O apóstolo Paulo orava para que o amor de todos os santos em Cristo Jesus que estavam em Filipos, inclusive os que exerciam a liderança, aumentasse no conhecimento (sabedoria espiritual) e no discernimento em todas as situações, para sempre escolherem o melhor e assim serem sinceros, puros e irrepreensíveis, preparados para a Vinda do Senhor. Era a maneira correta de serem plantas frutíferas (João 15:8) em Cristo, mostrando sempre a perfeição de Deus, o Redentor, para a Sua glória e louvor.
Paulo sabia, e aqui nos ensina, que um dos temas fundamentais para oração por uma igreja em desenvolvimento é o crescimento do amor entre os seus membros em conhecimento e em discernimento. O amor a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo, é o resumo de toda a lei de Deus, mas não é um amor apenas emocional ou de palavras. No serviço de Deus, em que todos os crentes em Cristo estão envolvidos, temos que usar nossa inteligência e usar discernimento para ser efetivos, senão nossos esforços serão em vão.
O discernimento em seu sentido geral consiste na capacidade de compreender situações, de separar o certo do errado, de avaliar as opções com entendimento, bom senso e clareza. Ou seja, é o juízo e tino para tomar as melhores decisões. O cristão adquire a capacidade de tomar uma decisão mediante o prisma bíblico em todas as esferas da sua vida, sem qualquer comprometimento com o mundo que o cerca. Este é o discernimento que Deus lhe dá em Sua Palavra! Sem ele, os cristãos se arriscam a ser “levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro” (Efésios 4:14).
O discernimento é sem dúvida desejável de uma maneira geral, mas para o discípulo de Cristo ele não é apenas uma opção: é uma obrigação. Todo crente tem a responsabilidade de ter discernimento, pondo tudo à prova, retendo o bem e abstendo-se de toda espécie de mal (1 Tessalonicenses 5:21-22).
Graças a Deus, a Sua Palavra nos capacita para isso. O apóstolo Pedro declara: “... (Deus) nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo pleno conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude, pelas quais ele nos tem dado as suas preciosas e grandíssimas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo” (2 Pedro 1:3,4).
Ao chegar à maturidade espiritual estamos em perfeitas condições para discernir tanto o bem como o mal. Recebemos o alimento espiritual sólido contido na Bíblia, tendo já crescido no conhecimento dos seus princípios elementares (Hebreus 5:14). Conhecendo bem e obedecendo aos seus preceitos podemos fazer os melhores julgamentos de ordem espiritual para escapar aos perigos morais e doutrinários.
Através do “pleno conhecimento de Cristo” Deus nos deu tudo que precisamos para viver uma vida dentro dos padrões divinos neste mundo pecaminoso. Através da Palavra de Deus, a Bíblia, descobrimos as Suas “preciosas e grandíssimas promessas” que nos habilitam a nos tornar participantes da natureza divina – algo totalmente fora do alcance do pecador.
Infelizmente é em discernimento que a maioria dos cristãos tropeça. Mesmo os que estão armados com um bom conhecimento bíblico, fundamental para um bom discernimento, demonstram pouca vontade ou firmeza para usar sempre o infalível padrão da Palavra de Deus em seu dia-a-dia, e descuidadamente tomam resoluções e adotam linhas de comportamentos falhos e até mesmo desastrosos. Isto porque lhes falta a determinação de se manterem firmes com o conhecimento que têm, contra os ataques perniciosos do mundo e das falsas doutrinas que enfrentam constantemente.
Uma vida dedicada a Deus só é possível se houver discernimento em todas as suas áreas. Se houver falta de discernimento entre a verdade e o erro nas doutrinas bíblicas, por exemplo, o crente em Cristo estará sujeito a toda espécie de ensino falso. O ensino falso conduz a uma visão espiritual desvirtuada, que resulta numa maneira de vida infrutífera e desobediente, caminho certo para comprometimento com o mundo e com o pecado.
Sob o aspecto doutrinário, o apóstolo João nos previne “Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (1 João 4:1). Pelo contexto, percebemos que “espírito” aqui se refere aos falsos ensinadores. É preciso ter discernimento para distinguir os que sustentam a verdade daqueles que, mesmo professando ser cristãos, abrem e citam textos da Bíblia para aparentemente apoiar o que ensinam, mas que na realidade ensinam outro Evangelho.
O cristão sábio usa o seu discernimento para avaliar o que ouve, e reter o que é bom, verdadeiro e legítimo, e usar a sua liberdade para abster-se de toda a espécie de mal (1 Tessalonicenses 5:21,22). Como o padrão mediante o qual ele faz sua decisão é encontrado na Palavra de Deus, é preciso crescer em seu conhecimento, como Paulo ora pelos filipenses.
É às vezes necessário abandonar preconceitos e idéias pessoais, pois eles podem ser inimigos da compreensão das verdades bíblicas. Por exemplo, lemos em Lucas 9:44,45... “E admirando-se todos de tudo o que Jesus fazia, disse ele a seus discípulos: ‘Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos; pois o Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens’. Eles, porém, não entendiam essa palavra, cujo sentido lhes era encoberto para que não o compreendessem; e temiam interrogá-lo a esse respeito”.
Os discípulos evidentemente não queriam crer na morte e ressurreição do Senhor Jesus, tanto que, mesmo depois de morto conforme Ele havia predito algumas vezes, eles não creram na Sua ressurreição até que O viram pessoalmente. Quando o Senhor Jesus falou que ia ser entregue nas mãos dos homens, eles não podiam acreditar porque sabiam que Ele tinha o poder para evitar esse acontecimento. Ainda não tinham compreendido a natureza da Sua missão redentora, sacrificial, atendo-se à esperança da glória terrena. Estavam cegos para entender a sua verdadeira missão, portanto não podiam discernir o que o Senhor lhes dizia.
Por outro lado, diante do conhecimento que é adquirido, a maturidade cristã permite discernir as coisas que são “excelentes”, ou seja, que se destacam ou salientam muito das outras. Em todas as áreas da vida podem existir duas ou mais opções aceitáveis, por não serem pecaminosas, mas devemos sempre optar pela que for a melhor, a excelente. Muitas vezes uma opção que não for a melhor poderá prejudicar a que é excelente.
Paulo nos deu um exemplo disso: existem vários dons do Espírito Santo, e a igreja local deve desejar ser bem dotada. Os melhores dons são os de maior utilidade. Embora nenhum deva ser desprezado, alguns produzem mais benefício para a igreja do que outros, e esses é que a igreja deve rogar a Deus que lhe conceda. Na igreja de Corinto a quem Paulo escreveu, havia membros que gostavam de exibir o dom de falar publicamente em uma língua que nunca haviam aprendido, mas era inútil para os demais, que ficavam ouvindo algo sem sentido para eles.
Com seu discernimento, Paulo nos mostra “um caminho sobremodo excelente”, que é o amor: a simples existência dos dons na igreja não é tão importante quanto o exercício dos dons em um espírito de amor. O amor pensa nos outros, não é egoísta. É bom ter um dom, mas melhor ainda usá-lo para a edificação da igreja em amor e não para atrair atenção para si (1 Coríntios 12:31 – 13:13).
O amor com discernimento permite evitar o que é duvidoso ou mesmo errado. Também conduz à sinceridade, que é uma total transparência. Quem tem uma vida limpa, que vive à luz da Palavra de Deus, que ama e serve aos seus irmãos, de nada tem que se envergonhar nem é tentado a mentir, sendo puro e irrepreensível, preparado para a vinda do Senhor (no arrebatamento da Sua igreja). Oremos a Deus, como Paulo fez, que nosso amor aumente cada vez mais no conhecimento de Deus e do nosso Senhor Jesus Cristo e em discernimento, a fim de alcançarmos este objetivo.