Persiste uma velha teoria, cujas origens se discutem, mas que continua a ser acreditada por muitos, segundo a qual a igreja de Cristo é uma continuação de Israel, e que todas as promessas e bênçãos prometidas aos patriarcas, a Moisés, Josué e Davi, foram transferidas para a igreja, sendo elas “espiritualizadas” quando falam de coisas terrenas. É conhecida como a “Teologia da Substituição”. Os partidários desta teologia acreditam – e ensinam - que Deus não tem mais planos específicos para a nação de Israel.
Com base nessa teoria, algumas igrejas têm fechado os seus olhos às perseguições feitas aos judeus, e, quando aliadas ao poder público, elas próprias têm promovido perseguições cruéis aos judeus. Os judeus conservam as perseguições em suas memórias, e generalizam o conceito de inimigo a todos os cristãos.
Como a Bíblia é muito clara sobre esse assunto, e distingue perfeitamente entre a igreja e Israel, é surpreendente que ainda hoje existam igrejas que teimam em ensinar essa substituição, a prejuízo do melhor entendimento do que a Bíblia ensina, de grande parte das profecias do Velho Testamento, e algumas do Novo, que são abandonadas por serem “de difícil interpretação”. É natural, porque devem ser aceitas literalmente e não “interpretadas espiritualmente”.
Assim, por exemplo, são “espiritualizadas” por eles as profecias da Bíblia relativas à bênção e restauração de Israel para a Terra Prometida, dizendo que são apenas alegorias de promessas de bênçãos de Deus para a igreja. Os problemas principais com esta visão, hoje, são a existência contínua de judeus ao longo dos séculos e especialmente com a revivificação da sua nação com o Estado moderno de Israel. Se Israel tivesse sido condenado por Deus, e não houvesse futuro para a nação judia, como explicar a sobrevivência sobrenatural dos judeus durante os últimos 2000 anos, apesar das muitas tentativas para os destruir? Como explicar por que e como Israel reapareceu como uma nação depois de desaparecer durante dezenove séculos?
O fato que Israel e a igreja são diferentes é ensinado claramente no Novo Testamento. Falando biblicamente, a igreja é completamente diferente e distinta de Israel e os dois nunca podem ser confundidos ou permutados. A Bíblia ensina que a igreja é uma criação completamente nova, um “mistério” escondido no Velho Testamento e só revelado no Novo, que começou a existir no dia de Pentecoste depois da morte, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus, o Messias prometido a Israel, e continuará na terra até ser arrebatada ao céu por Ele (Efésios 1:9-11; 1 Tessalonicenses 4:13-17). A igreja nada tem a ver com as maldições e bênçãos para Israel. Os pactos, promessas e advertências do Velho Testamento só são válidas para Israel. Israel foi colocado temporariamente à parte no programa de Deus durante estes últimos dois milênios de dispersão.
Depois do arrebatamento da igreja (1 Tessalonicenses 4:13-18), Deus voltará a focalizar Israel na execução do Seu plano para a terra. Durante sete anos Deus despejará a Sua ira sobre o mundo por rejeitar a Cristo, o que a Bíblia chama de Dia do Senhor, ou a Tribulação (Apocalipse capítulos 6 a 19). Enquanto isso Israel será preparado para a segunda vinda do Messias, mediante pregação e conversão ao Evangelho seguidas pelas provas da Grande Tribulação que acontecerá na segunda metade daqueles sete anos.
A situação na antiguidade, antes do início da igreja, na atualidade e no futuro é comentada nos capítulos 9 a 11 de Romanos, de onde extraímos o seguinte:
Os israelitas foram privilegiados, adotados por Deus, Este lhes deu glória, alianças, legislação, o culto e as promessas; deles provêm os patriarcas e deles descende o Cristo que é Senhor de todos e Deus bendito para todo o sempre. Deus é soberano, escolhe a quem quer favorecer, e determina o lugar de cada um. Não temos o direito de criticar a Sua decisão, pois Ele é o Criador de tudo.
Deus suporta com muita paciência os malfeitores, ou vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de mostrar a Sua ira, dar a conhecer Seu grande poder e revelar as riquezas de Sua glória em vasos de misericórdia, preparados de antemão para glória, que somos todos nós, tanto judeus como gentios.
Deus chama pessoas que não são israelitas para serem Seu povo também, como anunciado através do profeta Oséias (1:9-10) e do profeta Isaías (10:22-23).
Dos filhos de Israel somente o remanescente será salvo, por mais que ele cresça, e isto vai se cumprir cabalmente e em breve. Como ainda profetizou Isaías (1:9), se o Senhor dos Exércitos não tivesse preservado a descendência dos judeus, eles já teriam desaparecido.
Israel se esforça pela justificação baseada no cumprimento da lei, e não a alcança porque decorre das obras e não da fé. Os judeus rejeitam a obra redentora de Cristo: a "pedra de tropeço e rocha de escândalo" profetizada em Isaías 28:16.
Todo aquele (seja judeu ou gentio) que invocar o Senhor será salvo (Joel 2:32). Nem todos obedecem à palavra do Evangelho, conforme profetizado em Isaías 53:1, embora a voz de Deus seja ouvida em toda a terra, conforme Salmo 19:4. Muitos judeus estão sendo salvos pela eleição da graça, ou seja, mediante a fé em Cristo, como aconteceu com o próprio apóstolo Paulo. Assim como no tempo de Elias, Deus reservou para si sete mil homens que não adoraram a imagem de Baal, assim também nesta época atual uma minoria sobrevive pela eleição da graça. Os demais, que buscam justificar-se pelas obras da lei, não o conseguem, e permanecem espiritualmente surdos e cegos.
A maioria do povo de Israel continuará em sua incredulidade até que haja entrado a plenitude dos gentios (a igreja de Cristo já estará completa, os vivos arrebatados, em Sua presença), mas depois todo o Israel remanescente será salvo, na volta do Senhor, conforme profetizado em Isaías 59:20-21.
O lugar de privilégio diante de Deus, simbolizado por uma oliveira, foi primeiro ocupado pelos judeus; a maioria da nação de Israel, por sua incredulidade, foi rejeitada (ramos quebrados), enquanto os crentes gentios (oliveira brava) foram admitidos (enxertados na oliveira) à graça de Deus pela fé, participando das bênçãos que vêm de Abraão a quem Deus disse: "em ti serão benditas todas as famílias da terra" - Gênesis 12:3 (raiz e seiva da oliveira).
Mas os gentios não devem desprezar os judeus: assim como Deus rejeitou os judeus, como nação, por sua incredulidade e recebeu os gentios por causa da sua fé, também Ele rejeitará os gentios se eles não permanecerem em Deus e aceitará novamente os judeus, como nação, se eles deixarem a sua incredulidade. É mais natural para a nação dos judeus ajustar-se ao reino de Deus quando crer, por causa da sua raiz em Israel, do que para os gentios, que vêm de fora. "Gentio" aqui não quer dizer a Igreja, ou algum crente em particular. Temos em todo este capítulo o povo de Israel de um lado, e os demais povos, os gentios, de outro. O Corpo de Cristo jamais poderá ser separado de Cristo, que é a Cabeça, nem um crente pode ser separado do amor de Deus. Mas os gentios podem, segundo este versículo, perder a posição privilegiada de que gozam hoje.
O remanescente de Israel que sobreviver à tribulação estará àquela altura em condições para receber o Messias, e Cristo voltará à terra, dando fim à Grande Tribulação e livrando Israel dos inimigos poderosos que o cercam. Ele estabelecerá o Seu reino como Rei dos reis na terra tendo Jerusalém como sua capital. Israel será a nação principal e sobreviverão ainda as nações que tiverem tratado bem os judeus durante a sua tribulação (Mateus 25:31 a 40). Os representantes de todas essas nações virão a Jerusalém para honrar e adorar o Rei divino. Os membros da Sua igreja voltarão com Ele, em seus corpos imortais, literalmente reinando com Ele no milênio (Apocalipse 20:1-5).
Então se cumprirá a profecia: “Acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor, será estabelecido como o mais alto dos montes e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. Irão muitos povos, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor” (Isaías 2:2-4).