Algumas igrejas andam preocupadas com um sistema introduzido no Brasil que corresponde a uma espécie de “igreja em células”, que se chama “G12”. A idéia básica, segundo sou informado, é reunir um grupo de doze candidatos interessados e prepará-los para serem “líderes” de novas “igrejas”, ensinando-os as suas doutrinas (encontradas no seu “Manual do Discípulo”), e treinando-os em evangelismo, pastoreio e ensino. Em seguida, cada um destes doze repetirá o processo, visando um crescimento geométrico criando uma estrutura que chamaríamos de “pirâmide” em âmbito comercial.
Segundo o testemunho de uma pessoa que compareceu às sessões iniciais chamadas “Pré-Encontro” e “Encontro”, trata-se de um processo de lavagem cerebral mediante o qual a pessoa que se deixa envolver é injetado com doutrinas estranhas e mesmo contrárias ao que a Bíblia ensina, é sujeito a fortes emoções habilmente manipuladas por processos psicológicos, e incentivado a prosseguir no aprendizado.
O sistema piramidal tipicamente dá o controle da estrutura à cúpula formada pelos primeiros, que usufruem dos benefícios financeiros resultantes do trabalho dos demais. Segundo estou informado, isto também ocorre no sistema G12: seus promotores são movidos por ambição de poder econômico e religioso. Não é de forma alguma uma igreja no sentido bíblico.
Em seu sentido etimológico, igreja é um vocábulo usado no Novo Testamento, proveniente da palavra grega ecclesia, que se traduz “uma chamada para fora”:
ecclesia era usada entre os gregos para denominar um grupo de cidadãos chamados e reunidos para discutir assuntos de Estado (Atos 19:39).
Os redatores da Septuaginta, antiga versão do Velho Testamento em grego, citada no Novo Testamento, usaram ecclesia para designar um ajuntamento de Israel convocado para alguma finalidade, ou uma assembléia de representantes da nação (kahal em hebraico).
Embora no original grego o vocábulo ecclesia tenha sido usado em sentido mais amplo (Israel em Atos 7:38, uma multidão revoltada em Atos 19:32, 41), seu derivado em português igreja tem apenas duas aplicações com referência aos crentes em Cristo:
o conjunto de todos os redimidos mediante a sua fé em Cristo na era atual, que vai desde a sua primeira vinda dois milênios atrás até o arrebatamento desses redimidos, ressuscitados e transformados, do qual Cristo disse “edificarei minha igreja” (Mateus 16:18), também descrito como “a igreja a qual é o seu corpo” (Gálatas 1:13; Efésios 1:22; 5:23). O conjunto só estará completo ao fim: até lá, a qualquer tempo, seus componentes ou morreram e estão no céu, ou estão vivos, já salvos ou ainda por se salvar, ou ainda não nasceram. É ainda possível, excepcionalmente, que alguns dos seus componentes, quando vivos, não pertençam a uma congregação, por algum motivo especial.
uma congregação de crentes professos (Mateus 18:17, Atos 20:28; 1Coríntios 1:2; 1Tessalonicenses 1:1; 2Tessalonicenses 1:1; 1Timóteo 3:5, etc.); no plural indica mais de uma dessas congregações, de natureza semelhante ou na mesma área geográfica (Atos 9:31, 15:41, 16:5, Romanos 16:4,16, 1Coríntios 16:19, Gálatas 1:22, etc.). Em cada congregação geralmente se encontrarão em maior ou menor escala pessoas que se declaram crentes, mas nunca nasceram de novo e, portanto, não pertencem ao conjunto.
Voltando agora nossa atenção à congregação, que chamaremos de igreja local, temos no Novo Testamento, particularmente nas epístolas do apóstolo Paulo, diretrizes para a sua supervisão, as responsabilidades dos membros, a ordem a ser observada em suas reuniões, os objetivos almejados, etc.
Ao contrário do que muitos pensam, o Espírito Santo não nos forneceu parâmetros detalhados de igreja local quando nos deu o Novo Testamento: em Sua sabedoria, deu-nos muita flexibilidade para adaptação às circunstâncias que nos rodeiam, desde que observemos aquelas diretrizes.
Cada igreja local tem caráter próprio, nenhuma é perfeita embora se esforce para ser, e cada uma está nas mãos de Cristo, a quem pertence (por exemplo, Apocalipse 2 e 3). Cada uma é um organismo ligado pelo Espírito Santo, e é Ele quem lhe dá dons de pessoas competentes para o evangelismo, pastoreio e ensino (Efésios 4:11), e distribui dons para o aproveitamento de todos (1 Coríntios 12).
A igreja local é uma unidade indivisível, salvo se nela entrar o pecado e a heresia. Ela não se divide em células independentes entre si. Mediante o evangelismo feito pelos seus membros, pode dar origem a outras, igualmente independentes e com características semelhantes.
No início, depois de expulsos do templo em Jerusalém e das sinagogas, os membros das igrejas locais só podiam contar com residências particulares para as suas reuniões: a casa de Maria, mãe de João Marcos, em Jerusalém (Atos 12:12), a casa de Lídia, em Filipos (Atos 16:40), a casa de Áquila e Priscila em Éfeso (1Coríntios 16:19) e mais tarde em Roma (Romanos 16:5), a casa de Filemon em Colossos (Filemon 1:2), são todos exemplos.
Hoje as igrejas locais geralmente possuem edifícios próprios onde podem se reunir. É um privilégio, mas com seu lado negativo: perda de mobilidade e flexibilidade, empate de capital e necessidade de custeio. As reuniões de crentes em seus lares com o objetivo primordial de evangelizar parentes, amigos e conhecidos são muito úteis, e devem ser incentivadas.
As reuniões para estudo bíblico e oração em seus lares também podem ser úteis, particularmente se forem feitas sob a direção de um dos supervisores da igreja ou outra pessoa apta a ensinar (2 Timóteo 2:2). Como são reuniões em que nem toda a igreja está presente, elas não devem se realizar em prejuízo das reuniões regulares. Geralmente são reuniões informais, mais vulneráveis a influências de fora e ensinamentos falsos, exigindo muita cautela. Se surgirem dúvidas, elas devem sempre ser levadas ao conhecimento dos supervisores da igreja.
Existe ainda a tentação de formalizar tais reuniões familiares, a exemplo de certas igrejas em grandes cidades ou centros populacionais, onde elas têm expandido mediante a divisão dos seus membros em células familiares, na prática “igrejinhas locais” subordinadas à primeira, reunindo-se nas casas, juntando-se todos para culto e adoração uma vez por semana, ou menos freqüentemente, em um edifício principal. Às “igrejinhas” falta a autonomia bíblica, ficando na mesma situação das igrejas locais que se encontram presas a uma estrutura eclesiástica, como a maioria das “denominações”, ou tornando-se em clubinhos e núcleos sociais sem vida espiritual mas causando divisões na igreja local.
Soubemos de alguém que, não somente propôs dividir os membros da igreja local em células, mas ainda chamá-las de G 12; alguns estão usando suas expressões tais como “igreja em células”, “sonhando os sonhos de Deus” etc., dando uma conotação de identificação com o sistema G 12.
Irmãos, evitemos nos associar com as obras das trevas: não adotemos seus métodos nem seus rótulos!