Os nomes dados às pessoas identificadas na Bíblia são muitas vezes relacionados com as circunstâncias em que nasceram, mas também algumas vezes são notavelmente confirmados por fatos marcantes nas vidas dessas pessoas: é como se fossem proféticos.
Encontramos em suas páginas dois personagens, por demais conhecidos que, ao nascer, receberam de seus pais o nome hebraico que, traduzido, seria "Solicitado". Entre o nascimento de um e outro decorreu um milênio, mais uns poucos anos.
Ambos eram da tribo israelita de Benjamim, seus pais, ao que tudo indica, eram homens de posses. Não sabemos muito sobre a educação do primeiro, mas certamente o segundo teve a melhor educação possível para um judeu da sua época.
Em sua maturidade, os dois se destacaram no meio em que viviam, mas em determinado momento chegaram a uma encruzilhada nas suas vidas: tanto um como o outro perseguiam enfurecidos um "ungido do Senhor", quando Deus interveio de uma maneira sobrenatural. Os caminhos que tomaram, em seguida, determinaram o seu destino.
Esses dois personagens, foram o rei Saul e Saulo de Tarso.
O rei Saul foi solicitado pelo SENHOR para livrar o Seu povo da mão dos filisteus (1 Samuel 9:16), pois o povo de Israel queria um rei. Em nome do SENHOR foi ungido em particular como líder do povo de Israel por Samuel, e mais tarde foi sorteado e coroado rei pelo povo, e confirmado nessa posição mais tarde com a sua primeira vitória, sobre Naás o amonita.
Saul se revelou corajoso e hábil no comando, mas, com o tempo, o seu caráter foi mudando; ou, talvez, o seu verdadeiro caráter começou a transparecer. Tendo agora alguma experiência da sua posição de autoridade, ele passou a agir com mais arrogância:
Seu filho Jônatas ganhou uma vitória marcante sobre os filisteus em Gibeá, provando ser um líder militar de valor, mas Saul mandou apregoar que a vitória fora dele, Saul. Seu egoísmo impediu que desse a seu filho a honra que lhe era devida.
Ordenado a nada fazer sem as instruções de Samuel, ele tomou a iniciativa de oferecer ele próprio o holocausto e as ofertas pacíficas (que só era permitido aos sacerdotes levitas), porque Samuel demorava a aparecer. Por causa dessa sua presunção, a sua descendência perdeu o direito hereditário ao trono de Israel, e Saul foi avisado que o SENHOR iria substitui-lo por outro homem.
Mais tarde ele foi instruído por Samuel, por parte do SENHOR, para que destruísse totalmente o povo amalequita. Saul obedeceu, mas somente em parte, porque aprisionou a Agague, rei dos amalequitas, e dos animais e objetos sódestruiu o que era vil e desprezível, poupando o que era bom e aproveitável. Ainda, orgulhosamente, construiu um monumento para si. Inquirido por Samuel, Saul procurou justificar-se colocando uma capa de piedade: ele queria os animais mais excelentes para oferecer em sacrifício ao SENHOR Deus de Samuel! Samuel então disse a frase, repetida muitas outras vezes na Bíblia: "obedecer é melhor do que o sacrificar" (1 Samuel 15:22). Não que Deus não se agrada de sacrifícios pessoais feitos para Ele, mas em primeiro lugar vem a obediência, sem a qual pouco valem os sacrifícios. Lembremos que o Senhor Jesus disse "Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando" (João 15:14), e o seu mandamento é que nos amemos uns aos outros; Ele juntou os dois conceitos quando disse aos fariseus: "misericórdia quero, e não holocaustos", citando Oséias 6:6. Samuel declarou também que a rebelião e a obstinação são pecados tão sérios quanto "a feitiçaria e a idolatria e o culto a ídolos do lar". Por causa disso Saul foi rejeitado como rei, pelo SENHOR.
Algum tempo depois, Saul chegou à encruzilhada da sua vida, já caracterizada pelo seu declínio espiritual. Um humilde pastor de ovelhas, contratado por ele para tocar harpa, revelou ser valente e fiel ao SENHOR chegando a vencer o temível gigante filisteu Golias em um duelo; promovido a oficial do exército, esse pastor, chamado Davi, ganhou muitas batalhas para os israelitas tornando-se um herói nacional. Movido por ciúmes, Saul procurou matá-lo, mas Davi escapou e eventualmente foi até o profeta Samuel. Davi havia sido ungido por Samuel em nome do SENHOR, anos antes, para assumir o trono em lugar de Saul. Não conseguindo que seus homens o aprisionassem, Saul foi até Samuel ele mesmo, e nessa ocasião o Espírito do SENHOR, que o havia deixado, veio novamente sobre ele: ele passou a profetizar, tirou a sua túnica e se deitou em terra por um dia e uma noite. Novamente tendo sobre si o Espírito do SENHOR, despido das suas vestes reais, Saul teve a oportunidade de humilhar-se diante de Deus, deixar o seu pecado e submeter-se à Sua vontade. Lamentavelmente não o fez.
o Saul prosseguiu no seu vil caminho de perseguição homicida ao ungido do SENHOR. Em seu furor paranóico matou oitenta e cinco sacerdotes do SENHOR e os habitantes da cidade onde viviam. Por fim, abandonado por Deus e cercado por inimigos, suicidou-se. Foi um trágico desfecho da vida de um homem que havia sido escolhido por Deus para eliminar os inimigos de Israel.
O outro "Solicitado", que conhecemos como o apóstolo Paulo, era de família judia, altamente instruído e muito religioso: ele pertencia ao ramo de judaísmo ultra-ortodoxo dos fariseus. Tinha ainda a privilegiada cidadania romana.
Acompanhando os seus líderes religiosos, Paulo estava convicto que o nazareno Jesus, executado por Pilatos, era um impostor e que os que ainda espalhavam a idéia que ele fora o Messias das profecias deveriam ser eliminados. Paulo relatou mais tarde ao rei Agripa que havia encerrado muitos dos santos nas prisões, e contra eles dava o seu voto, quando os matavam. Julgava que, com o seu zelo, agradava a Deus (João 16:2).
É a mesma cegueira que, mesmo em nossos dias, impede multidões de admitirem a realidade do Evangelho de Jesus Cristo. Mesmo crendo na realidade de Deus, ficam presos a religiões que consistem de rituais, sacrifícios, ascetismo e superstições, chegando mesmo à idolatria, julgando que podem agradar a Deus mediante as suas obras.
Sem o saber, Paulo estava perseguindo o Ungido de Deus: o Messias, através do Seu corpo, a igreja de Deus. Em Sua misericórdia por este israelita religioso, sincero, mas mal orientado, Deus interveio. Aconteceu no caminho de Damasco, para onde Paulo ia com a intenção de prender e trazer de volta a Jerusalém "alguns que eram do Caminho" caso os achasse lá: o próprio Senhor Jesus se manifestou a ele de forma sobrenatural e o alertou do erro em que andava; também declarou que iria constituí-lo Seu ministro e testemunha.
Esta foi a encruzilhada na vida de Paulo: sua opção era entre continuar com a sua religião tradicional, eliminar a oposição e alcançar posições de mais destaque em sua sociedade, ou crer na realidade do que havia ouvido, admitir que Jesus era realmente o Messias, submeter-se e obedecê-lO. Ele sabia que a segunda opção traria grandes sacrifícios, a perda de sua posição e autoridade, e o ódio dos seus colegas e mestres. A mesma encruzilhada se oferece a muitos que ouvem o Evangelho hoje em dia.
Paulo, em suas próprias palavras, "não foi desobediente à visão celestial":
Após ser batizado por Ananias e recobrar sua vista, cheio do Espírito Santo, Paulo entrou nas sinagogas e "pregava a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus". Depois, enfrentando espanto, incredulidade e ódio, ele anunciou "primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento".
Embora antes fosse irrepreensível quanto à justiça que há na lei, ele considerou tudo como perda: perdeu todas as cousas que havia conquistado e as considerava como refugo, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, o Senhor (Filipenses 3:4-11).
Fez muitos inimigos, que procuravam matá-lo, teve que enfrentar grandes aflições, prisão e toda a espécie de sofrimento. Mas a sua luta não era contra eles. O rei Saul havia sido convocado para livrar Israel dos filisteus - o apóstolo Paulo para abrir os olhos do povo e dos gentios e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus (Atos 26:18). Ele colocou a luta desta forma: "nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Efésios 6:12).
Quando julgava que seu ministério estava chegando ao fim, Paulo escreveu ao seu filho na fé, Timóteo: "combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada" (2 Timóteo 4:7-8). A sua consciência estava tranqüila: ele havia cumprido fielmente aquilo para o que havia sido solicitado. Não era arrogância ou empáfia da parte dele, mas uma avaliação honesta do seu desempenho. Realmente ele foi um instrumento precioso nas mãos de Deus, e com o Seu poder ele usou de todas as oportunidades para levar o Evangelho aos lugares mais distantes, e, quando preso, escreveu suas magistrais cartas a igrejas e indivíduos onde encontramos as doutrinas fundamentais da nossa fé cristã.
Que contraste vemos entre estes dois homens, ambos solicitados por Deus para o Seu serviço: um, tendo o apoio de todo o seu povo, foi à ruína levado pelo egoísmo, presunção, desobediência e inveja; ele não se arrependeu do seu caminho mesmo sabendo que estava ofendendo ao SENHOR. O segundo, religioso mas espiritualmente cego, prontamente corrigiu o seu erro quando este lhe foi apontado pelo próprio Senhor Jesus, e com toda a humildade se dedicou com grande sacrifício próprio a cumprir fielmente o que Deus lhe havia solicitado, tornando-se com isso um gigante da fé.
Todos nós, que recebemos a Jesus Cristo como nosso Senhor na encruzilhada mais importante da nossa vida, também somos solicitados para o Seu serviço. Imitemos o exemplo do apóstolo Paulo e teremos também sucesso e a coroa da justiça; por outro lado, sejamos advertidos pelo exemplo do rei Saul, para não nos deixar cair nas mesmas armadilhas que o levaram ao fracasso.