O Senhor Jesus encarregou os Seus servos de anunciarem o Evangelho até os confins da terra, a partir de Jerusalém. Os Seus apóstolos e Seus discípulos, através dos séculos, têm desenvolvido essa missão com relativo sucesso, enfrentando às vezes grandes dificuldades: oposição, grandes distâncias, obstáculos físicos quase intransponíveis e culturas selvagens.
Recentemente estive num lugar que ilustra muito bem a luta que alguns missionários têm travado contra todos esses fatores de uma só vez, e a notável vitória do Evangelho.
No oceano Pacífico, eqüidistante da Austrália e da Nova Zelândia, e ao norte deste último país, encontra-se um arquipélago, entre vários outros, atualmente conhecido como Fiji. Compreende umas 322 ilhas, das quais 102 são habitadas permanentemente, e 522 ilhotas.
Hoje a maioria da população está nas duas ilhas principais, Viti Levu e Vanua Levu. O povo é amável e cordato, vendo-se muitos templos de igrejas “protestantes” e evangélicas, também alguns de seitas ditas cristãs e templos hindus e algumas poucas mesquitas.
Mas até o inicio do século 19 a situação era completamente diferente, pois não havia contato entre os ilheus e o resto do mundo. O arquipélago é de origem vulcânica, e as ilhas estão cercadas de recifes de coral, um grande obstáculo à aproximação de barcos e navios. A população nativa, embora construindo barcos primitivos de boa qualidade, não se aventurava a navegar em alto-mar.
O explorador holandês Abel Tasman descobriu Fiji em 1643, quando procurava o Grande Continente do Sul, e o explorador inglês, capitão Cook, também passou pelas ilhas, tendo sido recebido com hostilidade pelos nativos. Em cartas enviadas por membros das suas expedições, os nativos eram descritos como guerreiros temíveis e canibais ferozes, construtores dos melhores navios no Pacifico, mas maus marinheiros.
Em seu isolamento, os fijianos guerreavam entre si e devoravam os guerreiros que venciam, convictos que, com isso, adquiriam as suas virtudes. Eram politeístas, e sua religião, mitos e lendas, dominavam todo o seu comportamento social. Seu “tabu” prescrevia o que deviam comer e beber, como se dirigir aos seus superiores, com quem deviam se casar, onde deviam ser enterrados. Limitava a sua escolha de alimentos e controlava o seu comportamento dentro de casa. Temiam desobedecer aos seus deuses que podiam fazer o que quisessem com eles, até mesmo matá-los.
Tinham uma infinidade de deuses que consultavam através dos seus sacerdotes para decidir sobre toda a espécie de coisa. O sacerdote era um intermediário (médium) entre o deus e o povo, e quando “inspirado” entrava em transe, tremia quando “possesso” e anunciava a mensagem do seu deus com uma voz estranha.
Consultar os espíritos e usá-los para influenciar as atividades do dia-a-dia fazia parte da religião fijiana. Também davam muito valor aos sonhos, acreditando que eram uma maneira de receber comunicação dos espíritos, incluindo a quem deviam assassinar.
Isolados, submetidos ao domínio dos demônios e cercados por recifes perigosos, os fijianos eram um desafio ao esforço de evangelização. Segundo nos conta a história, em 1830 três missionários saíram do Taiti para pregar o Evangelho em Lakemba, uma das ilhas de Fiji. Pouco mais sabemos sobre eles.
Em 1835 dois missionários ingleses também foram até lá levando as suas famílias. Tiveram progresso lento na evangelização, pois os fijianos não queriam abandonar os seus deuses e havia guerras constantes entre as tribos. Em 1839 o primeiro grande chefe se converteu, tornando-se mais fácil alcançar os seus súditos devido ao seu precedente e influência. Outros chefes o acompanharam, impressionados pelo poder do novo Deus, pois era assim que interpretavam a chegada de navios, máquinas e armamentos às suas ilhas pertencentes a pescadores e baleeiros que começaram a se aproveitar dos recursos das ilhas.
Em 1867 outro missionário inglês, de nome Thomas Baker, da igreja metodista Wesleyana, assim como os precedentes, ao levar o Evangelho para ilhas mais ocidentais foi assassinado e devorado pelos nativos em Navatusila, ilha de Viti Levu, tendo eles declarado: “comemos tudo menos suas botinas”. Vimos a sola de uma delas exposta no museu de Suva, capital de Fiji, emblema do sacrifício supremo daquele servo de Cristo. Seis companheiros foram mortos com ele.
Mas, gradualmente, os missionários e obreiros fijianos substituíram os sacerdotes feiticeiros das ilhas, e o conceito de santidade substituiu o “tabu” e o “mana” (influência dos espíritos). O Evangelho de Cristo transformou radicalmente a cultura daquele povo.
Fiji é hoje considerado um país cristão. Da população nativa, cerca de 97% são nominalmente cristãos, predominando a denominação metodista com mais de dois terços. Na aldeia onde Thomas Baker havia ministrado, Navatusila, foi construído um bonito templo, com um monumento, e a aldeia é conservada e habitada pelos nativos. Em novembro de 2003 tiveram uma cerimônia em que ofereceram um pedido de perdão aos descendentes de Thomas Baker, convidados para a ocasião.
Todavia, entre 1879 e 1916 houve considerável imigração de indianos, contratados para trabalhar na lavoura de cana de açúcar, cujos descendentes hoje chegam a quase a metade da população do país. Eles não se misturam com a população nativa, e permanecem firmes em suas religiões, sendo em sua grande maioria hindus com uma parcela menor de muçulmanos. Mantendo-se culturalmente segregados da população nativa, mas tendo considerável poder econômico e político, sua presença tem resultado em conflitos na ordem política da nação.
No pouco tempo de que dispusemos, não foi possível obter informação sobre como surgiram ali as igrejas independentes “dos irmãos”, mas averiguamos que estão presentes, tanto nas comunidades nativas como indianas. Um irmão originário da Índia está se dedicando atualmente a dar assistência muito necessária no ensino a algumas igrejas, especialmente de etnia indiana, e devemos a ele algumas informações atuais sobre várias onde o inimigo tem prevalecido por estarem enfraquecidas por circunstâncias adversas, e revelam a carência de ensino sadio. Oremos por elas!
Concluindo, fica evidente que, sem o esforço daqueles primeiros missionários, gerações de nativos oprimidos por uma religião cruel e satânica possivelmente não teriam sido libertadas pelo Evangelho, transformando-se, como aconteceu, num povo pacifico e acolhedor, além de serem salvos da perdição eterna. Esses missionários demonstraram de maneira clara o que é ser o sal da terra e a luz do mundo (Mateus 5:13,14), penetrando nas trevas de um povo totalmente afastado de Deus, sob o domínio do “príncipe deste mundo”, trazendo-lhes a vida em Cristo e a luz do Evangelho.