O escritor introduz-se como "servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo". O nome Tiago é uma tradução para o português do grego "Iakobos", tomado do hebreu Jacob (Yaakov). Era um nome muito popular entre os judeus, e quatro homens desse nome são mencionados no Novo Testamento como estando próximos ao Senhor:
Tiago o apóstolo, filho de Zebedeu e irmão de João (Mateus 4:21). Foi morto por Herodes no início do século 44 A.D. (a data da morte de Herodes), provavelmente antes que esta carta tivesse sido escrita.
Tiago o filho de Alfeu (Mateus 10:3). É quase desconhecido exceto que está na lista dos apóstolos.
Tiago o pai de Judas, não Iscariotes (Lucas 6:16, Atos 1:13). É ainda mais obscuro, porque isto é tudo que sabemos dele. Há uma possibilidade remota que ele pode ter sido um dos outros dois mencionados acima.
Tiago o meio-irmão do Senhor. O Senhor Jesus teve quatro meio-irmãos, filhos de Maria e José: Tiago, José, Simão e Judas, bem como meio-irmãs (Mateus 13:55, Marcos 6:3). Aparentemente vieram somente a crer nele após sua ressurreição (João 7:5, Atos 1:14), no caso de Tiago possivelmente por causa de ter aparecido a ele após o evento (1 Coríntios 15:7). É quase certo que seja ele o escritor desta carta, sendo o irmão de Judas que escreveu a carta desse nome (Judas 1:1), e foi considerado em seu tempo como um dos líderes da igreja em Jerusalém (Atos 15:13, 21:18, Gálatas 2:9, 12). Era bem conhecido, e é mencionado pelo historiador judeu Josefus e por escritores cristãos da sua época, sendo notado como um cristão muito judeu. É extremamente meticuloso em seu estilo, contudo modesto, pois não menciona seu parentesco com Cristo em sua carta.
Este é provavelmente o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito, calcula-se entre o os anos 45 e 48 A.D.. Possivelmente por esta razão tem um sabor judeu forte: há umas referências freqüentes à lei, que é chamada "a lei perfeita" (1:25), "a lei real" (2:8), e "a lei da liberdade" (2:12), partes da qual são citadas como instruções sobre retidão de conduta para aqueles que estão sob a graça.
Tiago introduz-se como um servo ou um escravo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, da mesma maneira que Paulo mais tarde (Romanos 1:1; Filipenses 1:1; Tito 1:1). Tiago veio a conhecer o Senhor Jesus não somente como seu irmão de sangue mas como seu próprio Salvador, e então transformou-se em Seu escravo.
Observe que ele usa seu nome completo, Senhor Jesus Cristo:
Jesus era seu nome humano, e Tiago conheceu-o como Jesus, seu meio-irmão; Jesus não é só um nome, mas significa Salvador "porque salvaria seu povo de seus pecados".
Tiago veio também conhecê-lo mais tarde como Cristo, o Messias, o Enviado de Deus e o Servo Ungido vindo do céu, que tinha dado sua vida humana pelos pecados do mundo.
Tiago aceitou então a divindade de Jesus seu irmão, como o único filho unigênito de Deus, apesar da provável dificuldade em fazê-lo, e por conseguinte o chama de Senhor nesta carta. A palavra Senhor (kurios) é freqüente na tradução de Elohim e .Jahweh na Septuaginta. Os romanos a aplicavam ao imperador em sua adoração a ele. Tiago corretamente coloca Deus e o Senhor Jesus no mesmo nível de igualdade, honrando ao Filho da mesma forma que honra o Pai (João 5:23), e conseqüentemente não contradiz a declaração que "ninguém pode servir a dois senhores" (Mateus 6:24).
A carta é dirigida às doze tribos que andam dispersas. A expressão doze tribos tem o significado de totalidade e de integralidade, uma unidade. Embora tradicionalmente a frase signifique a nação de Israel (como em Atos 26:7) ela não tem esse significado aqui. A nação de Israel contém muito paralelismo com a igreja de Cristo, e é a esta que a expressão se aplica agora.
Aqueles da nação de Israel que foram espalhados pelo exterior do seu país na Dispersão (Diaspora) herdaram sua nacionalidade judia de seus pais, e pertenciam às doze tribos. Tinham sido expulsos de sua terra por causa do seu pecado de infidelidade à sua aliança com Deus, e foram espalhados pelo mundo, mas principalmente nos países que cercam o mar Mediterrâneo. Aqueles que podiam, voltavam de cada nação a Jerusalém para as festas judaicas, como no dia de Pentecostes (Atos 2:4). Eram conhecidos como os judeus da dispersão.
Alguns hoje falam das "dez tribos perdidas de Israel," mas nunca houve tribos realmente perdidas. Deus dispersou-as através de todo o mundo. Elas não se estabeleceram todas em um país determinado: mesmo agora encontram-se judeus em todos os continentes do mundo.
Os primeiros cristãos, a maioria de ancestralidade judaica, foram dispersados também através da Judéia e Samaria pelas perseguições de gente como Saulo (Atos 8:1), e lemos também que foram varridos até a Fenícia, Chipre e Antioquia. Esta foi uma dispersão de cristãos, e as pessoas a quem Tiago estava escrevendo naqueles primeiros dias seriam estes.
A igreja se compunha naquele tempo quase inteiramente de judeus convertidos. Nesta carta há ocasiões em que cristãos professos ou mesmo ainda não convertidos parecem também ser incluídos, possivelmente porque naqueles primórdios a separação em cristãos judeus e judeus incrédulos não havia ainda se cristalizado.
Todos os crentes verdadeiros, judeus ou gentios, são entretanto os filhos espirituais de Abraão (Gálatas 3:7 - 9, Filipenses 3:3), e peregrinos e forasteiros neste mundo (Filipenses 3:20, 1 Pedro 2:11), portanto esta carta sem nenhuma dúvida também é aplicável a nós.
A palavra "saúde", ou "saudações" é uma tradução imperfeita de uma palavra grega que literalmente significa "regozijo", e o que se segue é concernente a regozijar-se em circunstâncias que normalmente não seriam consideradas felizes.
Devemos ter grande gozo quando caímos em várias tentações: não se trata de cair em pecado depois de ser tentado, mas de ter que enfrentar os problemas ou os testes que são permitidos por Deus para nosso benefício: produzem a paciência. As tentações que vêm de dentro e conduzem ao pecado são tratadas mais adiante dentro deste capítulo, nos versículos 13 a 17.
Em princípio, quando estamos enfrentando um problema, não devemos lamentá-lo como se algo terrível nos tenha acontecido. Devemos nos regozijar com muita alegria porque Deus nos está testando assim! Deve ser considerado como um desafio que somos perfeitamente capazes de enfrentar, trazendo com ele uma vitória que poderá ser ganha.
Pergunta-se freqüentemente, porém, se o cristão deve sempre experimentar alegria em todas os testes e tensões da vida. Não há nenhuma tal promessa aqui. Só podemos realmente e verdadeiramente nos regozijar quando estamos inteiramente reconciliados à vontade de Deus sobre nossa vida.
A vida cristã está cheia de problemas para resolver. Eles vêm sem convite e inesperadamente, raramente um de cada vez, freqüentemente vêm vários juntos. A pergunta é: "Que vamos fazer a respeito deles?"
Há várias opções:
Rebelar-nos contra eles (Hebreus 12:5), e de forma desafiadora esforçar-nos para lutar com nossas próprias forças.
Desanimar e/ou desistir mediante a pressão (Hebreus 12:5), que é só um tipo de fatalismo. Conduz a questionar até mesmo o cuidado do Senhor para conosco.
Murmurarmos e queixar-nos sobre nossos problemas, mas somos advertidos contra isto em 1 Coríntios 10:10.
Entregar-nos à lamentação, pensando em ninguém mais que nós próprios, e tentar obter a compaixão dos outros.
1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas: saúde.
2 Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações,
Tiago 1:1,2