O maior privilégio do cristão é a oração – o falarmos publica ou particularmente com Deus, em adoração, confissão, petição, ação de graças ou intercessão. É privilégio que pertence a todo verdadeiro filho de Deus. Muitos por várias razões, não podem pregar, ensinar, cantar, escrever, viajar ou trabalhar no serviço do Senhor, porém todos – mesmo cegos, paralíticos e mudos! – podem orar.
Deus, "bendito e único Soberano, o Rei dos reis, e Senhor dos senhores, habita em luz inacessível" (1ª Tm 6.16), na incompreensível glória e majestade do Seu trono celestial. Nós estamos na terra – criaturas pecaminosas e mortais; mas em Cristo pela Sua graça temos recebido a vida, estamos "assentados nos lugares celestiais" Ef 2.5-6 e como filhos podemos falar ao Pai, a qualquer hora e em qualquer lugar (Ef 6.18; 1ª Tm 2.8).
A oração não é somente privilégio; é também um mandamento (Lc 18.1; 1ª Ts 5.17). As epístolas exortam constantemente os crentes a que orem, pois a oração é essencial à vida espiritual, tanto do indivíduo quanto da igreja.
Porém, será que todos oram?… Sempre?… ou de vez em quando?… ou nunca? O rei Davi orava pelo menos três vezes por dia Sl 55.17 e o primeiro ministro Daniel sentia a mesma necessidade Dn 6.10. Qual é o nosso costume? Temos o culto doméstico cada dia? Oramos particularmente em casa, pelo menos três vezes por dia, sem falhar? Tomamos parte nas orações da igreja – ou raras vezes freqüentamos esta reunião?
"Mas há sempre obstáculos!" - diz alguém, desculpando-se. Sim, existem obstáculos, impedindo-nos de orar, ou, se orarmos, de sermos atendidos. A Bíblia menciona diversos; eis alguns deles: -
"Se eu atender a iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá" (Sl 66.18). Também – "As vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus; os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça" (Is 59.2). Atos e costumes pecaminosos, permitidos na vida do crente, impossibilitam a eficácia das suas orações. A consciência lhe ferirá, tirando-lhe a tranqüilidade na presença de Deus; afinal, terá de deixar o pecado ou cessar de orar. Isto se refere ao crente sincero; o hipócrita fará orações longas e bonitas para esconder o seu pecado, mas não terão valor algum (Mt 6.5, 23.14).
"O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Pv 28.9). Há os que não querem aprender o ensino das Escrituras, especialmente em certos pontos que não querem obedecer; por isso negligenciam o estudo da Bíblia e recusam o ministério que os condena. As orações dos tais são "abomináveis" a Deus!
"Estes homens levantaram os seus ídolos dentro de seu coração; …acaso permitirei que eles Me interroguem?" (Ez 14.3). Certos anciãos em Israel vieram ao profeta, para com ele orarem a Deus em tempos difíceis. Mas eram idólatras "em seus corações" – e Deus não permitiu que orassem. Há qualquer tipo de idolatria em nós crentes, que impede a oração eficaz? – a avareza (Ef 5.5; Cl 3.5), ou o amor do mundo (1ª Jo 2.15; Tg 4.4)? É possível ausentar-se da reunião de oração, e negligenciar as orações particulares, por causa de negócios materiais, ou de diversões, que ocupam o nosso coração mais do que os interesses espirituais. Somos idólatras!…
"Quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que o vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas" (Mc 11.24). Estas palavras devem ser tomadas junto com o ensino de 1ª Jo 1.9. Conheço casos de crentes que recusaram perdoar irmãos que os ofenderam, mesmo quando estes se confessaram desejosos de reconciliação. Pedimos a Deus (e quão facilmente!) que nos perdoe as nossas ofensas, porém a condição é clara e inexorável: que perdoemos ao que peca contra nós.
"Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tg 4.3). Alguns não recebem bênçãos porque não as pedem v.2 , mas há outros que pedem, porém não recebem, por causa do seu egoísmo; são carnais, procurando prosperidade, conforto, saúde e outras bênçãos materiais, unicamente para seu próprio prazer, para ter uma vida sossegada, cômoda e folgada; não consagram as suas bênçãos para o serviço de Deus e Seu povo. As nossas orações quando as fazemos, consistem somente em petições egoístas com o intuito de facilitar os nossos interesses materiais? Consagremo-nos de novo!…
" Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus.... e ser-lhe-á concedida; peça-a porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante a onda do mar… não suponha esse homem que receberá do Senhor alguma coisa - homem de animo dobre, inconstante em todos os seus caminhos" (Tg 1.5-8). Eis um obstáculo terrível à oração eficaz – a insinceridade. O crente pede a sabedoria, a direção divina em certa perplexidade ou dúvida no seu caminho. Porém ele não tem um verdadeiro desejo de acertar e seguir a direção do Senhor; ele quer tomar certo caminho seu, e resolveu tomá-lo, e embora pedindo a direção divina, realmente ele quer que Deus confirme o que já resolveu fazer! Um exemplo deste "animo dobre" é Balaão; vacilava ente a obediência a Deus (pois era profeta) e o desejo de receber o galardão prometido pelo rei Balaque (Nm 22). Sejamos sinceros em buscarmos a direção divina!
Finalmente, temos em 1ª Pe 3.7 uma palavra ao marido crente, exortando-o a viver "a vida comum do lar" com consideração pela esposa, "para que não sejam impedidas as vossas orações". Marido e esposa são "co-herdeiros da graça da vida", e deviam orar juntos sobre a vida familiar e outros interesses comuns; mas como podem fazer isso, se o marido é arrogante, briguento e egoísta?
Eis aí então, algumas coisas que a Bíblia considera como obstáculos à oração. Há mais! Porém, não temos mencionado como obstáculos as circunstâncias adversas – a assim chamada "força maior" – que alguns crentes alegam como desculpa por não orarem. Creio que há poucas circunstâncias que podem realmente impedir a oração. Daniel estava em perigo de morte horrível se orasse - porém orou "como costumava fazer" (Dn 6.10); Jonas achava-se em "circunstâncias adversas" dentro do grande peixe – porém orou! Paulo, embora na prisão, orava – não pedindo que fosse libertado, mas que os crentes fossem fortificados na fé (Ef 1.17; 3.14; Fp 1.4; 2ª Tm 1.3, etc).
Se as Escrituras nos condenam a respeito deste assunto tão importante, vamos trazer tudo diante do Senhor (1ª Jo 1.9), para assim entrarmos no gozo e no poder de 1ª Jo 3.20-22.