Este dia seguiu o das cenas e discussões acaloradas do capítulo 8, e o cego que o Senhor viu quando passava era provavelmente uma pessoa bem conhecida no lugar onde mendigava.
Cegueira é comum no Oriente Médio e Jesus curou muitos casos (por exemplo Marcos 8:23; 10:46), tendo mencionado o fato como um dos sinais do Messias em uma mensagem que enviou a João Batista (Mateus 11:5). Mas este é o único exemplo de cura de cegueira congênita, assim mencionada.
Não está claro se os discípulos esperavam que Jesus curasse este caso. Estavam confusos pela noção judia que qualquer calamidade ou doença era resultado de algum grande pecado. Parece que os discípulos haviam descartado qualquer outra razão para a cegueira; esqueceram-se, por exemplo, de Jó, que sofreu grandes calamidades além de enfermidade, não por causa de pecado, mas para provar a sua fé em Deus.
Às vezes pode acontecer que a doença é o resultado de algum pecado pessoal, como foi no caso do homem paralítico (João 5:14), mas se o próprio cego fosse o culpado, só poderia ter sido devido a algum pecado pré-natal, uma noção incongruente para nós (mas os rabinos judeus acreditavam que uma criança podia pecar no útero); alternativamente, seria culpa dos seus pais, o que às vezes pode acontecer pois os pais podem passar os efeitos do seu pecado até as terceiras e quartas gerações (Êxodo 20:5, etc.).
O Senhor Jesus negou essas duas alternativas. Deus tem as Suas próprias razões sábias para permitir doença, praga, sofrimento e tribulação e Ele nem sempre as revela para nós. Ele nos pede, no entanto, que caminhemos com Ele pela fé através dos tempos difíceis de nossas vidas, sabendo que Ele nunca faria, ou permitiria que fosse feito, algo que não estaríamos dispostos a fazer nós próprios se pudéssemos perscrutar o Seu plano final para nós e para o Seu povo.
Nosso Senhor não estava dizendo que este homem era uma espécie de cobaia espiritual: sugere-se que a pontuação dada ao versículo (que não existe no original) seja mudada para a seguinte, mais adequada:
“Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais. Mas para que nele se manifestem as obras de Deus importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.“ A questão não é quem pecou, “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). Deus nos criou para a Sua glória e falhamos. Este cego, mediante a cura da sua cegueira, não só viu as coisas físicas ao seu redor, mas também viu Jesus Cristo e veio a conhecê-lo como seu Salvador, tornando a sua cura num testemunho vivo do poder de Deus.
Havia urgência em fazer as obras de Deus: o Senhor não adiou esta obra até que pudesse fazê-la particularmente com menos risco para Si, ou mais publicamente para obter maior prestígio, ou até que se findasse o sábado para causar menos escândalo. O bem que temos oportunidade de fazer devemos fazer depressa; se somente fizermos uma boa obra quando não houver obstáculos no caminho, vamos perder muitas oportunidades de fazer boas coisas que poderíamos ter feito (Eclesiastes 11:4).
O dia e noite que o Senhor Jesus mencionou provavelmente se referem à claridade e à escuridão espirituais, pois continuou com o tema anterior dizendo "sou a Luz do mundo." Cristo é a Luz espiritual do mundo e sem Ele todo o mundo é cego como se estivesse na escuridão da noite, como este homem que não podia ver fisicamente. Mas desde que veio ao mundo Ele é a Luz do mundo (embora tenha deixado este mundo fisicamente, Ele derramou o Seu Espírito na Sua igreja, a congregação dos crentes, e continua abrindo os olhos de todo o que vem a Jesus Cristo, recebendo-O como seu Senhor e Salvador).
Depois de untar os olhos do cego com lodo feito com a Sua saliva, o Senhor mandou-o lavar-se no tanque de Siloé (esse tanque foi construído pelo rei Ezequias com águas vindas através de um túnel subterrâneo de uma fonte fora dos muros da cidade. Assim os habitantes sempre podiam obter água sem medo de ser atacados, o que era especialmente importante durante os tempos de assédio - veja 2 Reis 20:20; 2 Crônicas 32:30).
Há várias razões por que Ele pode ter usado este procedimento:
Este Evangelho revela tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo. Ele tinha reivindicado há pouco a Sua divindade, e agora tocou o cego fisicamente. Cristo também tem que tocar nossa visão espiritual e dar vida nova ao nervo ótico espiritual morto para que possamos ver.
O cego teve que obedecer o Senhor Jesus Cristo para que pudesse ver. O pecador deve submeter-se a Ele em obediência para ser salvo.
O Senhor enviou o cego ao tanque chamado Siloé porque seu significado é “enviado”, semelhante a “Messias” no hebraico, ou o "Cristo" no grego. Este homem aprenderia que o Senhor Jesus tinha sido enviado pelo Pai, e da mesma maneira Ele estava sendo enviado.
O cego precisou da água deste tanque para poder ver. Água representa a Palavra de Deus em muitas passagens da Bíblia e a entrada no reino de Deus se faz pelo nascimento desta “água” e do Espírito (capítulo 3:5).
O Senhor usou métodos diferentes para curar as pessoas, mas a Pessoa que curou é que importa, não o método. Muita gente espiritualmente cega hoje discute sobre a necessidade de uma certa cerimônia ou experiência para ser salva, contudo a coisa que realmente importa é vir a Cristo, crer e obedecê-lo: "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (capítulo 6:37). A condição do cego é semelhante à nossa condição de pecadores antes de sermos salvos:
O cego estava fora do templo, fechado fora da presença de Deus. Em Efésios 2:12 aprendemos que “éramos estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo’’. Isso é a condição de todo o mundo antes de ser salvo.
O homem não pôde ver o Salvador. Também não O vimos como nosso Salvador antes de sermos salvos, nem era Ele o Maravilhoso para nós porque éramos cegos.
O homem tinha sido de cego de nascença. Nós nascemos com uma natureza pecadora, incapazes de ver o caminho reto de Deus.
O cego estava além de ajuda humana: não havia nenhuma cura conhecida para a cegueira dele. Nós éramos pecadores desamparados neste mundo e ninguém tinha uma cura para nós.
Ele era um mendigo. Isto é o que fere muitas pessoas: odeiam admitir que são necessitados e estariam dispostos a pagar pela salvação, mas não está à venda. Deus a dá. Este mendigo nunca poderia ter comprado salvação porque não tinha com que pagar. " Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Isaías 55:1).
Ele não estava buscando Jesus, porque não O conhecia. Levou tempo para crescer em graça e no conhecimento de Jesus Cristo. Muitos que são agora crentes nunca esperavam ser salvos, ou procuravam salvação ou estavam até mesmo procurando o Senhor Jesus, mas Ele os estava procurando.
Ninguém tinha piedade dele. Passavam por ele no caminho do templo, e os discípulos só revelaram curiosidade em saber quem era responsável pela condição dele, se ele ou os seus pais. Não manifestaram qualquer clemência a este homem nem pareciam estar dispostos a fazer alguma coisa por ele. Este é um quadro da humanidade. Só Cristo sentiu compaixão por nós e só Ele pode nos socorrer.
Os vizinhos do homem ficaram assustados. Eles mal podiam acreditar que este era o mesmo homem que estava assentado e mendigava durante tanto tempo. (Deve ser assim também quando uma pessoa é salva. Nossos vizinhos devem ser capazes de notar a diferença em nós.) Alguns insistiram que era o mesmo homem. Outros, não tão seguros, estavam apenas dispostos a admitir que havia uma semelhança. Mas o homem removeu todas as dúvidas ao afirmar que ele era o homem que tinha nascido cego.
Sempre que o Senhor Jesus realizava um milagre, isso provocava todos os tipos de perguntas no coração dos homens. Muitas vezes, essas questões dão ao crente a oportunidade de testemunhar do Senhor. Aqui, as pessoas perguntaram ao homem como tudo havia acontececido.
Seu testemunho foi simples, mas convincente. Ele recitou os fatos de sua cura, dando o crédito para Aquele que tinha realizado o milagre. A essa altura ele ainda não sabia quem Ele realmente era, apenas pensava que era um profeta e disse que era "um homem chamado Jesus". Mais tarde compreendeu melhor e O adorou como o Senhor, o Filho do homem. Quando testemunhamos a respeito do que Senhor Jesus Cristo fez por nós, muitas vezes criamos um desejo no coração dos outros de vir a conhecê-Lo também.
1 E passando Jesus, viu um homem cego de nascença.
2 Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
3 Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.
4 Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.
5 Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
6 Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e untou com lodo os olhos do cego,
7 e disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa Enviado). E ele foi, lavou-se, e voltou vendo.
8 Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto, quando mendigo, perguntavam: Não é este o mesmo que se sentava a mendigar?
Joh 9:9 Uns diziam: É ele. E outros: Não é, mas se parece com ele. Ele dizia: Sou eu.
Joh 9:10 Perguntaram-lhe, pois: Como se te abriram os olhos?
Joh 9:11 Respondeu ele: O homem que se chama Jesus fez lodo, untou-me os olhos, e disse-me: Vai a Siloé e lava-te. Fui, pois, lavei-me, e fiquei vendo.
Joh 9:12 E perguntaram-lhe: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
Evangelho de João capítulo 9, versículos 1 a 12