O voto a que a pergunta se refere foi: "Jefté fez um voto ao SENHOR e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do SENHOR, e o oferecerei em holocausto." (Juízes 11: 30 e 31).
Vitorioso sobre os amonitas, Jefté voltou para sua casa e "eis que a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela só, a única; não tinha outro filho nem filha. E aconteceu que, quando a viu, rasgou as suas vestes e disse: 'Ah! Filha minha, muito me abateste e és dentre os que me turbam! Porque eu abri a minha boca ao SENHOR e não tornarei atrás'" (Juízes 11:34-35). E assim fez: "E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha feito; e ela não conheceu varão" (Juízes 11:39).
Teria ele realmente oferecido a sua filha em holocausto? Esta é uma pergunta que tem sido debatida através dos séculos e muitos comentaristas respeitados opinam que sim, o que dá origem a essa pergunta.
Essa interpretação decorre das palavras traduzidas como "e o oferecerei em holocausto", sem levar em conta a possibilidade de outra tradução, as circunstâncias das pessoas envolvidas, a lei de Moisés e todo o contexto desse episódio.
O original hebraico permite uma sutil modificação no sentido das palavras, de forma que a segunda parte não é necessariamente conseqüência direta da primeira, ou seja, no caso do SENHOR lhe dar a vitória, Jefté promete:
Essa interpretação é mais coerente, pois:
a lei de Moisés proíbe o homicídio (Êxodo 20:13),
também proíbe sacrifícios humanos (Levítico 18:21; 20:1-5, Deuteronômio 12:31)
Jefté era um homem provadamente temente a Deus, e evidentemente conhecedor da lei de Moisés; ele sabia que o SENHOR se aborreceria com um holocausto humano, embora fosse feito pelos cananeus aos seus ídolos.
Jefté (Quem Deus Liberta) havia sido marcado pelo seu nascimento infeliz, de uma prostituta. A lei de Moisés mandava "nenhum bastardo entrará na assembléia do SENHOR; nem ainda a sua décima geração entrará nela" (Deuteronômio 23:2). Seus irmãos por parte do pai, legítimos, o rejeitaram e ele havia sido banido dentre o seu povo. No entanto, era um homem valente e juntou ao redor de si um grupo de outros rejeitados pela sociedade nas cercanias de Tobe, ao norte de Amom, e com eles saqueava a região habitada pelos inimigos de Israel (como Davi também faria mais tarde - 1 Samuel 22:2).
Sofrendo por causa da sua origem, da qual era inocente, ele não desanimou, e Deus o usou mais tarde. Se tivermos de sofrer por culpa de outros, não fiquemos paralisados pela amargura, mas sigamos com coragem. Deus ainda pode nos usar, mesmo se nos sentirmos rejeitados por aqueles que nos cercam.
Por causa de preconceitos e costumes da sociedade, vizinhança ou mesmo igrejas, existem pessoas que se acham isoladas ou afastadas da comunhão dos seus irmãos. Seu potencial não é usado. Sabemos que todo o crente tem um lugar na família de Deus. Procuremos ajudar essas pessoas a serem aceitas em virtude do seu caráter e dos seus dons. Deus poderá usá-los.
Um dia, precisando de um homem valente para enfrentar os seus inimigos, os anciãos de Israel lembraram-se novamente de Jefté e foram buscá-lo no exílio onde se encontrava, propondo que ele chefiasse o seu exército. Estabelecidas as condições, ele voltou à sua terra de Gileade e recebeu sua nomeação pelo povo em uma cerimônia oficial, e depois solenemente declarou suas palavras diante do SENHOR em Mispa (Torre de Vigia). Vemos aqui que o seu Deus é claramente o SENHOR.
Após uma tentativa de resolver diplomaticamente a questão com os inimigos, os amonitas, o Espírito do SENHOR veio sobre Jefté, e ele foi até onde estavam o amonitas, quando então fez esse voto.
Teria este sido um voto irrefletido? Parece-me que Jefté foi dirigido pelo Espírito Santo ao fazê-lo e embora ele não soubesse qual seria o seu desfecho, o SENHOR sabia. Em seguida ao voto, o SENHOR deu a Jefté uma vitória absoluta sobre o inimigo, indicando que tinha a Sua aprovação.
Jefté não tinha outros filhos além dessa sua filha que lhe foi ao encontro festejando a vitória. Isso explica a sua grande tristeza ao perceber que, por causa do voto que fizera, tinha agora que dá-la ao SENHOR: ele jamais poderia dá-la em casamento, ela seria obrigada a permanecer virgem por toda a vida, e ele ficaria sem descendência porque não tinha outros filhos. Fica claro agora que o voto, segundo a vontade do SENHOR, evitou que surgisse uma descendência dele que estaria debaixo da maldição da lei.
Fazer um voto diante de Deus é coisa séria: "quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras." (Eclesiastes 5:4,5). Tem gente que, impulsionada por um apelo comovente, sem se dar tempo para refletir, promete mundos e fundos para alguma causa ou vai à frente prometendo dedicar-se em tempo integral à obra missionária, etc. Mais tarde, não consegue cumprir a sua promessa. Não devemos prometer mais do que podemos fazer.
Embora Jefté desejasse muito ter uma descendência, e sentisse muito por sua filha a quem amava, ele foi fiel ao seu voto feito diante do SENHOR. A sua filha também conformou-se, resignada, ao cumprimento do voto do seu pai, apenas obtendo a sua permissão para primeiro visitar suas amigas para lamentar o seu destino com elas por dois meses.
Era uma tragédia para ela, pois as jovens naquele tempo só se achavam realizadas quando casavam e tinham filhos, e as solteironas ou mulheres sem filhos eram desprezadas. Ela nunca poderia se tornar numa honrada mãe em Israel, e a sua vida seria dedicada ao SENHOR, humildemente servindo no tabernáculo. É um caso inédito na Bíblia, tanto que se tornou um costume em Israel as moças saírem todos os anos por quatro dias para celebrar a memória dessa jovem.
O SENHOR abençoou Jefté pela sua fidelidade, e deu-lhe mais uma vitória importante sobre os guerreiros revoltosos de Efraim. Apesar de ter sido desprezado e expulso pelo seu povo da sua terra por causa da sua origem, ao confiar no SENHOR Jefté provou ser um homem de fé, ao cumprir as suas promessas e o seu voto provou ser um homem de palavra, e ao agir sem hesitação embora com prudência provou ser um homem de ação e firmeza. Pelas suas grandes qualidades ele julgou a Israel seis anos, e foi incluído com outros heróis da fé em Hebreus 11:32.