Este é um dos muitos mandamentos que o Senhor Jesus deu aos Seus discípulos no chamado Sermão do Monte, introduzindo o Seu reino. É notável que, embora uma grande multidão O seguisse naquela ocasião, Ele primeiro subiu uma montanha onde se assentou e dele se aproximaram os seus discípulos. O sermão foi dirigido aos discípulos, que já Lhe pertenciam, e não às multidões.
O Sermão do Monte contém normas de comportamento que serão impostas e praticadas quando Cristo voltar para reinar em perfeita justiça no mundo. Mas todo aquele que O recebe como seu Senhor, agora, precisa conhecê-las para colocá-las já em prática em submissão a Ele. Para isso o crente conta com o poder do Espírito Santo, sem o qual ninguém pode alcançar estes altos padrões.
É impossível conseguir impor essas normas sobre os rebeldes incrédulos. A lei de Moisés fora dada ao povo de Israel para educá-lo nos padrões da justiça de Deus, e, convicto do seu pecado, conduzi-lo ao Filho de Deus que viria trazer o conhecimento da Sua perfeita justiça, que vem pela fé (Gálatas 3:24). O Sermão do Monte evidencia o mais alto padrão de justiça requerido dos cidadãos do Reino de Deus, e só o Evangelho da graça de Deus pode trazer a justificação necessária para que alguém se habilite a obedecer ao Messias.
Entre os assuntos abrangidos pelo Sermão do Monte está a oração pessoal (Mateus 6:5-14). Esta deve ser feita com a mesma discrição de um filho que fala em particular com o seu Pai, ou seja, em nosso quarto, com a porta fechada, para estarmos a sós com Deus sem exibirmos nossa piedade aos outros. Deus pode nos ver, e ouvir, e Ele nos recompensará pela nossa atitude.
Não usemos repetições constantes como para exigir a Sua atenção. Nosso Pai sabe o que nos é necessário antes de o pedirmos. Somos, no entanto, instruídos a orar porque assim reconhecemos a nossa necessidade e a nossa dependência do suprimento que vem do Pai. Essa é a base da nossa comunicação com o Pai, mas também Ele nos dá coisas em resposta à nossa oração que Ele de outra forma não nos daria (Tiago 4:2).
Pacientemente o Senhor Jesus nos diz como devemos orar, dando-nos um modelo básico para ser seguido em nossas orações, nunca para ser pronunciado como uma fórmula mágica ou repetido vez após vez como castigo ou penitência. Também não foi dado para que se memorizem as palavras e depois sejam repetidas em um ritual, pois com isto as frases se tornam apenas formais e sem aplicação pessoal. Uma vã repetição.
Neste modelo, bem conhecido por todos nós, começando com as palavras: "Pai nosso, que estás nos céus", seguindo-se a adoração e louvor, e a expressão do nosso desejo pela vinda do reino de Deus na terra, passamos a orar pelas nossas próprias necessidades. O pedido "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" manifesta o nosso reconhecimento que dependemos de Deus para as nossas necessidades, tanto físicas como espirituais.
O ensino que começa por "pedi e dar-se-vos-á" complementa este pedido. O Senhor Jesus está ensinando que devemos ativamente pedir, buscar e bater à porta de nosso Pai, que está nos céus, a fim de obter o que precisamos. Estas são as ações de quem sabe do que precisa, sabe quem o pode conceder, e se sente livre para "incomodá-lo" com o seu pedido. Vejamos cada um destes itens:
Sabe do que precisa: existem necessidades imediatas, práticas e materiais, incluindo curas de enfermidades, do tipo do "pão nosso de cada dia": destas não costumamos esquecer. Mas convém também avaliarmos nossas necessidades em outras áreas, como deficiências que podemos perceber em nosso próprio caráter, as tentações que sentimos e das quais queremos nos livrar, o poder do Maligno que nos cerca, as oportunidades de servirmos ao Senhor proclamando e anunciando o Evangelho sem temor, a sabedoria e a revelação da vontade Deus em nossas vidas, o controle da nossa língua, a nossa completa santificação, as condições permitidas pelas autoridades para que tenhamos uma vida quieta e sossegada em toda a piedade e honestidade, e outras do gênero. Pensemos também nos outros, e façamos intercessão por eles: nossos irmãos na fé, os missionários e evangelistas, os novos convertidos, os nossos inimigos, as autoridades.
Sabe quem o pode conceder: invariavelmente é Deus, o Pai. Este é o ensino uniforme em toda a Bíblia. Existe apenas um versículo, João 14:14, em que foi inserido o pronome "me" em algumas versões, dando a entender que se deve pedir ao Senhor Jesus. Isto se deve ao fato que essas versões são traduções feitas da Vulgata Siríaca Peshita Aleph B33 onde consta esse pronome, em contradição com os demais textos bíblicos. O Senhor Jesus mesmo ensinou aos Seus discípulos que "naquele dia (depois da Sua ascensão) nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, Ele vo-lo há de dar. Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra." (João 16:23,24). Deus tudo opera através do Filho, "para que o Pai seja glorificado no Filho". Mas se pedirmos ao Filho, em Seu próprio nome (um contra-senso) onde fica o Pai, para receber a glória se Ele nos der o que pedimos?
Sente-se livre para "incomodá-lo" com o seu pedido: essa liberdade nos é garantida em Sua Palavra (p.ex. Filipenses 4:6) e, não só temos a liberdade para vir à Sua presença com nossos pedidos, mas somos encorajados e incentivados a fazê-lo (1 Timóteo 2:1). Lembremos que, segundo o modelo do "Pai Nosso", devemos pedir perdão pelos nossos pecados (infrações e omissões da perfeição requerida da nossa posição de filhos de Deus), tendo também já perdoado aos que nos prejudicaram de alguma forma, tornando-se assim nossos devedores. Convém sempre lembrar que a dívida que Deus já nos perdoou, que custou o precioso sangue de Cristo, é sempre maior do que qualquer uma que alguém tenha para conosco. É difícil mantermos nossa comunhão com Deus se não perdoarmos aqueles que nos ofendem, obedecendo ao Seu mandamento.
"Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?" (Mateus 7:11). Quando pedimos, nosso Pai nos dará bens: sabendo melhor do que nós aquilo que precisamos, a Sua resposta poderá ser surpreendente, talvez bem diferente daquilo que estamos esperando. Mas será para nosso bem.
Concluindo, lembremos as sábias palavras que um autor desconhecido nos deixou:
Mateus 6:5-14
E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.
E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes.
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém!
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.
Tiago 4:2,3
Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.