Racionalismo é um modo de pensar que atribui valor somente à razão, ao pensamento lógico. Em seu sentido mais lato, racionalismo é “qualquer ponto de vista que apela à razão como fonte de conhecimento ou justificação” (Lacey). Em terminologia mais técnica, racionalismo é o método ou teoria “no qual o critério de verdade não é sentimental, mas intelectual ou dedutivo” (Bourke). Os diferentes graus da ênfase colocada sobre este método ou teoria levam a uma variedade de pontos-de-vista racionalistas, desde a posição moderada “que razão tem precedência sobre outros meios de adquirir conhecimento” até a posição radical que razão “é o único caminho para o conhecimento” (Audi).
Na tradição filosófica ocidental, o racionalismo começa com os filósofos gregos, como Pitágoras e Platão e contrasta com o empirismo segundo o qual todas as idéias nos vêm através da experiência, seja através dos sentidos ou sentimentos de dor ou prazer. Tanto no racionalismo como no empirismo procura-se descobrir a fonte fundamental do conhecimento humano, e as melhores técnicas para verificar o que pensamos que sabemos.
O racionalismo não admite verdades bíblicas (ou dogmas e ensinos de outras religiões) que não forem baseadas na razão, e nega qualquer fundamento à simples fé. Em sua posição mais radical, o racionalismo se opõe ao cristianismo, pois o cristianismo legítimo tem por base e fundamento a fé em Deus, a fé em Seu Filho, Jesus Cristo, e a fé na Sua Palavra, a Bíblia. É simples fé baseada na confiabilidade de Deus, não condicionada à razão.
O apóstolo Paulo exclamou: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Romanos 11:33-36).
Nenhum homem pode comparar a sua estatura racional com a do seu Criador. Deus é infinitamente superior e, embora o homem tenha sido feito à Sua imagem, sua capacidade intelectual é limitada ao que aprende e à sua experiência durante a sua vida. Sábio é aquele que reconhece as suas limitações e coloca a sua fé e confiança em Deus, e néscio o que diz em seu coração “não há Deus”. “Sem fé é impossível agradar a Deus, e é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:6).
Não obstante, não têm faltado aqueles que procuram juntar a filosofia racionalista com a fé cristã. Já no início da igreja vemos a batalha que o apóstolo Paulo travava com os que faziam isso, como os falsos ensinadores que surgiram em Corinto e Colosso.
Nos primeiros quinze versículos do segundo capítulo da sua carta aos Colossenses, o apóstolo declara que Cristo é a resposta para a filosofia: os dois não andam juntos! Ele diz “Trabalho… para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. E digo isto, para que ninguém vos engane com palavras persuasivas.” (Colossenses 2:2-4).
Temos que estar atentos para evitar ser prejudicados por “filosofias e vãs sutilezas”. Nenhum dos mais famosos filósofos tem em alta conta a inspiração divina da Palavra de Deus. Dizem que procuram a verdade, que procuram respostas para os problemas da vida, mas a verdade não se acha na sabedoria humana. Existe um dito, muito a propósito, que a falsa filosofia é comparável a um cego num quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá. Cristo é a única resposta, Ele personaliza a própria Verdade, e foi feito sabedoria para nós por Deus.
O Senhor Jesus condenava os líderes religiosos em Seu tempo porque ensinavam a tradição dos homens aos invés da Palavra de Deus. Para nós é importante estudar toda a Palavra de Deus. Nosso fundamento não é a filosofia ou um sistema do mundo, mas Cristo.
O “racionalismo cristão”, que não é, diga-se logo, nem racionalismo e nem cristão, continuou ameaçando a pureza do Evangelho nas igrejas de Deus através dos tempos. Mais recentemente, cerca de dois séculos atrás, recrudesceu seu ataque contra a Palavra de Deus, com o que ficou sendo conhecido como a “crítica”, em dois estágios: a “baixa-crítica” e a “alta-crítica”.
Os pesquisadores da baixa-crítica, aproveitando-se do fato que nenhum dos livros do Novo Testamento sobreviveu até hoje, apenas cópias feitas através dos séculos, e que algumas cópias contêm erros de transcrição, procuraram identificar quais seriam mais autênticas.
A seguir, os da alta-crítica passaram a comparar os resultados da baixa-crítica com os escritos de outros autores, e descobrir se o autor de cada livro fora testemunha pessoal do Senhor Jesus, se ele baseou seu trabalho em fontes diretas ou secundárias, e se ele escreveu tendo um motivo ou ponto de vista pessoal.
Note-se que, em tudo isto, os pesquisadores não dão qualquer crédito à autoria do Espírito Santo, tanto do original da Palavra de Deus, como da sua preservação pelos séculos através das cópias fiéis que temos em nossas mãos. Lamentavelmente essa crítica foi efetiva em diminuir consideravelmente a confiança de muitas igrejas na verdade literal do texto bíblico, trazendo assim vitória para o nosso inimigo.
Lembremos sempre que “temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:19-21).
Em nossos dias, surgiu no Rio de Janeiro-RJ uma instituição que se denominou Racionalismo Cristão, propondo-se através de seu site a responder perguntas como: “De onde viemos? O que estamos fazendo aqui na Terra? Para onde iremos após o fim de nossa vida terrena? Por que há tanto sofrimento martirizando a humanidade?”
Declaram que ensinam “uma doutrina filosófica de caráter essencialmente espiritualista, esteada no cristianismo verdadeiro”, e que “este é o caminho indicado para as pessoas que, como você, desejam se esclarecer, e não renunciar ao seu direito de ser independentes para pensar, raciocinar e tirar suas próprias conclusões”.
Realçam suas sessões de “limpeza psíquica” que consiste em “irradiações, que são vibrações mentais emanadas pelo ser humano, através das quais ocorre o arrebatamento de espíritos do astral inferior para fora da atmosfera da Terra.”
Obviamente essa instituição nada tem de cristã, mas muito das doutrinas demoníacas do espiritismo, cujas raízes se encontram na antiga Babilônia. Pertence ao inimigo das nossas almas, o Pai da mentira, “mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente” (Romanos 1:25).
Quanto a nós, temos esta segurança: “Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna. Estas coisas vos escrevi acerca dos que vos enganam. E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis.” (1 João 2:24-27).