Alguém nos perguntou: "Qual o motivo de, na ceia do Senhor, os louvores serem cantados sem acompanhamento instrumental? É bíblico isto ou é apenas tradição ou "gosto" dos irmãos mais antigos?"
Evidentemente quem fez esta pergunta constatou, entre as igrejas que conhece, que não é usado acompanhamento musical na Ceia do Senhor e vem nos perguntar a razão por quê.
A resposta deveria ser obtida dos irmãos responsáveis por essas igrejas, que devem ter motivos especiais para isso. Ao contrário do tabernáculo e mais tarde templo do povo de Israel, onde os rituais, vestiduras e objetos deviam seguir escrupulosamente às instruções minuciosas dadas pelo SENHOR através de Moisés, não temos um mandamento definindo como as reuniões da igreja devam ser conduzidas.
Temos pouco mais do que instruções sobre a atitude dos participantes e o seu relacionamento e conduta entre si. Não se encontra sequer uma instrução sobre o uso de instrumentos musicais em reuniões da igreja, seja a favor, ou contra, no Novo Testamento.
Já no Velho Testamento temos muitas exortações para louvar ao SENHOR com vários instrumentos de música. Também lemos sobre o uso de instrumentos musicais no céu, pelos vinte e quatro anciãos (representantes da igreja) - Apocalipse 5:8 - e são mencionados, em outro contexto, em 1 Coríntios 14:7.
A reunião da Ceia do Senhor é, ou devia ser, a reunião principal dos membros da igreja. A razão é que nela lembramos e anunciamos aos presentes a morte de nosso Salvador para a remissão dos nossos pecados, sem a qual não poderíamos ter comunhão com Deus. Nela comemos pão e bebemos do cálice que simbolizam fisicamente o Seu corpo e o Seu sangue.
Durante essa reunião devemos permitir que o Espírito Santo nos leve à adoração, seja ela silenciosa, ou audível através de orações dos irmãos, ou cantada por alguns ou todos os irmãos e irmãs presentes.
Muitos irmãos optam pela absoluta simplicidade nessa reunião, nada fazendo que não seja explicitamente mencionado na Bíblia como sendo praticado pela igreja primitiva. O Novo Testamento mantém silêncio sobre o uso de instrumentos musicais na igreja primitiva e isto é tomado como sendo indicação de que não devemos usá-los.
Outras das principais razões dadas para não se usar qualquer instrumento musical são as seguintes:
Por outro lado, lembro-me de uma igreja que freqüentei com minha esposa em Quilmes, perto de Buenos Aires, Argentina, anos atrás, onde a organista acompanhava os hinos na Ceia do Senhor. Um dos seus anciãos nos explicou: “no princípio não usávamos o órgão, mas tivemos dificuldades porque nem sempre acertávamos a nota certa para começar e alguns irmãos desafinavam; pusemos então a organista no órgão e a qualidade do louvor cantado melhorou muito; ela, portanto, continua tocando e estamos todos contentes”.
Essa não é a única: existem muitas outras igrejas que também usam instrumentos musicais, geralmente um pequeno órgão ou harmônio. Se fôssemos indagar, provavelmente nos dariam motivos semelhantes.
Outros entendem que toda a Palavra de Deus é a revelação da Sua vontade, incluindo o louvor e a adoração, cantada e instrumental. Recentemente um nosso irmão de Portugal assim se expressou: “Oxalá em todas as assembléias se louvasse ao Senhor, apenas METADE do louvor que Ele recebia no Templo de Jerusalém. Louvor solene, profundo, majestoso, sumptuoso, digno de Deus Todo-Poderoso! A ordem, a perfeição, a harmonia, o requinte, o zelo em contraste com o que tantas vezes se vê hoje, de desorganização, desafinação, incompetência, displicência, tédio e gelo. O nosso Deus é excelso, é magnífico, ‘Ele habita no meio dos louvores de Israel’. Então e a Igreja? Que noiva é essa, que deixa que sejam os outros a exaltar as infinitas qualidades do seu Amado? Que noiva tão fria! Será?”
Todas as razões dadas, a favor e contra os instrumentos musicais, são ponderáveis. Podemos no entanto estar tranqüilos que não estaremos desagradando a Deus se aprimorarmos a nossa adoração e louvor com o uso de instrumentos musicais. Se assim fosse, Ele nos teria dito claramente, como nos deu instruções em tantas outras coisas, algumas das quais podem até nos parecer de muito menos relevância na atualidade.
Cabe afinal à direção de cada igreja local examinar com cuidado todos esses aspectos e assim decidir o que é hoje mais apropriado para o seu rebanho. Evitemos obedecer simples tradições ou impor nosso gosto pessoal, pois temos responsabilidade diante do Senhor para que “tudo seja feito para edificação, com decência e ordem” (1 Coríntios 14:26,40). Mas que não seja este um ponto de discórdia entre os membros da igreja: se for causar ofensa a algum irmão, é muitas vezes preferível a abstenção de uma “novidade” até que se chegue a um acordo sobre o assunto.