Entre os líderes religiosos que tinham sido realmente testemunhas oculares de todos os detalhes da ressurreição de Lázaro, já não dependendo mais dos boatos, muitos acreditaram agora no Senhor. Muitas pessoas já o tinham feito antes (capítulo 7:31), e agora muitos mais criam diante da evidência deste tremendo milagre (João 12:11, 17).
Alguns porém, sem dúvida profundamente impressionados, não tinham coragem para se desligar dos fariseus sem primeiro os consultar. Era uma crise para o sinédrio e eles tiveram uma sessão incluindo os principais sacerdotes (os saduceus) e os fariseus. Depois disto os principais sacerdotes tomaram a vanguarda nos ataques ao Senhor Jesus, lealmente apoiados neste assunto pelos seus oponentes (os fariseus).
A grande questão foi levantada no conselho, literalmente "Que faremos?" Não se mencionou como fato a ressurreição de Lázaro, mas foi evidentemente incluído com os "muitos sinais" que assim os perturbavam. Se Lhe permitissem continuar fazendo tais coisas, estavam alarmados com a possibilidade que não só muitos, mas todo o povo creria n’Ele e os romanos certamente viriam castigar a nação, considerando isso como uma revolução.
Claro que, até mesmo se todo o povo viesse a crer que Ele era o Messias, os romanos não dariam qualquer atenção a não ser que Ele fosse feito um líder político, como se Ele concordasse em ser o seu Rei, como antes já O quiseram fazer (capítulo 6:15). Era uma confusão curiosa, porque os líderes sabiam que Jesus nunca reivindicou ser um Messias político e não seria um rival a César.
Tendo dogmaticamente recusado a aceitar os "sinais" pelo que eram – a prova que este homem Jesus era o Filho de Deus - usaram este medo das consequências da continuação dos sinais como pretexto para entrar em frenesi, como fariam outra vez diante de Pilatos. O seu maior medo era que “virão os romanos, e nos tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação”, ou seja, o seu lugar (trabalho) foi colocado antes da nação (patriotismo). (Eventualmente os romanos realmente vieram, não por causa de indulgência do sinédrio para com Jesus, mas por causa de uma insurreição contra Roma conduzida pelos zelotes, e destruíram o templo e a cidade e os do sinédrio perderam o seu trabalho e a nação. Os historiadores diriam depois que este destino veio como castigo aos judeus por causa da sua má conduta com o Senhor Jesus).
Caifás era genro de Anás e foi seu sucessor como sumo sacerdote de 18 até 36 DC, que inclui o ano 29 ou 30 DC quando isto aconteceu. Assim ele presidiu esta reunião. Começou por expor a ignorância deles e nisto estava correto (mas deveria ter incluído ele próprio também, se soubesse como todos estavam sendo estúpidos): nenhuma solução para o problema deles foi proposta. Ele então declarou que convinha (a eles) que um só homem morresse pelo povo em lugar de toda a nação. Em outras palavras, o que Caifás sugeria era entregar Jesus à morte para impedir que a nação toda viesse a perecer nas mãos dos romanos, assim “generosamente" sacrificando a vida de alguém para o bem-estar dos presentes.
Caifás sem dúvida ignorava a verdadeira implicação destas palavras proféticas. Ele quis dizer o que era mau e egoísta e só pensava na nação judia. Mas, seguindo a pista das palavras de Jesus sobre as outras ovelhas e um só rebanho (capítulo 10:16), o significado de filhos de Deus que estão dispersos pelo mundo não é a diáspora (judeus que se espalharam pelo mundo), mas os filhos em potencial de Deus em todas as terras e através dos tempos que serão juntados em um mediante a morte de Cristo. Esta ideia gloriosa estava muito além da compreensão de Caifás.
A ressurreição de Lázaro levou estes assuntos à crise, por assim dizer. Provavelmente faltava não mais que um mês para o fim. O sinédrio seguiu o conselho de Caifás seriamente e tramou a morte de Jesus. O desejo de elimina-lo não era novidade (capítulo 5:18; 7:19; 8:44, 59; 10:39; 11:8) mas foi reavivado agora com mais energia devido à ressurreição de Lázaro. O Senhor viu que entrar neste momento em Jerusalém às claras traria prematuramente o fim, pois a Sua hora seria na páscoa, faltando ainda um mês.
Jesus portanto foi para uma cidade, ou aldeia, chamada Efraim, numa região vizinha ao deserto, ao nordeste de Jerusalém, pouco povoada. Sua localização certamente não é conhecida agora nem é mencionada em outro lugar no Novo Testamento. Ali Ele estava temporariamente longe da ameaça do sinédrio, na companhia dos Seus discípulos, enquanto contemplava o próximo sacrifício supremo de Si mesmo que faria na Páscoa. O Seu ministério público, iniciado quando João Batista O identificou como o Cordeiro de Deus, concluiu quando ressuscitou Lázaro.
Ele fez uma última viagem por Samaria até a Galileia para se unir à grande caravana que cruzava para dentro da Pereia e descia pelo lado oriental do Jordão ao outro lado de Jericó, e depois subia a estrada montanhosa até Betânia e Betfagé logo ao lado de Jerusalém (Mateus 19:1-20:34; Marcos 10:1-52; Lucas 17:11-19:28).
Quase tanto tempo é usado, neste Evangelho, nas últimas quarenta e oito horas antes da morte do Senhor quanto nos primeiros trinta e dois anos, onze meses, três semanas e cinco dias da Sua vida. Realmente, este é o padrão compartilhado por todos os Evangelhos. Toda a ênfase é colocada nos últimos oito dias antes da Sua crucificação.
Dos oitenta e nove capítulos nos quatro Evangelhos só seis cobrem os primeiros trinta anos da Sua vida, contudo vinte e sete, ou cerca de um terço dos registros dos Evangelhos, lidam com os últimos oito dias da Sua vida e enfatizam a morte e a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Não é surpreendente, porque estes compreendem o Evangelho (1 Coríntios 15:1-4).
Dessa região subiram muitos a Jerusalém, significando de fora de Jerusalém, virtualmente de todas as partes do mundo, para passar por purificação cerimonial, antes da grande festa da páscoa.
As autoridades religiosas tinham estado buscando Jesus seis meses antes, na festa dos tabernáculos (João 7:11), mas agora elas realmente pretendiam mata-lo e havia novo ânimo devido à recente ressurreição de Lázaro e à ordem pública para a Sua apreensão. Elas desejavam saber se Ele ousaria entrar na festa nas atuais circunstâncias.
Seria de esperar que o milagre culminante da ressurreição de Lázaro teria volvido estes líderes religiosos cépticos ao Senhor Jesus, mas isso não aconteceu. Nosso Senhor anteriormente havia dito ". . . Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos" (Lucas 16:31). Isso é a razão por que o Senhor não desce numa exibição espetacular, ou vai por aí fazendo milagres hoje.
Depois que a igreja deixar a terra, durante o período da Grande Tribulação e no Milênio, haverá um período de grandes milagres, mas nem sequer isso convencerá as pessoas. Hoje sem alarde se nos oferece oportunidade de colocar n’Ele a nossa confiança. Reclama-se que a multidão não está indo atrás de Jesus. Mas nunca foi! Ele morreu, foi enterrado, ressuscitou da morte e isso é o Evangelho. Não precisamos de um milagre. O problema não está na falta de evidência. O problema é a incredulidade do homem.
Os principais sacerdotes daquele tempo eram em grande parte saduceus que eram os "liberais" pois não aceitavam milagres ou o sobrenatural, que incluía ressurreição. Os fariseus eram os conservadores religiosos e os políticos da direita daqueles dias. Os dois partidos eram absolutamente opostos um ao outro em todos os sentidos; ainda assim eles participaram juntos do seu ódio contra Jesus Cristo e na sua resolução de matá-lo.
Isto poderia ser rotulado de primeiro movimento ecumênico. Hoje a maioria está se unindo em uma tentativa de se libertar de Cristo, como Ele é revelado na Palavra de Deus.
45 Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.
46 Mas alguns deles foram ter com os fariseus e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.
47 Então os principais sacerdotes e os fariseus reuniram o sinédrio e diziam: Que faremos? porquanto este homem vem operando muitos sinais.
48 Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e nos tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.
49 Um deles, porém, chamado Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: Vós nada sabeis,
50 nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça a nação toda.
51 Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação,
52 e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos.
53 Desde aquele dia, pois, tomavam conselho para o matarem.
54 De sorte que Jesus já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a região vizinha ao deserto, a uma cidade chamada Efraim; e ali demorou com os seus discípulos.
55 Ora, estava próxima a páscoa dos judeus, e dessa região subiram muitos a Jerusalém, antes da páscoa, para se purificarem.
56 Buscavam, pois, a Jesus e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá ele à festa?
57 Ora, os principais sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para que o prendessem.
Evangelho de João capítulo 11, versículos 45 a 57