O santuário ou templo de Deus hoje é o corpo de Cristo. Ainda em Seu corpo físico, Ele o chamou figurativamente de templo (João 2:19 e 21). O corpo de Cristo é a Sua igreja, ou seja, a congregação dos crentes em qualquer lugar (1 Coríntios 3:16 e 17); este é como “um edifício que está sendo construído sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; este é o santuário dedicado ao Senhor para habitação de Deus no Espírito” (Efésios 2:20-22).
A igreja de Cristo conseqüentemente não tem, como tinham os israelitas, um tabernáculo ou templo físico para a habitação visível de Deus entre o Seu povo. Cada congregação de crentes que se reúne em nome de Cristo, é um templo de Deus. Não é o prédio onde eles se reúnem, seja ele uma residência, um galpão, uma casa, etc., mas as pessoas.
O templo israelita, mesmo quando ainda em forma de tabernáculo (1 Samuel 1:9), era um objeto visível, concreto, palpável; ele continha o santuário, o lugar santo, símbolo da presença de Deus entre o povo de Israel, Sua “Glória”. Nele havia um grande número de características que claramente tipificam a igreja de Cristo. Vou apenas citar três, que poderão nos ajudar a responder a pergunta em foco.
1. SANTIDADE: Tudo, que se encontrava dentro do tabernáculo, era separado exclusivamente para o serviço do Senhor. Por sua vez, a igreja de Cristo é composta de santos: todo aquele que nela ingressa pela graça de Deus mediante o novo nascimento em Cristo é santificado pelo Seu sangue - separado exclusivamente para o serviço do Senhor. Como disse Paulo “Não mais vivo eu, mas Cristo vive em mim”. Mas a igreja local está sujeita à infiltração de pessoas não santificadas: os que se declaram cristãos, mas continuam incrédulos. Só Deus conhece o coração, mas se a igreja for zelosa na doutrina, o perigo poderá ser reduzido consideravelmente.
2. OBEDIÊNCIA: Todos os objetos e decorações, bem como os sacerdotes que ali serviam a Deus, seguiam uma prescrição divina detalhada dada através de Moisés. Todos os santos são chamados à obediência aos mandamentos de Deus. Estes são encontrados no Velho Testamento, e fazem parte da lei de Moisés, junto com muitas leis e regulamentos que dizem respeito apenas ao povo de Israel. Os que concernem à igreja são destacados no Novo Testamento, nos ensinos de Cristo e dos Seus apóstolos. Em 1 Coríntios 3:17, encontramos uma advertência séria a quem introduzir o pecado, que é desobediência, dentro da igreja: “se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. A destruição é conseqüência da entrada do pecado, e se faz por meio da corrupção ou depravação da igreja local. Se for permitido permanecer, o pecado a contamina toda, assim como o fermento da parábola (Mateus 13:33).
3. RESPEITO: É bem conhecida a ocasião em que Moisés, curioso, se aproximou de um arbusto em chamas que não se consumia, no monte Horebe, e o Senhor o chamou do meio da sarça e mandou que tirasse as sandálias dos pés, porque o lugar em que estava era terra santa (Êxodo 3:5). Da mesma forma o sucessor de Moisés, Josué, também recebeu a ordem de descalçar as sandálias dos pés na presença de Deus (Josué 5:15). Nas duas ocasiões o “lugar” em si não era um santuário ou um templo, mas a sua “santidade” consistia na presença de Deus nele. Para que o povo de Israel se conscientizasse da santidade da Sua presença, ele foi proibido, bem como seus animais, de até mesmo tocar no sopé do monte Sinai quando Moisés subisse para receber a Sua lei. Os sacerdotes israelitas oficiavam descalços dentro do tabernáculo e do templo, pois calçados traziam a imundície de fora. Em respeito à santidade do templo, os judeus não permitiam a entrada nele de gentios incircuncisos (Mateus 24:15, Atos 6:13, 21:28). Em relação à igreja, encontramos em 1 Coríntios ainda outra advertência, desta vez aos que desrespeitam os demais membros da igreja: “menosprezais a igreja de Deus (11:22) e quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si” (11:29). É o desrespeito aos demais membros da igreja, esquecendo-se que todos fazem parte do corpo de Cristo, que é o santuário ou templo de Deus. Para Deus, isto consiste em falta de respeito para Ele próprio; as conseqüências serão graves porque quem isso faz “come e bebe juízo para si”.
Santidade, obediência e respeito são os fatores que integram a reverência a Deus, que é refletida no conceito que temos pela Sua igreja.
Comecemos por nós próprios, “porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados”. Vamos refletir sobre o que fazemos com nossos corpos: “não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? … Glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Coríntios 6:19,20). A glorificação a Deus no nosso corpo consiste na pureza da nossa conduta, conforme os versículos precedentes. Mas nossos corpos devem ser oferecidos “em sacrifício vivo, santo e agradável ao Senhor, que é o nosso culto racional” (Romanos 12:1). Portanto, tudo o que fazemos com nossos corpos deve ser santificado ao Senhor, para Lhe ser agradável. Estamos constantemente na presença de Deus, através do “santuário” dos nossos corpos. Sejamos, portanto, reverentes.
Assim como nosso amor a Deus é provado pelo amor com que tratamos nossos irmãos, a nossa reverência a Deus é provada pela maneira com que agimos dentro da Sua igreja. Não se trata apenas da nossa atuação quando estamos em reunião para a Ceia do Senhor, mas em todo o nosso relacionamento com os demais irmãos, seja nas reuniões formais ou em qualquer outra atividade.
Nossa apresentação exterior diz muito sobre a reverência que temos: nossa postura, nosso linguajar, nossa maneira de vestir. Mesmo que não nos prostremos em terra, como faziam os antigos, nossa postura deve ser condizente com a reverência que devemos a Deus, no ambiente da Sua igreja reunida. Estejamos sempre atentos ao que ministra a Palavra, e evitemos perturbar aos nossos irmãos com atitudes de pouco caso nas reuniões (principalmente as solenes como a Ceia do Senhor), por exemplo constante senta/levanta, cochichos, leituras inadequadas para o momento, mesmo um cochilo.
O uso da palavra deve ser comedido, lembrando o que nos ensina o Pregador no livro de Eclesiastes: “Guarda o teu pé quando entrares na casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus e tu na terra; portanto sejam poucas as tuas palavras. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias” (5:1-3).
Nossa maneira de vestir deve ser modesta, moldada com o ambiente de forma a não atrair a atenção, pois é uma maneira de externar a mansidão, humildade e pureza de caráter que almejamos.
A primeira epístola aos coríntios é rica em exemplos e conselhos, pois aquela igreja parecia possuir toda a espécie de problemas que podem aparecer na vida de uma congregação de crentes. É muito atual, porque o nível moral e religioso daquele tempo não é muito diferente daquele que nos rodeia, feitas algumas adaptações.
“Tirar as sandálias dos pés” demonstrava reverência na presença de Deus, mas tanto Moisés como Josué sinceramente tinham um profundo respeito por Ele, e foram além do que lhes fora requerido: Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus e Josué prostrou-se em adoração. Devemos reverentemente obedecer a Deus em nosso comportamento mas, se O amamos e tememos como aqueles dois servos, nós O adoraremos e serviremos com todo o entusiasmo, não só cumprindo aquilo que nos é requerido, mas procurando oportunidades de ação em que possamos glorificá-Lo ainda mais em nossas vidas.