A tirania, ganância e imoralidade dos sacerdotes do catolicismo romano chegaram escandalosamente ao seu auge no início do século 16, quando então saíram do seu âmbito grandes partidos resolvidos a voltar aos princípios bíblicos que haviam sido postos de lado, abandonando as heresias que tinham tomado o seu lugar. Esse movimento ficou sendo conhecido como a Reforma Protestante.
Desta reforma surgiram várias grandes seitas institucionalizadas, entre elas o “anglicanismo”, o “luteranismo” e o “presbiterianismo”. Todas estas introduziram a Bíblia novamente nas igrejas, fizeram a sua tradução para o conhecimento e ensino de todos, negaram a autoridade do papa e da tradição como substituição ou complemento das Escrituras, rejeitaram as heresias que haviam sido introduzidas através dos tempos e voltaram a pregar a salvação somente pela fé em Cristo e não pelas obras.
Isto trouxe um grande reavivamento espiritual e muitas almas foram salvas com a disseminação do conhecimento do verdadeiro Evangelho de Cristo. Mas, infelizmente, essas novas seitas não completaram o trabalho de se voltarem inteiramente ao ensino bíblico, mas retiveram algumas práticas que haviam levado à ruína a seita católica: o clericalismo, o ritualismo, o batismo infantil, e a aliança com o mundo, especialmente com os seus líderes políticos.
A aliança política, como havia antes acontecido com o catolicismo, obrigou essas seitas a se cristalizarem dentro de conceitos politicamente aceitáveis, e a se imporem como a “religião estabelecida”, proibindo a dissensão.
Na Alemanha irmãos em Cristo se reuniam em particular independentemente das seitas estabelecidas desde os tempos mais antigos, e ao redor de 1524 muitos se juntaram para declarar a sua independência da religião do Estado, e a sua determinação de continuar com os ensinos das Escrituras em suas igrejas. Também batizaram por imersão todos os crentes que até então não tinham sido batizados como testemunho da sua fé. Foi nesta ocasião que lhes deram o apelido (que recusavam) de “anabatistas” (re-batizadores) e incidiram na pena de morte por causa da sua forma de batismo.
A maioria dos seus líderes foram executados ou morreram no cárcere. Apesar da sangrenta perseguição aos anabatistas por parte de católicos e protestantes, seus sucessores sobreviveram. As igrejas batistas e menonitas de nossos dias vieram das igrejas neo-testamentárias da Alemanha, Suíça, Rússia, e outras partes da Europa, que passaram por aquela experiência. As igrejas batistas e menonitas (nome dado a elas na Holanda por causa de um pastor, ex-padre católico, chamado Menno Simons) ainda mantiveram uma forma branda de clericalismo, mas o ritualismo, o batismo infantil e a união das igrejas com o Estado foram eliminados.
OS QUAKERS
Da igreja anglicana saíram, no século 17, os “quakers”, seguindo as doutrinas de George Fox. Ainda jovem, ele se preocupava com as coisas espirituais e percebia que muitos que se diziam cristãos não praticavam o que diziam crer. Ele deu atenção particular a 1 João 2.27: “a unção que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”.
Ele percebeu que Deus não mora em templos feitos por mãos de homens e entendeu que Cristo, tendo morrido por toda a humanidade, iluminava todos com a Sua vida divina e salvadora, e que ninguém podia ser um verdadeiro crente sem acreditar nisso. Ele disse que não aprendeu isso de outros, mas na luz do Senhor Jesus Cristo, e pelo Seu imediato Espírito e poder, como o fizeram antes os homens de Deus pelos quais foram escritas as Escrituras Sagradas.
Muitos se reuniam para ouvi-lo em “reuniões dos amigos”, e estas reuniões se espalharam de lugar em lugar. O apelido “quakers” lhes foi dado e foram duramente perseguidos, aprisionados e punidos, mas a Sociedade de Amigos cresceu apesar disso e logo foram como missionários para as colônias da Nova Inglaterra (nos EUA), Caribe, Holanda e Alemanha. Eles não têm igrejas no sentido do Novo Testamento, pois ser sócio não se baseia em conversão ou novo nascimento, e não observam as ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor.
No século 18 prevaleciam a infidelidade e a indiferença no que concerne à religião e à moral na Inglaterra. Na alta classe social era moda ser imoral e sem religião, enquanto que as classes inferiores estavam mergulhadas na maior ignorância e pecado. O clero não era nada melhor, com raras exceções, a literatura era ateísta e impura, o alcoolismo era considerado coisa normal, a violência e o crime se viam por toda a parte. Havia uma forte corrente de religião e fé, mas estava escondida por causa do envolvimento da maioria em pecado e do ridículo que se fazia de tudo o que era bom. Os crentes eram poucos e careciam de reavivamento.
No entanto, no principado de Gales, no início desse século, com a ajuda de alguns amigos, um clérigo anglicano chamado Griffith Jones dedicou-se a enviar professores para montar escolas de alfabetização provisórias em várias localidades, para que a população pudesse ler suas Bíblias. Ao fim de vinte anos, quando ele faleceu, já havia três mil professores trabalhando e um terço da população de Gales havia sido alfabetizada.
Também durante esse tempo um jovem chamado Howel Harris pregava o Evangelho ao ar livre, nas casas ou em qualquer lugar disponível. Multidões se converteram, vidas se transformaram e se introduziram os cultos domésticos. Outros pregadores surgiram, tanto “clérigos” como “leigos”, eram perseguidos pelas autoridades civis e religiosas, mas ouvidos por congregações de centenas e até milhares de pessoas.
Em 1729 juntou-se um grupo de estudantes na universidade de Oxford com o fim de encontrarem um meio de salvar as suas almas e viver para a glória de Deus. Eram ridicularizados pelos seus colegas, pois seu modo de vida era completamente diferente ao deles: mantinham regras cuidadosas e ascéticas, visitavam os presos e doentes e ajudavam os pobres. Eles foram denominados pelos inimigos de “Clube Santo” ou “Clube Piedoso”, os “Entusiastas”, ou “Metodistas”. Entre seus fundadores se encontravam João e Carlos Wesley, logo mais tarde George Whitefield.
Os irmãos Wesley foram ordenados como ministros da igreja anglicana, mas ainda procuravam a salvação da sua alma, quando foram para a Georgia (nos EUA) e no caminho encontraram irmãos moravianos que muito os impressionaram. De volta à Inglaterra, John Wesley novamente encontrou moravianos e eventualmente chegou à fé salvadora, junto com seu irmão.
Whitefield, por sua vez também se tornou um ministro anglicano, mas converteu-se através da leitura cuidadosa da Bíblia. Passou a pregar o Evangelho, mas como ia de casa em casa para expor as Escrituras, as igrejas não o convidavam para pregar em seus púlpitos. Foi então pregar nos campos, e multidões vinham para ouvi-lo. Chamou John Wesley para ajudá-lo. Em sua pregação, em um pequeno morro num campo, Wesley teve uma audiência de umas três mil pessoas.
Por questão da doutrina da predestinação, pregada por Whitefield e rejeitada por Wesley, eles mais tarde se separaram. Wesley também se separou dos moravianos, que ele considerava um tanto místicos e quietos, enquanto ele era de natureza prática e agressiva.
Surgiram as “sociedades metodistas”, que se espalharam por toda a Inglaterra seguindo Wesley e o seu arminianismo, e por Gales seguindo Whitefield e o seu calvinismo. Ambos, no entanto, pregavam as mesmas verdades com seus estilos diferentes.
Wesley manteve o clericalismo, o ritualismo e o batismo infantil da seita anglicana em suas igrejas, que são as igrejas metodistas de hoje. Elas têm perdido o evangelismo que as caracterizava no início, e na Inglaterra estão quase vazias, existindo agora um movimento para se incorporarem à igreja anglicana, o que será o seu fim nesse país. Paralelamente, existe uma igreja metodista “wesleyana”, que, ao contrário das metodistas atuais, mantém que a Bíblia toda é a inerrante e verdadeira Palavra de Deus e se afasta do movimento de “união de igrejas” muito em moda agora. Contudo, mantém ainda o clericalismo e o institucionalismo.