Este bonito Salmo tem produzido nos corações do povo de Deus, em todos os tempos, uma doce harmonia que tem transformado o triste deserto desta vida atual para um verdadeiro Éden do Senhor. Formando parte da adoração diária da Igreja Primitiva, ainda em nossos dias ele continua a ser um dos prediletos para o pequeno rebanho do Senhor Jesus Cristo.
A razão desta predileção acha-se, em parte, no título - "Salmo de Davi quando no deserto de Judá", pois isto é onde a verdadeira Igreja de Deus se acha espiritualmente, até agora. Pois "este presente século" permanece ainda um deserto, um vale de lágrimas, "o vale da sombra da morte" - terra de fome e de sede, de labor e de cansaço, de dor e de morte.
Um "cântico no deserto"!… Que lugar estranho, improvável, para produzir um cântico! Porém uma das características especiais do povo de Deus é que ele sabe mesmo cantar no deserto. O cântico deste povo não depende das circunstâncias exteriores. A história da Igreja mostra que é no deserto, em tempos de sofrimento e de perseguição, que ela canta com a maior harmonia. Também a nossa própria experiência individual concorda com isto. Não é sempre nos tempos de prosperidade, quando tudo parece ir bem, que a melodia de louvor e de verdadeira adoração ascende a Deus. Muitas vezes Deus tem de levar o Seu povo ao deserto, para que ali, sentindo-nos necessitados e isolados, os nossos corações possam responder à Sua Palavra e às Suas obras com verdadeiros hinos de confiança e louvor.
O Salmo 63 começa por invocar a Deus pelo Seu Nome "Elohim" (no hebraico). Este é o Nome do Altíssimo Deus da Majestade; é o primeiro nome divino que achamos na Bíblia e é geralmente no plural, sendo assim a primeira indicação no Velho Testamento da doutrina da Trindade - revelada mais claramente em o Novo Testamento. "E Tu, Elohim" - em toda a plenitude dos Teus recursos infinitos, em toda a Tua força e majestade - és meu Deus v. 1.
Que palavras maravilhosas para um homem fraco desta terra! Não será presunção?… Mas Ele mesmo é quem diz, mil vezes: "Eu sou o Senhor teu Deus"! … E a oração deste Salmo não é nada senão a resposta da fé que, aceitando a Sua Palavra, olha para o céu e diz, "Meu Deus", em resposta à Sua própria palavra "teu Deus"…
Outrossim, temos uma palavra ainda mais clara, na mensagem que o Senhor ressurrecto enviou aos Seus discípulos: "Subo para Meu Pai e VOSSO PAI, para Meu Deus e VOSSO DEUS" João 20.17. Desde então o mais fraco e o menor dentre os "Seus irmãos" (a quem foi enviada esta mensagem) pode olhar para o céu e, com toda certeza de fé, dizer ao Senhor de todos, "MEU Deus!" - não como mera exclamação de desespero, ou surpresa ou (pior ainda) de raiva, como geralmente se ouve, violando assim o terceiro mandamento - mas, sim, como expressão de amor, de fé e de verdadeira adoração pelo crente grato e confiante.