Nadabe e Abiú eram os dois filhos mais velhos de Arão e tiveram o grande privilégio de um dia subir ao monte de Sinai e ver o Deus de Israel (Êxodo 24:9-11). Depois foi lhes dada uma grande responsabilidade: servir ao SENHOR como sacerdotes em estatuto perpétuo (Êxodo 28:1, 29:9). Era de se esperar que, tendo visto a majestade de Deus, eles iriam servi-Lo fielmente com temor, tremor e santidade. O ministério sacerdotal israelita era de alta responsabilidade, importando que os sacerdotes cumprissem rigorosamente as determinações dadas por Deus, sendo algumas vezes mencionada a pena de morte para as infrações.
Todos os detalhes do tabernáculo e do serviço sacerdotal foram especificados em suas minúcias por Deus a Moisés. Incluído estava o altar de incenso, em frente do véu diante da arca da aliança, sobre o qual Arão deveria queimar incenso aromático todas as manhãs e ao entardecer. O SENHOR ditou até a receita para se fazer o incenso aromático destinado exclusivamente para esse fim (Êxodo 30:7-10, 34-38). O incenso puro (não o aromático) era usado para a oferta de cereal (manjares) queimado ao SENHOR no altar externo (Levítico 2:1,2,15).
Construído o tabernáculo e os seus utensílios, eles foram consagrados assim como Arão e seus filhos, obedecendo cuidadosamente às instruções recebidas. Houve sete dias de propiciação pelo altar, findos os quais ele se tornou santíssimo, bem como tudo o que nele tocasse. Terminado o cerimonial, saiu fogo do SENHOR e consumiu o holocausto e as porções de gordura sobre o altar, significando a Sua aprovação a tudo o que se havia feito, para grande alegria do povo.
Foi então que Nadabe e Abiú “tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara” (Levítico 10:1). Em duas outras passagens lemos apenas que “Nadabe e Abiú morreram quando trouxeram fogo estranho perante o SENHOR” (Números 3:4 e 26:61).
Não existe um acordo sobre em que consistia esse “fogo estranho” (“brasas vivas estranhas” no original), apesar das muitas opiniões e discussões a esse respeito. As mais ouvidas são:
Talvez eles não teriam acendido o incenso com as brasas do altar de bronze, resultantes do fogo que saíra de diante do SENHOR. Isso só foi ordenado mais tarde (Levítico 16:12) e eles pecaram ao se adiantarem usando outras brasas.
Talvez eles quiseram fazer, fora do horário designado pelo SENHOR, o que era da obrigação do sumo-sacerdote fazer duas vezes ao dia.
Talvez passaram através do véu, para dentro do Santo dos Santos, para chegar diante do SENHOR incorrendo assim na sentença de morte que viria mais tarde (Levítico 16:1-2).
O seu pecado, sem dúvida, foi pouco-caso e desobediência, pois fizeram “o que o SENHOR não lhes ordenara”, e morreram “por haverem se aproximado do SENHOR”. O SENHOR disse a Moisés: “Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo” (Levítico 10:3). O SENHOR havia dado instruções sobre como, quando, e onde eles deveriam servi-Lo. Eles conscientes e deliberadamente desobedeceram. Deus é um Deus zeloso e santo portanto exige que os Seus servos O sirvam à Sua maneira. Obediência é melhor que sacrifício (Hebreus 10:5-10).
Nadabe e Abiú com seu gesto desacataram a Deus. Cada ato no ritual que Deus havia determinado tão minuciosamente tinha um significado especial, uma lição para o povo sobre a santidade das coisas de Deus, a seriedade do pecado e o preço da redenção deste, figuras estas que apontam para Cristo. Não havia lugar para a improvisação que fizeram.
A autoridade de Deus é enfatizada neste incidente, no início da aliança da lei, assim como o seria mais tarde com a morte de Ananias e Safira no início da era da Igreja (Atos 5:1-11). Em ambos os casos, a morte foi a penalidade dos que desafiaram a autoridade de Deus, porque o nosso Deus é fogo consumidor (Hebreus 12:29).
A alta posição destes homens não os tornou imunes ao castigo, e a rapidez com que veio foi fulminante. O fogo veio do SENHOR repentinamente para matá-los (como um relâmpago, pois não consumiu seus corpos ou suas roupas). A punição pela desobediência vem ainda hoje, e é por isso “que há entre nós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem” (1 Coríntios 11:30), embora nem sempre imediata como no caso de Nadabe e Abiú, e Ananias e Safira.
Em seguida ao acontecimento o SENHOR falou a Arão, possivelmente pela primeira vez como sumo-sacerdote. Sua ordem a Arão foi que nem ele, nem seus filhos, bebessem vinho ou bebida forte (alcoólica) quando viessem ao tabernáculo, sob pena de morte. Esta ordem era estatuto perpétuo entre as suas gerações.
Embora no Novo Testamento não encontremos uma proibição absoluta como esta, as bebedices, a embriaguez e os beberrões (alcoólatras) são severamente condenados (Romanos 13:13; 1 Coríntios, 5:11, 6:9-10; Efésios 5:18; 1 Tessalonicenses 5:7-8). Os supervisores da igreja não devem tomar vinho, ou outras bebidas alcoólicas (1 Timóteo 3:3). Timóteo, por exemplo, só bebia água (1 Timóteo 5:23).
O uso de bebidas alcoólicas e outras drogas abafam os sentidos de forma a não se poder distinguir entre o santo e o profano, os valores morais se distorcem, e acabam em completo colapso. Talvez Nadabe e Abiú estariam influenciados pela bebida. Ao invés dessas substâncias, todo o crente deve encher-se do Espírito para melhor estudar a Palavra de Deus, transmiti-la aos outros, fortalecer-se e dirigir sua vida (Efésios 5:18).
Moisés logo depois descobriu outra transgressão por parte dos sacerdotes, da qual participaram os dois filhos sobreviventes de Arão: eles não haviam comido a oferta pelo pecado no lugar santo. Foi um mal-entendido, explicado por Arão: devido à morte de dois de seus filhos, ele e os filhos restantes haviam se sentido indignos. Moisés aceitou a explicação e eles não foram punidos, pois não desobedeceram de propósito.
Hoje Deus está agindo com misericórdia, concedendo tempo para arrependimento e para que todos cheguem ao conhecimento da verdade. Se não fosse assim, muitos estariam morrendo como Nadabe e Abiú, por procurarem se aproximar da presença de Deus de uma maneira imprópria, em desobediência ao Seu mandado. Devemos nos chegar a Ele segundo as condições que Ele estabeleceu. Não nos compete escrever as regras. Deus é o Salvador e só Ele pode determinar como seremos salvos. O Senhor Jesus declarou que ninguém vem ao Pai a não ser por Ele (João 14:6).
Finalmente, o expositor Scofield sugere que nestes trechos existem duas coisas “estranhas”: incenso comum e fogo não procedente do altar. O incenso comum nos fala da adoração simulada ou formal. O fogo que não é do altar corresponde à animação apenas por meio da excitação dos sentidos, e à substituição da devoção a Cristo por outra devoção qualquer, como a empreendimentos religiosos ou seitas (Vejam 1 Coríntios 1:11-13; Colossenses 2:8, 16-19).
“Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: ‘Sede santos, porque eu sou santo'” (1 Pedro 1:13-16).