Deus tem um plano, uma finalidade especial, ao chamar os crentes para um modo de vida santa. A igreja de Deus, da qual cada crente é um membro, é “uma casa espiritual” e “um sacerdócio santo” (v.5). O rei Salomão construiu um templo em Jerusalém para ser a casa de Deus e o centro da adoração, embora fosse somente um símbolo (1 Reis 8.27). Por séculos o sacerdócio israelita da descendência de Arão serviu no templo, oferecendo os sacrifícios de animais de acordo com a lei de Moisés.
Tudo isto, entretanto, era somente uma “sombra da verdade” pois tais sacrifícios nunca poderiam remover o pecado (Hebreus 10.4). Deus agora estabeleceu “uma coisa superior” - tem um templo espiritual e santo (1 Coríntios 3.17), onde o Espírito vive, e um sacerdócio espiritual e santo, que lhe oferece adoração aceitável (João 4.23). Esta é a dupla vocação da igreja de Cristo.
No que diz respeito ao processo de alcançar santidade, há o perigo de se adotar um de dois pontos de vista extremos, ambos muito fora de linha com Escritura:
Pensar que a natureza humana é tal que para viver para o Senhor só é preciso tomar um novo rumo, adotar um propósito e fazer uma pequena reforma.
Crer que ao nascer de novo, como ele recebe algo que é sobrenatural, tudo que precisa fazer é apenas esperar sentado enquanto Deus realiza em sua vida tudo que precisa ser feito. Os que assim pensam tornam-se muito “piedosos”, mas nunca parecem crescer e se desenvolver em cristãos normais amorosos e íntegros.
Com o novo nascimento (desta vez da semente incorruptível, a palavra de Deus), nós crentes temos certamente uma natureza nova, e vivemos nessa natureza nova pelo poder do Espírito Santo. Entramos num relacionamento amoroso com Alguém a quem, não tendo visto, amamos. Mas nosso amor por ele faz-nos querer agradá-lo. E nós o agradamos ao crescer em santidade, que requer algum esforço considerável de nossa parte.
O grande propósito de Deus é ter gente salva, não somente do julgamento e do lago do fogo, mas também do mundo atual. Ele os quer salvos, não somente para o céu no porvir, mas para testemunhar do seu Salvador agora. A obra de Cristo na cruz certamente resolveu definitivamente a questão da separação de Deus e do homem por causa do pecado, para aqueles que crêm. Isso não pode ser mudado. Entretanto, em nosso crescimento como filhos de Deus em santidade, não podemos esperar que Deus faça tudo para nós: Ele tem determinadas coisas para fazermos nós mesmos.
É absolutamente necessário, antes de qualquer coisa, que toda a malícia, engano, hipocrisia, inveja, maledicência e coisas similares sejam eliminadas pelo crente da sua vida a fim de começar a crescer em santidade.
Por outro lado, como o leite puro para o recém-nascido, assim é o alimento espiritual contido na Palavra de Deus para o crente. É o leite espiritual genuíno, nutrição perfeita de Deus, não contaminado pela heresia que lhe é adicionada por seitas e por “igrejas” apóstatas. Somente quando é lida, submetida à meditação e aplicada no dia-a-dia pode um crente realmente desenvolver sua vida nova e crescer para chegar a um caráter maduro e santo.
Cada filho de Deus deve almejar a Sua palavra como os recém-nascidos clamam pelo leite, e o valor do estudo bíblico particular, em casa e na igreja é incalculável, pois é com ele que os crentes podem se edificar em sua santíssima fé (Judas 20). Toda a nutrição espiritual que precisamos não é limitada a destacar um verrsículo aqui e ali para nosso conforto, mas em digerir toda a palavra de Deus.
Não vimos a um pequeno bebê em Belém; vimos como bebês a uma Pedra Viva. A Pedra Viva é Cristo. Após a confissão de Simão Pedro, o Senhor Jesus disse, “… sobre esta pedra edificarei a minha igreja...” (Mateus 16:18). Simão Pedro aqui torna bem claro que a “pedra viva” não é ele mesmo mas é Jesus Cristo.
O quadro é de um templo espiritual, feito da pedra, onde pedra fundamental é Cristo. Os crentes são “pedras vivas” desta casa espiritual, a Igreja de Deus (Atos 20.28; 2 Coríntios 6.16; Efésios 2.19-22). Deus quer um templo “santo” - consagrado, digno dEle - e a santidade do templo depende naturalmente da santidade de cada “pedra”.
Foi rejeitado pelos homens (v.6, 1 Coríntios 3.11), mas agora está colocado como a “pedra principal da esquina”. Segundo a tradição judaica, no início do projeto do templo de Salomão uma pedra muito grande, linda de se ver, veio da pedreira, mas os construtores não podiam introduzí-la em nenhum lugar; assim puzeram-na de lado. Porque estava no caminho, eventualmente a empurraram para fora da área da construção para dar lugar para as outras pedras que recebiam e esqueceram-se dela. Finalmente, quando todas as pedras estavam em seu lugar, enviaram um recado para a pedreira, “mandem para cá a pedra angular.” O edifício estava terminado à exceção da pedra angular. A resposta veio, “mandamos para lá a pedra angular logo no início.” Então lembraram, “deve ser a pedra que empurramos para fora!” Então, com muito esforço, tiveram que transportar essa pedra de volta para a área da construção, e descobriram que coube perfeitamente no lugar. Se esta tradição é verdadeira, explica bem os versículos 6 e 7.
É igualmente “uma pedra de tropeço” para decidir o destino eterno daqueles que crêm e daqueles que a rejeitam (v.7-8, Isaías 8.14, Atos 4.11-12). Daniel, em sua visão, viu que uma “pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a estátua nos pés...” (Daniel 2:34). Essa pedra de juízo que virá para atingir a terra também simboliza Cristo, que na sua segunda vinda trará o julgamento a esta terra.
Somos privilegiados em ser uma geração escolhida, um sacerdócio real, uma nação santa, e povo adquirido de Deus. No Velho Testamento lemos que Deus escolheu Israel como seu povo, uma nação escolhida, cuja a herança estava na terra; no Novo Testamento há outro grupo escolhido de pessoas: a igreja, igualmente chamada uma nação santa e um povo adquirido, cuja a herança está no céu.
Um outro quadro dado aqui é de um sacerdócio santo. Notas de Scofield:
Até que a lei foi dada, o titular de cada família era o sacerdote da família (Gênesis 8:20; 26:25; 31:54). Quando a lei foi proposta, a promessa para obediência perfeita era que Israel seria para Deus “um reino de sacerdotes” (Êxodo 19:6) mas Israel violou a lei, e Deus trancou o ofício sacerdotal na família Arônica, nomeando a tribo de Levi para serví-los, assim constituindo o sacerdócio típico (Êxodo 28:1). Na dispensação da graça, todos os crentes são constituídos incondicionalmente num “reino de sacerdotes” (v.9; Apocalipse 1:6) a distinção que Israel não conseguiu pelas obras. O sacerdócio do crente é, conseqüentemente, direito de nascimento; assim como cada descendente de Arão era nascido para o sacerdócio (Hebreus 5:1). O privilégio principal de um sacerdote é o acesso a Deus.
Sob a lei somente o sumo sacerdote poderia entrar no “lugar santíssimo”, e isso apenas uma vez por ano (Hebreus 9:7) mas quando Cristo morreu, o véu, símbolo do corpo humano de Cristo (Hebreus 10:20), foi rasgado, de modo que agora os crentes-sacerdotes, igualmente com Cristo o Sumo Sacerdote, têm acesso a Deus no “lugar santíssimo” (Hebreus 10:19-22). O Sumo Sacerdote está ali em corpo (Hebreus 4:14-16; 9:24; 10:19-22). No exercício do seu ofício o crente-sacerdote do Novo Testamento é um sacrificador que oferece um sacrifício triforme:
e igualmente é um intercessor (Colossenses 4:12; 1 Timóteo 2:1).
Todos os crentes são sacerdotes santos e reais (v.9), e formam um reino de sacerdotes (Apocalipse 1.6). Os Gentíos, antes de Cristo, “não eram povo, e agora é povo de Deus; não tinham alcançado misericórdia, mas agora a alcançaram”: esta carta foi endereçada igualmente aos Gentíos.
1 Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a maledicência,
2 desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação,
3 se é que já provastes que o Senhor é bom;
4 e, chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa,
5 vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo.
6 Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido.
7 E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina,
8 e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.
9 Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
10 vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.
Primeira carta de Pedro, capítulo 2 ver. 1 a 10