Ao escrever este pequeno trecho, o apóstolo João decerto se lembrava de falsos ensinadores que primeiro se diziam crentes, mas após algum tempo deixaram a companhia dos crentes a fim de divulgar a falsidade, como lemos na primeira carta de João: "Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós." ( 1 João 2:19).
A última parte do versículo 7 declara, literalmente, o enganador e o anticristo: trata-se de um só indivíduo. Estes enganadores são como que muitos anticristos, tendo o mesmo espírito que o enganador-mor, popularmente esperado (1 João 2:18,22).
Como eles, tipicamente ele vai negar que Jesus Cristo veio em carne. Ele vai negar a divindade de Cristo, portanto também tudo o que é dito a Seu respeito, tudo o que Ele disse, e tudo que Ele fez para a nossa redenção ao morrer sobre a cruz e ao ser ressuscitado corporalmente da morte. Isso é anticristo e esse é o espírito do anticristo.
O anticristo, ou besta, está ainda para vir, e tudo neste mundo está abrindo caminho para a sua vinda, de forma que quando esse líder político e o líder religioso (o falso profeta) finalmente vierem, o mundo estará preparado para recebê-los.
Quando ele vier haverá uma religião que na realidade não crerá em nada. Estamos em nossos tempos sendo instigados a deixar tudo (a fé apostólica e a doutrina bíblica) que nos separa de outros que também se denominam cristãos, e mesmo outras religiões. Se abandonarmos tudo o que nos separa deles, nada haverá para nos prender entre nós. E então o panorama estará pronto para o anticristo.
Como acontece com qualquer desvio, começa com o que parecem ser pequenas coisas e passa a abranger coisas maiores, até que nada do original fica no produto final. Esse é o tipo de união de igrejas que está se evidenciando hoje.
Eles não vão a lugar nenhum, em nada crêem, e portanto podem se reunir todos juntos.
Há muitos enganadores que se chamam de "cristãos". A maneira de saber se alguém realmente o é, consiste em verificar seu ponto de vista, seu ensino, e o que crê a respeito da pessoa do Senhor Jesus Cristo. Se não pensa corretamente a respeito dEle, tudo o mais que ele disser se torna falso, e essa pessoa é um falso ensinador.
Não se trata de um simples ponto de vista diferente do nosso a respeito de certos assuntos filosóficos que não têm uma base bem definida na Bíblia, como, por exemplo, a predeterminação. Todos temos algumas diferenças de opinião sobre tais coisas, mas podemos discordar sem que isso perturbe a nossa comunhão. Mas quando cremos na divindade de Cristo, isto significa que cremos no Seu nascimento de uma virgem, significa que cremos com firmeza no relato encontrado na Palavra de Deus, e também significa que cremos da doutrina que os apóstolos ensinaram em seus livros e epístolas. Mais importante, acima de tudo, é o que pensamos a respeito do Senhor Jesus. As cartas do apóstolo João enfatizam que devemos andar em conformidade com os mandamentos de Cristo, e a prova de que somos filhos de Deus é que andamos em amor pelos irmãos.
Hoje, talvez mais do que nunca, o crente anda por uma vereda muito perigosa em sua vida aqui no mundo. À esquerda se encontra a floresta do liberalismo e da apostasia. É uma floresta atraente mas perigosa, porque junto com belos conceitos sobre liberalismo e visão mais ampla, encontram-se heresias perigosas que estão prontas a capturar os que se aventuram por ela.
Do lado direito está o deserto do legalismo extremo. É uma camisa-de-força que encarcera quem se aventura por ele em uma disciplina estrita de "faça e não faça" mas está inteiramente destituída de amor e compaixão por aqueles que quebram as regras. Os homens de Deus que defendem a verdade e que pregam a Palavra de Deus, de maneira geral, são homens confiáveis e que são bondosos em todas as circunstâncias.
Precisamos compreender claramente que o crente não perde a sua salvação quando tem comunhão com as pessoas erradas, embora ele se coloque numa posição perigosa. No minuto que ele se identifica com uma "igreja" apóstata, ou seita ou associação onde a divindade de Cristo é colocada em dúvida, ele perde o seu galardão. Todo crente devia estar trabalhando pelo seu galardão, a fim de poder ouvir o Mestre dizer algum dia "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor" (Mateus 25:21). Paulo, por exemplo, podia dizer ao fim da sua vida: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." (2 Timóteo 4:7-8). Portanto cuidemos para não ser trapaceados por enganadores.
O versículo 9 é traduzido com mais clareza na NVI "Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho". Aquele que vai além da doutrina de Cristo não tem Deus. Nos dias de João os gnósticos declaravam ter um pouco mais conhecimento do que os próprios apóstolos. Hoje temos igrejas construídas sobre tradições, sobre novas "revelações", que foram acrescentadas ao ensino apostólico, enfraquecendo ou anulando o Evangelho de salvação pela graça mediante a fé no Senhor Jesus Cristo. Não faz muito tempo, diversos teólogos orientais se reuniram com um grupo de pregadores, e juntos concluíram que não era mais preciso afirmar o nascimento de Cristo de uma virgem, ou a divindade de Cristo, ou se Cristo morreu pelos nossos pecados. Acharam que já estavam acima disto e podiam contemplar com superioridade o resto de nós coitados que ainda cremos na divindade de Cristo e na Sua morte pelos nosso pecados…! Eles não estavam permanecendo na doutrina de Cristo, portanto não tinham Deus.
Se estivermos permanecendo no ensino de Cristo, temos Deus o Pai e temos Deus o Filho, e temos acesso ao Pai através do Filho. Permanecer é uma situação de permanência, e não permite qualquer modificação.
Os lares dos crentes daqueles dias estavam sempre abertos aos evangelistas e pregadores itinerantes, porque havia pouca hospedagem disponível em outro lugar. Paulo, por exemplo, ficou no lar de Áquila e Priscila quando em Corinto. Mas essa prática não devia ser estendida aos enganadores, aqueles que acrescentavam à doutrina pura de Cristo (versículo 9), levando dissensões e perigo com eles: não se devia permitir que entrassem em casa nem saudá-los. Eles não deviam ser recebidos em casa nem nas reuniões da igreja (que geralmente se realizavam nas casas).
A hospitalidade aos estranhos é recomendável, desde que não sejam conhecidos como sendo enganadores (Hebreus 13:2; 1 Timóteo 5:10). Já nossa atitude para com estes (os apóstatas, os que ensinam heresias, os que negam a divindade de Cristo mas fingem ser seguidores dEle) não deve ser de amor, comunhão e hospitalidade: não devemos lhes dar boas-vindas, seja em casa ou na igreja, nem desejar sua prosperidade.
Se estes enganadores itinerantes tivessem permissão para espalhar suas doutrinas nesses lares e igrejas e fossem depois enviados com cartas de recomendação, não se podia escapar à responsabilidade pelo mal que estes propagandistas do mal fariam. Não era apenas o caso de evitar hospitalidade aos estranhos.
Da mesma forma, se abrigamos um falso ensinador, se o apoiamos, estaremos nos tornando participantes das suas obras malignas. Isso nos leva a investigar tudo ao que contribuímos como crentes, porque se estivermos contribuindo para o que é enganoso, Deus nos considera como participantes. Ostensivas obras de caridade organizadas por entidades que apregoam ensinos enganosos, apelam para nossas emoções com folhetos contendo fotografias de necessitados e histórias comoventes. Não temos a certeza que nossas contribuições chegarão aos necessitados, e poderemos estar participando naquilo que nega a divindade do Senhor Jesus Cristo e tudo aquilo que Ele representa para nós e fez para nós. Deus nos responsabilizará pelo mau uso dos recursos que nos deu. Nossa contribuição deverá ser encaminhada para a Obra de Deus, a divulgação do Evangelho aos perdidos e o fortalecimento do seu povo.
João tinha ainda outras coisas para comunicar, mas ia transmiti-las oralmente. Provavelmente eram aplicáveis apenas à senhora eleita e seus filhos, a quem inicialmente foi dirigida esta diminuta mas poderosa carta.
7 Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo.
8 Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganhado; antes, recebamos o inteiro galardão.
9 Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho.
10 Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis.
11 Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.
12 Tendo muito que escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar de boca a boca, para que o nosso gozo seja cumprido.
13 Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita. Amém!
2 carta de João capítulo 1 vers. 7 a 13