Vinte e oito profecias foram cumpridas enquanto o Senhor estava pendurado na cruz (profecias claras quanto à morte do Messias serão encontradas em Gênesis 3:15, Salmo 22:1,13,16,18, 34:20, 69:21,26, 109:25, Isaías 52:14, 53:7-12, Daniel 9:26, Zacarias 12:9,10, 13:6,7). O Senhor, naturalmente, conhecia todas elas, e sabia que todas se realizaram.
"Tenho sede” disse - sem dúvida estava realmente sedento (Salmo 22:15) - e lhe deram vinagre (vinho amargo) para beber (Salmo 69:21). Não se tratava de vinagre drogado com mirra Marcos (15:23) e fel (Mateus 27:34) que tinha recusado logo antes da crucificação. Sua obra na cruz, o pagamento do preço da redenção que havia sido exigido dele (capítulo 17:4), tinha sido plenamente realizado. Por isso exclamou o seu grito de vitória, "está consumado!"
Bradou então mais uma vez bem alto, dizendo "Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito" (Lucas 23:46 – citando o Salmo 31:5), e inclinando a cabeça entregou o espírito (morreu). Ele tinha autoridade sobre o Seu corpo humano e podia decidir quando deixá-lo. Ninguém podia tirar a Sua vida física, mas ele voluntariamente a deu.
Na ocasião da morte de Cristo várias coisas muito notáveis ocorreram (Mateus 27:51-54):
O véu do templo foi rasgado em dois de alto para baixo: foi rasgado por Deus, não pelo homem. O caminho para a presença de Deus, o Santo dos Santos no templo, foi aberto. Todos os que foram salvos mediante o sangue de Cristo podem ir diretamente para a presença de Deus: a única maneira de ir ao Pai é através do Seu Filho. "Há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1 Timóteo 2:5).
Um terremoto, causando as rochas a se fenderem.
Sepulcros se abriram e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados; saindo dos sepulcros, entraram em Jerusalém e apareceram a muitos. Não temos mais pormenores. Só podemos supor que aqueles que ressurgiram tinham morrido recentemente, e assim foram reconhecidos quando apareceram. Seriam as testemunhas da verdade quando o Evangelho foi escrito e, como Lázaro, morreram outra vez.
Os outros três Evangelhos narram como o centurião a cargo da crucificação e os seus soldados ficaram impressionados com as últimas palavras do Senhor e a forma em que voluntariamente morreu. Estes, e os outros eventos como a escuridão e o terremoto, trouxe grande receio a estes soldados endurecidos e declararam “verdadeiramente este era Filho de Deus!" O centurião glorificou a Deus, dizendo, "na verdade, este homem era justo!" Ao que parece, o que ele ouviu e viu o convenceu que Este era o Filho de Deus justo. Ele provavelmente foi salvo, embora provavelmente não soubesse muita teologia, mas era o bastante para que se colocasse debaixo da cruz de Cristo.
O efeito sobre toda a multidão que tinha chegado para assistir este grande evento não foi menos dramático: eles batiam no peito e voltavam (Lucas 23:48). Havia um ambiente nefasto e assustador cercando a morte de Cristo. Remorso pelo derramamento de sangue inocente, e a compreensão de muitos deles que esta não era uma pessoa normal mas o próprio Messias, deve ter feito com que temessem pelas suas almas. Pouco tempo depois, a pregação da boa notícia do perdão e da salvação por meio da fé iria trazer muitos a Cristo.
A Lei de Moisés exigia que o cadáver de um homem que sofresse a pena de morte e fosse pendurado num madeiro deveria ser enterrado no mesmo dia, porque, por ser maldito de Deus, a terra seria contaminada se assim não fosse feito (Deuteronômio 21:23).
A partir do por do sol começava o “grande dia de sábado” da páscoa. Era o primeiro dia da festa dos pães asmos, e tanto neste dia como no sétimo da festa não era permitido qualquer trabalho, assim como no sábado semanal (Êxodo 12:16). O judeus hipócritas por isso rogaram a Pilatos que se quebrasse as pernas dos que estavam crucificados para que seus corpos não ficassem na cruz e fossem tirados dali. Pilatos acedeu, mas os soldados deixaram as pernas de Jesus intatas porque Ele já estava morto. Em vez disso, os soldados furaram o lado dele com lança, apenas para ter certeza. Inconscientemente, eles cumpriram mais duas profecias sobre o Messias: que “nenhum dos ossos do Justo será quebrado” (Salmo 34:20), assim como o cordeiro da Páscoa (Êxodo 12:46), e que “Ele será traspassado” (Zacarias 12:10). João, o escritor deste Evangelho, viu tudo isto e dá testemunho que é tudo verdade.
Aprendemos dos outros evangelhos, que José de Arimateia era um membro rico e proeminente do conselho (ou sinédrio, mas era um homem bom e justo e não tinha consentido na decisão e ação de matar Jesus). Era discípulo de Jesus em oculto por medo dos judeus mas agora criou coragem para ir até Pilatos, e pedir licença para retirar o Seu corpo. Pilatos se admirou que Ele já estivesse morto, mas obtendo a confirmação do centurião, concedeu o corpo para José. José comprou linho fino, foi e retirou o corpo da cruz.
Nicodemos, fariseu e também membro do sinédrio, que anteriormente havia ido de noite falar com Jesus (capítulo 3:1-21) e mais tarde procurara protegê-lo (capítulo 7:50-52), também apareceu agora trazendo consigo uma mistura de mirra e aloés pesando cerca de cinquenta quilos. Este perfume é o mesmo usado nas vestes do Messias no casamento simbólico profético com a Sua noiva, a igreja (Salmo 45:8). Estas especiarias foram então colocadas entre as camadas de linho compradas por José e juntos nelas envolveram o corpo de Jesus, preparando-o para a sepultura.
O corpo foi colocado na sepultura nova de José cavada na rocha, onde ninguém havia sido sepultado antes (Isaías 53:9). Estava localizada dentro de um pequeno jardim próximo ao local da crucificação, fora dos muros de Jerusalém, o que poupava tempo. Enrolaram uma grande pedra contra a porta do sepulcro, e partiram.
Juntando a narrativa dos quatro evangelhos temos os seguintes fatos:
Maria Madalena e Maria mãe de José estavam ali, assentadas em frente ao sepulcro, observando onde o corpo foi colocado (Lucas 23:55).
No dia seguinte, o sábado da páscoa, os sacerdotes principais e os fariseus selaram a pedra da entrada no túmulo e colocaram soldados em guarda depois de obter a permissão de Pilatos. Lembraram que o Senhor dissera que ressuscitaria depois de três dias e três noites, e temiam que os discípulos roubassem o corpo (Mateus 12:40, 27:62-66).
Findo o sábado, Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas e foram preparar em casa especiarias e unguentos. Em seguida era o sábado semanal, e elas descansaram conforme o mandamento da lei mosaica (Marcos 16:1, Lucas 24:56).
Cedo no dia seguinte, o primeiro dia da semana (nosso domingo), elas foram até a sepultura e a encontraram vazia. Haviam desperdiçado seu tempo e dinheiro... Maria, a irmã de Lázaro, tinha agido melhor uma semana antes (capítulo 12:3-7).
Isso só pode significar que a Crucificação se deu numa quarta-feira, o sábado da páscoa foi na quinta-feira, as especiarias e unguentos foram comprados e preparados na sexta-feira, para serem utilizados no domingo, depois do sábado semanal.
Quatro pessoas, pelo menos, se mudaram devido à morte de Jesus naquele dia:
O ladrão na cruz ao Seu lado creu e pediu para ser incluído no seu reino (Lucas 23:39-43).
O centurião romano proclamou que Ele certamente era o Justo Filho de Deus (Marcos 15:39).
José de Arimateia e Nicodemo, membros do sinédrio e discípulos secretos (capítulo 7:50-52), saíram da clandestinidade. Mudaram mais pela Sua morte do que Sua vida. Perceberam Quem Jesus era, e a sua descoberta lhes deu convicção, testemunho, e ação.
28 Depois, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam consumadas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede.
29 Estava ali um vaso cheio de vinagre. Puseram, pois, numa cana de hissopo uma esponja ensopada de vinagre, e lha chegaram à boca.
30 Então Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
31 Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali.
32 Foram então os soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado;
33 mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas;
34 contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.
35 E é quem viu isso que dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que diz a verdade, para que também vós creiais.
36 Porque isto aconteceu para que se cumprisse a escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado.
37 Também há outra escritura que diz: Olharão para aquele que traspassaram.
38 Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, embora oculto por medo dos judeus, rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus; e Pilatos lho permitiu. Então foi e o tirou.
39 E Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus de noite, foi também, levando cerca de cem libras duma mistura de mirra e aloés.
40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus, e o envolveram em panos de linho com as especiarias, como os judeus costumavam fazer na preparação para a sepultura.
41 No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim, e nesse jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda havia sido posto.
42 Ali, pois, por ser a vespera do sábado dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro, puseram a Jesus.
Evangelho de João, capítulo 19 e versículos 28 a 42