Embora a Bíblia não nos informe muito sobre a pessoa de João Marcos, o Espírito Santo o usou como instrumento para escrever um dos quatro Evangelhos, que leva o seu segundo nome, Marcos. Assim como Lucas, ele não estava entre os doze apóstolos diretamente escolhidos e enviados pelo Senhor para pregar o Evangelho, ao contrário de Mateus e João que estiveram com Ele durante todo o Seu ministério, sendo assim capacitados a serem testemunhas oculares de quase tudo que escreveram.
Seu nome era João, tradução do grego Io¯a´nne¯s, e seu sobrenome era Marcos, tradução do grego Ma´rkos. Usa-se o nome João em Atos 13:5 e 13, e Marcos em Atos 15:39, 2 Timóteo 4:11, etc. Os dois nomes são dados em Atos 12:12, 25 e 15:37, onde se esclarece que Marcos era seu sobrenome (Saulo e Paulo, Simão e Pedro, são outros exemplos de dois nomes usados pela mesma pessoa na Bíblia). Supõe-se que o sobrenome Marcos, usado entre os romanos, seria indicação de cidadania romana, como no caso de Paulo.
Sua mãe chamava-se Maria, moradora em Jerusalém, onde provavelmente ele nasceu (Atos 12:12). Era primo de Barnabé (Colossenses 4:10), mas nada sabemos do seu pai. O fato que Maria era proprietária de uma casa com um aposento grande onde muitas pessoas da igreja em Jerusalém podiam se reunir e orar, com pátio, e tinha ainda uma criada grega, sugere que seria uma pessoa de recursos. Barnabé também tinha recursos, tendo vendido um campo que possuía para doar o produto à igreja de Jerusalém (Atos 4:36).
Marcos e Maria já eram crentes quando apresentados em Atos 12:12. Como Pedro mais tarde o chama de “meu filho Marcos” (1 Pedro 5:13), é provável que tenha se convertido e aprendido o Evangelho através de Pedro com quem parece ter convivido bastante tempo.
Em seu Evangelho, Marcos fala de um jovem que continuou a seguir Jesus depois que fora preso em Getsêmane, mesmo depois que os discípulos O deixaram e fugiram. Os soldados o agarraram também, mas escapou deixando com eles o lençol que O cobria (Marcos 14:51-52). Só Marcos fala sobre isto, e embora não se tenha identificado, é quase certo que o jovem tenha sido ele próprio, podendo assim dar testemunho do fato.
Marcos aparece depois como acompanhante de Paulo e Barnabé em sua viagem de regresso a Antioquia. Um dia, ali, o Espírito Santo disse à igreja que separassem Barnabé e Saulo para a obra à qual os tinha chamado. Deus precisava dos dois para o trabalho missionário em outros lugares. Foram para Chipre, a terra de Barnabé.
Em Salamina, Paulo e Barnabé foram logo anunciar o Evangelho, indo primeiro para as sinagogas dos judeus, seguindo o plano de Deus, pois o Evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” (Romanos 1:16). João Marcos, primo de Barnabé, também estava ali e os auxiliou.
Atravessaram a ilha toda até Pafos, onde o procônsul romano Sérgio Paulo se converteu, depois que viu que a mão do Senhor estava com Paulo em sua altercação com o influente mágico Elimas. Em seguida Paulo, Barnabé e João Marcos embarcaram em Pafos e navegaram para o norte, desembarcando no porto de Perge, capital da província de Panfília (no sul da Turquia atual).
Paulo e Barnabé subiram terra adentro em direção ao norte, para Antioquia da Pisídia que fica ao sul da Galácia, mas João Marcos os deixou em Perge e embarcou novamente para Jerusalém: a Bíblia não nos conta o motivo por que os deixou.
Tempos depois, em Antioquia, Paulo propôs a Barnabé sair por terra para visitar os irmãos em todas as cidades que haviam evangelizado na viagem anterior, para ver como estavam indo. Barnabé estava disposto a ir, mas queria levar também seu primo João Marcos com eles.
Paulo não achava prudente levá-lo agora, por causa daquela experiência anterior, mas Barnabé insistiu e houve séria divergência entre eles. Foi um desentendimento tão sério que Barnabé deixou Paulo e navegou para Chipre com Marcos.
Não nos cabe fazer julgamento entre Paulo e Barnabé para ver quem tinha razão. Alguma coisa está errada quando dois servos do Senhor, do gabarito deles, não conseguem chegar a um acordo no que diz respeito ao seu serviço ao Senhor. Teria um deles desobedecido ao Espírito Santo, que de forma especial os guiava naqueles primórdios da igreja?
Marcos continuou servindo ao Senhor e foi muito útil mais tarde colaborando com Paulo quando este estava na prisão em Roma pela primeira vez (Colossenses 4:10 e Filemom 1:24). Tanto assim que, tendo Marcos voltado para Éfeso, Paulo pediu a Timóteo que o trouxesse com ele novamente a Roma porque lhe era muito útil para o ministério (2 Timóteo 4:11).
Marcos também esteve com Pedro na Babilônia, que era um grande centro de estudos dos judeus naquele tempo (1 Pedro 5:13). Pedro o chamou de “meu filho”, indicando que era seu discípulo, e é possível que foi de Pedro que obteve o testemunho de muitos dos fatos contidos em seu Evangelho, especialmente os que foram presenciados pessoal e privativamente por Pedro, Tiago e João. Nada mais é informado na Bíblia sobre Marcos ou mesmo sobre seu primo Barnabé.
Em vista do que a Bíblia nos informa, julgamos que é seguro inferir que Marcos era de boa família judia, culto, e provavelmente tinha visto o Senhor Jesus em mais de uma oportunidade. Tendo-se convertido com a sua mãe, dispôs-se a ajudar na propagação do Evangelho.
Seu primo Barnabé era um grande servo do Senhor, generoso em contribuir para a obra de Deus, tanto que fora inicialmente buscar Paulo em Tarso para ajudar no ensino da igreja em Antioquia. Ao ver a disposição de Marcos, quis dar-lhe oportunidade de serviço levando-o posteriormente consigo em sua viagem missionária com Paulo. Notamos que não consta que o Espírito Santo tenha escolhido e enviado Marcos para esse trabalho, como fez com Paulo e Barnabé, ou que tenha sido enviado pela igreja em Antioquia, ou mesmo de Jerusalém. Este foi talvez o principal erro que cometeram.
Marcos tinha recursos financeiros para viajar e a vontade de ajudar, mas ainda não tinha a necessária maturidade espiritual para enfrentar os desafios que surgiriam e para perseverar naquela missão. Lamentavelmente isto ainda acontece: estimulado por um apelo convincente, e atraído por uma visão missionária em lugares ou países exóticos, um crente desejoso de participar na obra do Senhor às vezes sente-se destinado a esse trabalho, sem cuidadosamente avaliar a sua adequação ao mesmo, consultar a Deus em oração tanto em particular como em conjunto com a direção da igreja a que pertence, e só tomar a decisão quando tudo indicar que esse é o trabalho que o Senhor da Seara tem para ele.
Mais tarde, Marcos descobriu o trabalho que o Senhor realmente tinha para ele: dar o seu apoio ao apóstolo Paulo, ganhando com isto a sua estima, e aprender pacientemente do apóstolo Pedro, capacitando-se para escrever um dos quatro Evangelhos sob a inspiração direta do Espírito Santo para benefício das inúmeras gerações de novos convertidos até os nossos dias.
Num exército, os soldados que estão na vanguarda podem vencer batalhas, mas a guerra só é ganha com o apoio concreto e bem organizado dos que estão à sua retaguarda, fornecendo-lhes informações e suprimento. Também na obra de Deus, alguns são colocados na vanguarda pelo Senhor, mas muitos são colocados em lugares estratégicos para suprir os que estão à frente, sendo o seu trabalho tão vital para vencer a guerra quanto os primeiros. Que saibamos sempre o lugar certo para o qual o Senhor nos escolheu, para que possamos usar os nossos talentos da forma que Ele quer e assim contribuir melhor para a guerra espiritual em que estamos empenhados.