A resposta simples e imediata a esta pergunta é um vigoroso NÃO!
A salvação a que nos referimos é o livramento da morte eterna, chamada também “perecimento”, que merecemos por causa do nosso pecado; esse livramento, também eterno, Deus dá livremente e de imediato àqueles que aceitam Suas condições de arrependimento e fé no Senhor Jesus (João 3:14-16, 36, Atos 4:12, Romanos 10:8-13, Efésios 1:13-14, 2 Tessalonicenses 2:13).
Este livramento é dado porque nosso Senhor Jesus Cristo levou sobre si o castigo pelo nosso pecado passado, presente e futuro quando morreu na cruz. Com isto somos justificados, o que significa ser declarados justos na justiça de Deus, ao invés de culpados.
Existem ainda outros sentidos para salvação, como do poder do pecado (Filipenses 2:12, etc.) e da presença neste mundo (Romanos 13:11, 1 Tessalonicenses 5:8,9, Hebreus 9:28, 1 Pedro 1:5, etc.).
Sendo agora justos, temos comunhão com Deus e isto é vida, que Ele nos dá pela sua graça. Não só isto, mas a Bíblia nos garante que essa vida é eterna.
Quando Adão foi criado, ele tinha comunhão com Deus, vida, mas não era eterna: era condicional. Ela cessou quando ele comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal; nesse dia ele perdeu sua comunhão com Deus (sua morte física ocorreu, séculos depois, porque Deus lhe vedou acesso à árvore da vida). A vida que recebemos agora, pela fé em Cristo, é incondicional. “Eterna” significa que é para sempre, não é possível mais morrer, ou nos separarmos de Deus.
Um pecador não pode ser admitido na presença santíssima de Deus, mas como temos garantida, na Palavra de Deus, a nossa comunhão eterna com Ele, temos outra prova que todo o nosso pecado foi resgatado pelo nosso Salvador. Enfim, todo o crente em Cristo nunca perderá a sua salvação pois ela também é chamada eterna (Hebreus 5:9).
As Escrituras são muito claras, mesmo enfáticas, sobre isso. Por exemplo, só no capítulo 8 de Romanos, encontramos:
versículo 1: “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus".
versículo 33: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica”.
versículo 34: “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”.
versículo 35: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?”.
versículo 38: “Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Temos aqui a garantia que absolutamente nada pode nos separar do amor de Deus, que está em Cristo nosso Senhor: visível ou invisível, natural ou sobrenatural.
Mas o diabo, como fez no Éden, procura colocar dúvida na mente do crente. Novamente ele cita a Palavra de Deus para esse fim. Talvez Hebreus 6:4-6 seja um dos textos mais usados por ele, e que tem sido pedra de tropeço para muitos.
Essa passagem permite as seguintes interpretações, ambas aceitáveis, pois harmonizam com as demais escrituras, embora sejam bem diferentes entre si:
a passagem se refere a meros professos, não a crentes genuínos. Assim as frases nos versículos 4-5 são experiências anteriores à conversão, que nunca houve. Aos crentes verdadeiros é impossível “cair”, mas os meros professos podem cair, não da situação de salvos (pois nunca foram), mas do conhecimento da verdade. A Bíblia fala claramente dos que falsamente declaram ser crentes, por exemplo 2 Pedro 2:20-22, onde são comparados ao “cão que voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada que voltou a revolver-se no lamaçal”.
a passagem se refere a verdadeiros crentes, e nada tem a ver com a salvação, mas sim com o galardão que cada um receberá no tribunal de Cristo. No versículo 6 lemos “arrependimento”, não “salvação”: Deus requer arrependimento dos crentes (p.ex. Apocalipse 2 e 3). O autor está falando das coisas que acompanham a salvação (veja o versículo 9, p.ex. Tito 3:8, 1 Pedro 2:9,12): o fruto da vida cristã e o galardão que a segue. É possível a um crente “cair” em obras infrutíferas e tudo o que construir em sua vida cristã ser consumido pelo fogo no tribunal de Cristo; ele sofrerá dano mas todavia será salvo (1 Coríntios 3:11-15, João 15:6). Essa conseqüência virá e não há lugar para arrependimento (versículos 7 e 8). Explica-se também que, porque os “hebreus” aos quais foi dirigida esta carta eram judeus convertidos, os que “caíram” teriam voltado aos sacrifícios no templo e esta era uma advertência: estavam novamente crucificando para si mesmos o Filho de Deus, do qual os sacrifícios eram símbolo, e expondo-o à ignomínia. Não queremos ouvir de Cristo: “Você falhou! Sua vida deveria ter sido um testemunho mas não foi!” A chave deste capítulo 6 de Hebreus está no versículo 9: “quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das cousas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira.” Não sejamos como bebês infrutíferos, dando mau testemunho, mas cresçamos para chegar à maturidade, o homem perfeito.
Outras passagens mal entendidas são:
Êxodo 32:32: o livro a que Moisés se referia é simbólico do pacto que Deus havia feito com Abraão, Isaque e Jacó - nada tem a ver com a salvação da sua alma. Moisés estava com o povo (32:10).
Mateus 7:15-20: é um alerta contra falsos profetas em Israel. Assim também entre nós têm havido falsos ensinadores (não são crentes genuínos) que trazem sobre si mesmos repentina destruição (2 Pedro 2:1). São reconhecidos pelos seus frutos.
Mateus 7:21-27: a chave é “fazer a vontade de meu Pai que está nos céus” (versículo 21). Quem faz a vontade dEle, vem a Cristo, reconhecendo que precisa de um Salvador.
Mateus 18:29-35: a parábola do devedor incompassivo apenas ensina que devemos perdoar os outros porque Deus nos perdoou muito mais (Efésios 4:32). Se o perdão de Deus dependesse da maneira com que perdoamos os outros, nenhum de nós seria perdoado.
Mateus 25: este capítulo não diz respeito à igreja, mas à segunda vinda de Cristo com ela, para o seu reino milenar: temos um teste da legitimidade da fé do remanescente de Israel na parábola das dez virgens (Lucas 12:35-36); a recompensa pela fidelidade dos Seus servos na parábola dos talentos; e a separação das nações conforme tiverem tratado o remanescente de Israel durante a Grande Tribulação.
Filipenses 3:12, 13: não trata da salvação de Paulo, mas do objetivo da sua vida. Salvação não é um prêmio, mas é um presente gratuito (Efésios 2:8-9). O prêmio, ou galardão, é dado por merecimento, para quem corre bem. Mais adiante lemos sobre os crentes professos, mas falsos, cujo destino é a perdição porque só se preocupam com as cousas terrenas, o que prova que nunca se converteram (versículos 18 e 19).
Hebreus 10:26: refere-se aos que conviveram com os crentes, talvez até levianamente fazendo uma profissão de fé, sem sinceridade, mas continuam vivendo em pecado provando que nunca nasceram de novo (1 João 5:18, 2 Pedro 2). Só lhes resta o juízo.
Hebreus 10:39: não é o caso que algum crente tenha “retrocedido para a perdição”, pois está claro que nós (os crentes) não estamos entre eles (os que professam falsamente). Nós, os “justos”, vivemos pela fé, sendo assim “da fé”.
Hebreus 12:14: não se refere à santificação própria (que é impossível), mas por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (Romanos 5:1).
A teoria da “perda da salvação” tem sido disseminada muito em nossos dias, sendo usada por pentecostais e carismáticos para explicar o abandono da fé por aqueles que supostamente foram “batizados no Espírito Santo” por eles. Devemos estar firmes em nossa convicção, para resistir a essa insinuação do inimigo.
Nosso Salvador e Senhor, Jesus Cristo, nos assegura que nossa salvação é permanente: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do meu Pai ninguém pode arrebatar” (João 10:27-28). Não é uma questão de nós segurarmos sempre a Sua mão: é a capacidade dEle de nos segurar na Sua! Jamais perecerão, eternamente, não deixa qualquer dúvida sobre a segurança absoluta que temos.