Os que morrem para si próprios para viver uma vida sob o senhorio de Cristo, guiados pelo Espírito Santo, estão libertos dos ditames da lei de Moisés (Gálatas 5:18), que governava a conduta dos israelitas, inclusive suas obrigações financeiras.
Os israelitas eram cidadãos de uma pátria terrena, e tinham seu templo e sacerdócio terrenos para suprir suas necessidades espirituais. A lei instruía o povo como sustentar essas instituições, mediante impostos sobre a sua produção.
O Senhor Jesus, entretanto, não somente forneceu uma salvação gratuita, mas livrou o Seu rebanho de quaisquer obrigações financeiras. A sua pátria está nos céus (Filipenses 3:20) e seu templo é espiritual, formado por todos os que são redimidos e habitados pelo Espírito Santo (Efésios 2:21) sendo todos sacerdotes (Apocalipse 1:6).
O reino de Jesus Cristo não é deste mundo (João 18:36), e não há um lugar na terra designado para sacrifícios e adoração pois “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade” (João 4:24). Logo, não requer um imposto para o seu sustento.
Isto posto, o que devem fazer os remidos com os bens materiais que vierem a possuir? Há uma advertência da parte do Senhor Jesus para que não se esforcem para angariar tesouros aqui na terra “onde a traça e a ferrugem os consomem”, mas que procurem ao invés disso acumular tesouros nos céus, onde não correm esses riscos (Mateus 6:19). Os avarentos não herdarão o reino de Deus (1 Coríntios 6:10).
Não obstante, os santos são encorajados a trabalhar para o seu próprio sustento (1 Tessalonicenses 4:11), e o das suas famílias, e para que tenham o que repartir com o que tem necessidade (Efésios 4:28). O Senhor Jesus contou duas parábolas que ajudam a esclarecer a correta maneira de encarar a aquisição e a distribuição de riqueza:
A parábola dos talentos (Mateus 25:14-29): Independentemente da época na história em que é mais aplicável, temos aqui o princípio da recompensa aos servos fiéis que usaram bem o que lhes fora confiado, para benefício do seu senhor ausente, e o castigo ao servo negligente que nada fez. Entre os variados “talentos” que um servo de Cristo pode receber, está o da prosperidade em bens materiais. Ele, como aquele servo, não deve se considerar como proprietário dos seus bens para seu deleite pessoal, mas como administrador para benefício do Senhor.
A parábola do administrador astuto (Lucas 16:1-9): É uma parábola difícil de entender, pois parece, à primeira vista, que o administrador foi desonesto, e no entanto foi elogiado pelo seu senhor por ter agido com sagacidade. Explica-se que o administrador tinha autoridade para negociar, e por isso pôde legitimamente dar descontos se quisesse, e os descontos lhe ganharam a afeição dos fregueses beneficiados, que o ajudariam quando se encontrasse desempregado.
Aplicando-se aos servos do Senhor Jesus, o ensino básico é que o cristão deve usar os bens que lhe são confiados com sabedoria e discernimento, de tal forma a se assegurar de uma boa recepção no céu. Ou seja, deve aplicar os bens deste mundo, que administra para o Senhor, para a disseminação do Evangelho, contribuindo para a salvação de almas que por isso lhe serão eternamente gratas.
Cada servo de Cristo é pessoalmente responsável diante dEle pela administração dos seus bens, pelo destino do que distribui e pela maneira com que o faz (Romanos 14:12), e “cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Coríntios 9:7). A contribuição para a obra do Senhor é o privilégio de todos os Seus servos, e havendo prontidão é aceitável de acordo com o que cada um tem, e não de acordo com o que não tem (2 Coríntios 8:12).
Tanto a pregação direta, como o cuidado do rebanho e o ensino da Palavra constituem parte integrante da disseminação do Evangelho. Também a produção de livros e outra literatura, o uso do rádio, da televisão e da Internet etc., são instrumentos modernos muito úteis, se não essenciais, para a sementeira.
Todas essas atividades demandam recursos materiais, e o servo de Deus procurará a Sua direção para encaminhar ofertas segundo a Sua vontade. Ele próprio pode ser um evangelista, um pastor ou um mestre, que são dons espirituais, e vai usar seus recursos materiais para exercê-los.
Outro princípio dado pelo Senhor Jesus foi o de manter sigilo sobre as ofertas, para evitar ser visto pelos homens e ser honrado por eles (Mateus 6:1-4). Se for usado um intermediário, não haverá o sigilo que deveria ser guardado por quem dá e pelo beneficiado. Como são honrados neste mundo os que dão grandes quantias em prol de alguma campanha ou para fins beneficentes! No entanto, essa honra lhes tira a recompensa reservada pelo Pai aos que dão em secreto.
A honra deste mundo é muitas vezes enganosa, sendo dada a quem menos a merece, segundo outro princípio que nos deu o nosso Senhor: diante de Deus, o valor da contribuição aumenta na proporção em que representa um verdadeiro sacrifício para o oferecedor (Marcos 12:41-44). Assim, quem dá daquilo que lhe sobra, está dando menos do que quem dá até mesmo o que precisa para o seu próprio sustento.
O conceito de “igreja”, no sentido de uma cúpula com o direito de cobrar todas as contribuições de seus membros destinadas a Deus não tem base na Bíblia. Uma cúpula não tem o direito de cobrar uma taxa de associação, como se fosse um clube, nem de cobrar um “dízimo” dos seus membros. A cúpula não é a igreja, ponto final. A igreja local consiste no conjunto de todos os seus membros.
A manutenção de um prédio para uso nas reuniões da igreja, seus móveis e utensílios etc., é uma despesa da qual seus membros devem participar segundo os critérios que eles próprios estabelecerem. Da mesma forma contribuirão para algum fundo da igreja de auxílio aos necessitados da igreja, viúvas idosas sem arrimo (1 Timóteo 5:3-6) etc.
Um membro pode, por sua conta, delegar a essa cúpula ou a outros irmãos, o direito de fazer a distribuição de um donativo, mas a responsabilidade diante de Deus continua a ser dele. Ele deve se assegurar que a finalidade do donativo foi corretamente cumprida, para evitar que aquilo que é dedicado ao Senhor seja usado para outros fins por pessoas inescrupulosas.
Nos capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios, temos o exemplo que Paulo nos deixa de como foram feitas ofertas pelos irmãos da Macedônia aos crentes da Judéia, através das suas igrejas e dos portadores especialmente escolhidos para esse fim.
É de se notar que o apóstolo nada impôs àqueles irmãos, mas foram eles que suplicaram insistentemente a Paulo o privilégio de participar da assistência aos santos, tendo primeiro se entregado ao Senhor (2 Coríntios 8:4-5).
Paulo termina o capítulo 9 assegurando aos irmãos em Corinto, que:
A abundância da colheita está em proporção direta com a quantidade que é semeada (v. 6).
Deus é poderoso para que os que semeiam sempre tenham tudo o que é necessário em todas as coisas para transbordar em boas obras (vs. 8 a 11).
O serviço ministerial de contribuição não só supre as necessidades do povo de Deus, mas transborda em muitas expressões de gratidão e de louvor a Deus (vs. 12 e 13).
Em suas orações, os beneficiários estão cheios de amor pelos que contribuíram, por causa da insuperável graça que Deus lhes deu (v. 14).