"Não matarás" é um mandamento antigo (Gênesis 9:6) e corresponde ao assassínio, no sentido de um homicídio voluntário, geralmente cometido com premeditação (veja exemplos em Gênesis 4:8-23, Êxodo 20:13, 21:14,20,29, Levítico 24:21; Números 35:16-34, Deuteronômio 5:17; 19:11-13). É uma regra de ordem geral e, como tal, sujeita a exceções. Por exemplo, no caso de autodefesa, no da execução de criminosos (que também foi ordenada por Deus), ou no da ação militar de responsabilidade do Estado (autoridade instituída por Deus – Romanos 13:1-4). A destruição e extinção dos cananeus pelos israelitas foi ordenada por Deus, que é a suprema Autoridade. Deus usou os israelitas como instrumento de justiça, para eliminar os povos extremamente corruptos, imorais e idólatras que habitavam a Terra Prometida, para que não aprendessem a também fazer as suas abominações (Deuteronômio 20:16-18).
Deus tem domínio sobre o universo, e isso inclui a enfermidade no corpo humano. Ele proveu nossos corpos com defesas que por si só, ou com o auxílio de produtos químicos, podem evitar ou combater as doenças. Por exemplo, o rei Ezequias orou pedindo que fosse curado e Deus atendeu ao seu pedido mas por meio de uma pasta de figos que o profeta Isaías instruiu que fosse aplicada na úlcera para que recuperasse a saúde (Isaías 38:21). Deus lhe havia concedido a cura, então por que havia necessidade do emplastro? Deus estava estabelecendo um princípio: quando enfermos, oremos a Deus mas também usemos os remédios disponíveis.
O uso de médicos e remédios nunca é condenado na Bíblia, ao contrário, em várias ocasiões é recomendado. No entanto o corpo humano é perecível, e um dia vai morrer a despeito dos esforços feitos para prolongar a vida. As enfermidades são adquiridas do meio ambiente, muitas vezes por deficiência no sistema imunológico de defesa do organismo, ou mesmo por sua inexistência em alguns casos. Estamos agora muito longe da perfeição que havia quando o homem foi primeiro criado.
Nós, os crentes em Cristo, sabemos que nossa estada aqui é passageira, e que não devemos nos preocupar com a nossa vida neste mundo. Ela está nas mãos de Deus, e nossas tribulações têm uma finalidade útil, para nós e para os outros. Cuidemos da nossa saúde, sim, como bons dispenseiros daquilo que Deus nos deu. Usemos dos recursos que estiverem ao nosso alcance, mas lembrando que Deus é soberano, estejamos sempre de bom grado submissos à Sua vontade.
Quanto ao nosso auxílio aos outros, devemos amar ao nosso próximo como a nós mesmos. Lembremos da parábola do bom samaritano, que cuidou do restabelecimento do judeu que havia sido abandonado como morto pelo jurista e pelo sacerdote. Se pudermos ser úteis no restabelecimento da saúde do nosso próximo, sigamos o exemplo do samaritano, mesmo recorrendo aos equipamentos mais modernos.
Mas a decisão de suspender o fornecimento de recursos, como a retirada de aparelhos de respiração e alimentação sempre será muito difícil, especialmente se é sabido que resultará na morte do paciente porque seu corpo já não é viável. Se for crente, menos mal, porque passará para a presença de Deus onde estará muito melhor. Se for incrédulo, procuremos levá-lo a Cristo para salvar a sua alma. Se o seu cérebro já estiver paralisado, morto, seu estado eterno já estará determinado, aliviando quem dele cuida da responsabilidade pela sua alma. Em suma, devemos cuidar da saúde nossa e do nosso próximo dentro das nossas possibilidades, visando a glória de Deus.
Retirar os meios artificiais de sustentação da vida de alguém requer profunda reflexão, mas se for decidido que deve ser feito, isto não consiste em homicídio. Mais informações poderão ser obtidas aqui.
Não temos o direito de interferir com a natureza, determinando se um feto deve ser abortado ou não. Embora seja aparente na Bíblia o princípio que uma pessoa só adquire identidade como ser humano ao nascer (p.ex.Gênesis 16:11), também Deus tem identificado pessoas mesmo antes do seu nascimento, chegando a dizer a Jeremias “Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta” (Jeremias 1:5).
Os ovos, embriões e fetos humanos são imaturos e dependem inteiramente de sua mãe para sua nutrição e sobrevivência. Alguns, portadores de defeitos congênitos tão sérios que os tornam inviáveis, são abortados pela mãe. É uma salvaguarda natural, sem ação humana. Esse processo infelizmente sofre perturbações, seja por mau funcionamento dele próprio, acidentes ou por interferência médica. Alguns fetos, que deveriam ao nosso juizo ser expelidos naturalmente por ser inviáveis, como parece ser o caso em foco, não o são.
A gravidez é terminada artificialmente por motivos considerados legal e clinicamente justos em alguns países, e Deus saberá julgar a justiça do ato. O crente deverá se sujeitar à vontade e à providência de Deus, mesmo sem saber o motivo do que lhe sobrevem, e cuidar do novo ser que lhe tenha sido confiado com todo o carinho para que os propósitos de Deus sejam cumpridos.