Certa vez Deus reclamou do Seu povo, Israel, por causa da sua religiosidade interesseira. Os judeus estavam se queixando que era inútil servir a Deus: eles não recebiam nenhum benefício por guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do seu Deus. Eles viam felizes os que confiavam em si próprios, e prosperando os que não respeitavam a Deus. Esses tais não eram castigados por sua desobediência (Malaquias 3:13-15).
Em outras palavras, eles consideravam a boa saúde, prosperidade material e impunidade aparente dos que não temiam a Deus como bênçãos, portanto não viam nenhuma necessidade em se sacrificar para obedecer aos preceitos do Senhor. Eles chegaram inclusive a pensar que “qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do SENHOR, e é desses que ele se agrada, pois Ele não castiga” (Malaquias 2:17). O SENHOR Se declarou ofendido com essas palavras e sentimentos, que eram duros para Ele.
Vamos aqui considerar duas coisas: o motivo para servir a Deus e a natureza das bênçãos de Deus.
Aquele povo tinha um motivo egoísta para servir a Deus: eles esperavam ser recompensados por isso. Não serviam a Deus de boa vontade e com prazer, o que se torna claro ao dizerem que andavam de luto diante do seu Deus. Como as recompensas não vinham imediatamente, sem dúvida a tristeza deles aumentava. Se tivessem sido motivados por amor, ou mesmo pelo temor a Deus, sua atitude seria muito diferente. Igualmente temos hoje em dia muitos que praticam uma religiosidade aparente: comparecem aos cultos e reuniões da igreja, fazem rituais, dão esmolas e até praticam a caridade, pelo mesmo motivo egoísta. Eles não têm nenhum prazer nisto, e como aqueles judeus, eles se verão desiludidos porque não encontrarão nenhum resultado imediato.
A natureza das bênçãos de Deus também não estava sendo entendida. A nação de Israel recebia bênçãos de espécie material, e recebia paz e prosperidade em troca da sua lealdade ao SENHOR seu Deus. Todavia, as bênçãos de Deus aos que O temem e amam são muito mais valiosas e duráveis do que boa saúde e riqueza material nesta vida: como lemos no Salmo 73:23-27, de Asafe: “Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo.” Provas e tribulações (não saúde e prosperidade), são a porção aqui em baixo de quem quer que tema a Deus e confie no Senhor Jesus, como Ele próprio sofreu durante o Seu ministério na terra. A sua herança e recompensa estão esperando por eles no céu.
Entre o povo a quem foi dirigida a profecia de Malaquias, havia alguns que realmente temiam a Deus. Por causa dos seus sentimentos em comum com relação a Ele eles “falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome. ‘Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei,’ diz o SENHOR dos Exércitos; ‘poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve.’” (Malaquias 3:16-18)
Isso nos traz à mente o povo de Deus em nosso tempo, que é chamado de igreja de Cristo. A igreja de Cristo nada tem a ver com as construções de alvenaria e pedra, ou com as instituições feitas pelos homens que se denominam igrejas, mas é composta de todo o povo desde o tempo de Cristo que, porque tem o temor a Deus, veio ao Senhor Jesus e O recebeu como seu Senhor e Salvador pessoal.
Por causa da sua fé comum eles têm se congregado em grupos locais para gozar comunhão e para instrução, apoio mútuo e crescimento “para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (Efésios 2:21-22).
Cada grupo local é uma igreja de Deus em si mesmo. Tem uma vida própria, sob a supremacia de Cristo: ela nasce e também pode morrer: não tem garantia de perpetuidade. A igreja local pode morrer por causas naturais: se não houver remanescente depois da morte ou mudança dos seus membros; ou pode morrer por causas espirituais: envenenada por heresias, contaminada por alianças com o mundo ou sufocada por regulamentos e tradições de homens.
Voltando aos fiéis daqueles tempos, aprendemos que “o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome.” Algumas passagens na Escritura nos falam dos livros de Deus. Diz-se que nomes de pessoas são escritos, e parecem correr o risco de ser apagados. Naturalmente Deus nunca esquece e não precisa de um memorial para lembrar-Se. Podemos pensar que o memorial aqui mencionado seja uma figura de linguagem, mas é certamente possível e mesmo provável que algum tipo de registro é mantido no Céu para o uso das Suas criaturas quando cumprem os Seus decretos. Para nós é mais fácil entendê-lo na forma de livros, com que estamos acostumados.
Só os nomes dos “que temem ao SENHOR” e dos “que se lembram do seu nome” estão escritos no memorial. Isso nos lembra de Apocalipse 20:12-15, onde está profetizado que muitos livros serão abertos diante do grande trono branco, mas somente um da Vida. Os mortos serão julgados de acordo com as suas obras conforme os livros, mas “se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.”
O Livro da Vida, portanto, contém os nomes de todos aqueles que são salvos, enquanto que os outros livros dizem respeito às obras. Como a salvação vem pela fé e não por obras, quaisquer obras e seus registros parecem ser de relevância apenas aos salvos.
O memorial escrito diante do SENHOR de que lemos em Malaquias, para os que temem ao SENHOR e que se lembram do Seu nome, é provavelmente um dos muitos existentes para registro das suas obras. Eles foram salvos, pois Deus os poupará “como um homem poupa a seu filho que o serve.” Isso nos lembra também que aqueles que são salvos pela fé no Senhor Jesus Cristo são adotados por Deus como Seus filhos.
Encontramos uma referência ao livro de Deus no Salmo de Davi 56:8: “Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” O SENHOR sabe exatamente onde estivemos e o que fizemos todo o tempo, mesmo se a nossa família, vizinhos e amigos o desconhecerem. Ele também conhece o nosso sofrimento, as lágrimas que derramamos, porque Ele as recolheu no Seu odre - outra figura de linguagem - e estão no Seu livro. Um dia delas seremos lembrados e poderemos ficar surpresos.
O povo de Israel ansiava pelo dia quando o SENHOR seu Deus cumpriria a Sua promessa aos patriarcas e estabeleceria Israel sobre todas as nações sob a Sua soberania. Eles esperavam a vinda do Messias a qualquer momento para essa finalidade. Deve ser a este dia que a profecia aqui se refere, quando os fiéis serão particular tesouro para o SENHOR dos exércitos. Eles serão o Seu ornamento em Seu reino.
É uma maneira encantadora de expressar quão preciosos os fiéis de Israel são para Ele. E aqueles que compõem a Sua igreja estarão também ali para reinar com Ele. A igreja é representada pelo Senhor Jesus como uma pérola de grande preço, comprada com o Seu próprio sangue precioso.
O remanescente dos que são tementes ao Senhor que estiverem vivos no início do Seu reino (o milênio) serão poupados “como um homem poupa a seu filho que o serve.” “ Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve”. Naqueles dias de Malaquias os que temiam a Deus e os que fingiam servi-Lo não se distinguiam facilmente. O SENHOR sempre sabe porque Ele pode ver o coração do homem. O mesmo acontece em nossos dias e assim será também no fim desta era. O Senhor Jesus contou a parábola do trigo e do joio que ilustra esse fato. No entanto, no dia em que Deus escolheu, o dia do Seu juízo quando Cristo voltará outra vez, Ele vai separar o justo do perverso e todos virão a saber quem são.