É de se notar que, de uma maneira geral, a Bíblia pouco diz sobre as crianças em particular, geralmente sendo apenas mencionadas junto com as mulheres como a parte mais vulnerável da população. Em Isaías 3:4 e 12 são mencionadas para tipificar a fragilidade do governo.
Deparamos, no entanto, com um pai notável, o rei Davi, que demonstrou um profundo amor por uma pequena criança, um filho seu (2 Samuel 12:13-23). Deus ia tirar a vida dessa pequena criança porque fora o resultado de um sério pecado de Davi, e ela adoeceu. Lemos sobre a aflição de Davi "Davi implorou a Deus em favor da criança. Ele jejuou e, entrando em casa, passou a noite deitado no chão. Os oficiais do palácio tentaram fazê-lo levantar-se do chão, mas ele não quis, e recusou-se a comer. Sete dias depois a criança morreu" (vs. 16-18, NVI).
Imediatamente após a morte da criança, o rei levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, trocou de roupa e em seguida entrou no santuário do Senhor e O adorou. Depois voltou ao palácio, pediu e comeu uma refeição. Muito revelador é o que ele disse aos seus conselheiros, que se admiraram com seu comportamento: "Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei e chorei. Eu pensava: Quem sabe? Talvez o SENHOR tenha misericórdia de mim e deixe a criança viver. Mas agora que ela morreu, porque deveria jejuar? Poderia eu trazê-la de volta à vida? Eu irei atéela, mas ela não voltará para mim" (vs. 22-23).
A criança não havia pecado, mas era ela que ia morrer. Seu pai sabia que quem estava sendo castigado era ele próprio, o sofrimento era todo dele, e ele pedia misericórdia do SENHOR para com ele - não para a criança. O rei Davi, um dos homens da antigüidade que mais compreendiam a Deus e O servia com notável abnegação, sabia que para a criança morrer não significava a morte eterna ou passar para um estado de "limbo" como especulam alguns teólogos mal informados, mas que iria para um lugar onde ele a encontraria depois da morte. Para a criança, seria até melhor do que ficar aqui!
Nosso Salvador trouxe a confirmação divina desse perfeito entendimento do seu ancestral, dizendo "Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus" (Mateus 10:14) e "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus" (Mateus 18:19). Ele dá dignidade às crianças pequenas, e uma posição muito privilegiada para todas elas, pois têm anjos próprios diante do próprio Deus Pai. Nenhuma delas deve ser desprezada.
Quando uma delas morre, o seu espírito vai imediatamente estar na presença de Deus. Todos os pequeninos vão para o céu, não por serem inocentes ou porque são de pais crentes, mas vão para estar com Cristo Jesus porque Ele morreu por elas. O Seu gesto, quando encontrou as crianças com as mães que queriam que Ele lhe impusesse as mãos e orasse por elas, foi muito significativo: Ele tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos e as abençoou (Marcos 10:16). As crianças eram muito novas para decidirem aceitar ou rejeitar a Cristo, por isso Ele as tomou para Si com um abraço, simbolizando o amor que tem para com os pequeninos: se morrerem antes da idade da compreensão, Ele as receberá também nos céus.
Saber e crer nisto é uma grande consolação para os pais que perdem os seus filhinhos na infância ou que por algum motivo nunca puderam chegar à maturidade mental. O Senhor Jesus mostrou que Deus é justo e compassivo e quer o bem para todos, justificando aos que são incapazes de tomar uma decisão por si próprios.
Ele deseja que as crianças venham a Ele, e nos deu um mandamento quando disse: "Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus." Uma criança que vem a Cristo ainda em sua infância, tem uma vida inteira de bênção em comunhão com Deus. Ela é vulnerável por causa da sua pouca experiência e conhecimento, mas recebe um cuidado especial do Senhor. Ai de quem levar ao pecado uma criança que crê no Senhor Jesus Cristo, pois "melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar" (Mateus 18:6 - NVI).
A evangelização de crianças é uma alta prioridade. Conta-se que o evangelista D L Moody, ao ser inquirido em casa sobre quantos haviam se convertido numa reunião da qual acabava de regressar, disse: "duas pessoas e meia". A família observou "você quer dizer que dois adultos e uma criança receberam o Senhor como Salvador!" Mas Moody retrucou "Não, não, duas crianças e um adulto receberam o Senhor", e explicou "O adulto era um velho e ele só tinha metade de sua vida para dar."
Infelizmente muitos pais estão deixando a evangelização dos seus próprios filhos para a escola dominical, organizações e outros. Se amam seus filhos, eles devem cuidar especialmente de encaminhá-los a Cristo eles próprios, não outros, dedicando-lhes o seu tempo e atenção. Não se deve esperar até que se tornem adultos - eles devem ser levados a Cristo o mais cedo possível. O Senhor disse que os adultos é que devem se fazer como crianças para entrar no Reino de Deus, logo para as crianças isso já deve ser coisa natural. É gente como elas que Ele recebe!
Finalmente, temos o primeiro mandamento com promessa: "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra." (Efésios 6:1,2). Aplica-se aos filhos de qualquer idade, mas convém que seja obedecido desde a infância.
É conduta não somente correta, mas justa porque está de acordo com a vontade de Deus. O filho deve aprender a ser obediente, assim como o Senhor Jesus fez (Hebreus 5:8). A desobediência aos pais é uma das péssimas características dos últimos dias em que nos encontramos (2 Timóteo 3:1-2).
O filho que honra seu pai e a sua mãe, sendo obediente e dando-lhes motivo de satisfação, tem a promessa de Deus de bênçãos e longa vida sobre a terra. Temos exemplos no Velho Testamento de dois filhos que não honraram seus pais, e suas vidas foram curtas: Sansão e Absalão. As promessas de Deus são permanentes e todas, inclusive esta, serão cumpridas fielmente.
1 Naquela mesma hora, chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no Reino dos céus?
2 E Jesus, chamando uma criança, a pôs no meio deles
3 e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus.
4 Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus.
5 E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta a mim me recebe.
6 Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar.
Mateus 18:1-7