 se encontram no Novo Testamento (o mesmo número em que aparece Diabo). Não existe margem, portanto, para qualquer crente verdadeiro negar a sua existência real. Embora não tenhamos muitas informações na Bíblia além das que dizem respeito ao seu terrível relacionamento com o ser humano, temos muitas sobre estas. Tentaremos, a seguir, dar um resumo muito limitado daquilo que nos diz a Palavra de Deus.
Assim como todos os outros seres espirituais, tronos, domínios, principados e poderes no céu e na terra (Colossenses 1:15-16), Satanás foi criado por Deus, mediante a segunda pessoa da Trindade (que se encarnou como Jesus Cristo). Em Ezequiel 28:1 a 10 temos uma profecia contra o “príncipe de Tiro” que se dizia ser um deus, por causa do seu conhecimento e sabedoria. Como paralelo, a profecia faz referência ao “rei de Tiro”, não um homem, mas um espírito que inspirou aquele príncipe. Pela descrição, percebemos que se trata de Satanás:
Originalmente foi criado “selo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura”. Na Bíblia, ele nunca é assemelhado à criatura feia desenhada e esculpida por artistas.
Esteve no Éden (que pode ser traduzido como “deleite”), o jardim de Deus (não o jardim criado mais tarde para Adão e Eva na terra), possivelmente o âmbito onde se encontrava o trono de Deus.
Cobria-se de toda pedra preciosa, e ostentava o seu resplendor andando para cima e para baixo nas pedras ardentes “sobre o monte de Deus”.
Nele se faziam os instrumentos de música, preparados no dia em que fora criado. Em suas visões apocalípticas João viu instrumentos musicais no céu, além de trombetas (Apocalipse 15:2).
Deus o ungiu “querubim da guarda do trono de Deus, no monte santo de Deus”. Essa era a mais alta posição que podia ser ocupada por uma de Suas criaturas, tendo mais poder e autoridade do que qualquer outra delas.
Era então perfeito e sem pecado algum quando foi criado, dotado de grande sabedoria e beleza (lembremos, de passagem, que os seres espirituais não são sexuados nem se reproduzem - Mateus 22:30, Marcos 12:25). Ele era o Querubim Guardião, também chamado "Estrela da Manhã" (Isaías 14:12) “carregando luz” (Lúcifer).
Mas Satanás era ambicioso, e apesar da sua sabedoria tornou-se também presunçoso, desejando fazer-se igual ao seu Criador, um alvo totalmente inatingível. A certa altura, “orgulhoso por causa da sua beleza e com sua sabedoria corrompida por causa do seu resplendor” (Ezequiel 28:17 NVI), Satanás declarou “subirei ao céu... exaltarei o meu trono... no monte da congregação me assentarei... subirei acima das alturas das nuvens... e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:12-14).
Com esse propósito, liderou uma revolta contra a autoridade de Deus em que foi seguido por um terço de todos os anjos (Apocalipse 12:3-4). Desta forma a Estrela da Manhã (Isaías 14:12) tornou-se em Satanás, “o Adversário” ou “o Acusador”. O juízo de Deus não tardou a vir sobre ele (Ezequiel 28:16 NVI): perdeu sua primeira morada, que era a posição elevada como o guardião do trono de Deus: "Por isso eu o lancei, humilhado, para longe do monte de Deus". Depois perdeu a sua segunda morada, o privilégio que tinha em decorrência daquela posição: "e o expulsei, o querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes".
Satanás é agora o mais proeminente, e poderoso dos anjos revoltosos, conhecidos como demônios, e é o arqui-inimigo de Deus e do homem (Jó 1-2; Mateus 13:25, 38-39; 1 Pedro 5:8; 1 João 4:4; Apocalipse 12:1-17). Ainda que Deus originalmente o tenha criado na justiça, Satanás pecou por orgulho (Ezequiel 28:15-17; 1 Timóteo 3:6). Por conseguinte, o pecado entrou no universo pela primeira vez (Gênesis 3:1-5; João 8:44; 1 João 3:8) e Deus expulsou Satanás de sua posição original no céu (Ezequiel 28:16).
Ele retém sua grande inteligência (Ezequiel 28:12,17; 2 Coríntios 2:11) e poder (Efésios 6:10-12; Judas 9) e é amplamente representado por seus demônios (Efésios 6:12; Apocalipse 12:7-9). Satanás governa o mundo e pode influenciar os crentes, mas apenas dentro da vontade permissiva de Deus (Jó 1-2, especialmente 2:6; Lucas 4:6; João 12:31; Atos 26:18; 1 Coríntios 10:13; 1 João 5:19). Cristo julgou Satanás na cruz (João 12:31; Hebreus 2:14; 1 João 3:8; Colossenses 2:15), mas a execução final desse julgamento ocorrerá quando ele for lançado no lago de fogo, onde permanecerá para sempre (Apocalipse 20:10).
No meio do período da tribulação Satanás será precipitado sobre a terra (Apocalipse 12:9), mas pouco depois será amarrado e lançado no “abismo”, depois da segunda vinda de Cristo (Apocalipse 20:1-3). Terminado o milênio ele será solto brevemente na terra e depois lançado no lago de fogo e enxofre, onde será atormentado, dia e noite, com a besta e o falso profeta, pelos séculos dos séculos (Apocalipse 20:7-10).
Finalmente, podemos agora explicar como Satanás é ilustrado pela antiga serpente:
Há passagens da Escritura onde temos de reconhecer a chamada “lei da dupla referência”. Isto é, duas coisas ou pessoas são abordadas numa só passagem, sendo necessária alguma perspicácia para distingui-las. Em Gênesis 3:15 temos a primeira ocorrência dessa lei: uma era a serpente, um ser material visível, a outra era Satanás, um ser espiritual invisível, que conspirava pela queda do homem inspirando a serpente a enganar Eva.
A semente da serpente são os seus descendentes naturais, e, no âmbito espiritual, a semente de Satanás são os homens ímpios (João 8:44; 1 João 3:8-10). A semente da mulher são os descendentes dela e, no âmbito espiritual, uma semente em especial vinda de Cristo que produz o “novo nascimento”. Existe inimizade natural entre as serpentes naturais e o homem, e no âmbito espiritual entre o ímpio e o homem “nascido de novo” (João 15:18; Gálatas 4:29; 1 João 3:12).
Mas o significado vai ainda mais longe: esta é a primeira profecia da vinda de Cristo como o Redentor que derrotaria Satanás. Jesus Cristo é a semente da mulher, gerada pelo Espírito Santo e não proveniente do homem como fora Eva (Gálatas 3:16; 4:4). A Escritura foi preenchida plenamente quando Cristo derrotou Satanás na cruz (Colossenses 2:14-17).
Assim, no âmbito espiritual a maldição contra Satanás foi a de que ele seria derrotado por Cristo, ou pisado pela Semente da mulher, e que assim o seu domínio sobre a criação de Adão seria destruído. Cristo dilacerou a cabeça da serpente no Calvário, mas a ação final de Cristo em prender Satanás e libertar a Terra de toda a rebelião é ainda futura. No segundo advento de Cristo Satanás será derrotado e lançado no abismo durante 1.000 anos. Em seguida, tendo sido liberado para enganar as nações por pouco tempo, o Difamador e Inimigo do Bem, que é o Dragão e a Antiga Serpente, será finalmente lançado no lago de fogo para sempre, com todos os rebeldes humanos e espirituais em toda a história (Apocalipse 19:11 a 20:15; 1 Coríntios 15:24-28).