A multidão estava seguindo o Senhor Jesus porque Ele fazia milagres. Não era difícil para Cristo ler os pensamentos desta turba entusiástica. O povo queria proclamá-lo rei à força (João 6:15) pois haviam reconhecido que Ele era o profeta prenunciado por Moisés (Deuteronômio 18:15), portanto o Messias, e queriam que tomasse o Seu lugar na política, e como Rei os libertasse dos romanos e desse início ao reino de Deus triunfante na terra, cumprindo assim as várias profecias a Seu respeito.
Era uma crise que requeria ação rápida. Jesus sabia que era da linha real de Davi, e tinha o título e direito legal para assumir essa posição (cap. 1:49, 18:37), mas não ia se tornar rei por qualquer processo democrático. Não ia ser aclamado rei pelo desejo do povo, mas é Rei pela vontade de Deus. Ele tomará posse do Seu reino na terra, finalmente, pela força: "Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. Tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.” (Salmo 2:8-9). Ele sabia que esta não era a hora de assumir o poder sobre a nação, mas que o caminho a seguir era o que O levaria à morte redentora.
Os discípulos estavam com Jesus (versículo 3), mas a esta altura dos acontecimentos Ele os enviou apressadamente para ir de barco ao outro lado do mar (Marcos 6:45; Mateus 14:22), porque sabia que simpatizavam com o impulso revolucionário da multidão. Os discípulos não estavam com pressa para ir a Betsaida na Galileia (Marcos 6:45), ou Cafarnaum (versículo 17), e só partiram quando caia a tarde e escurecera, e Jesus não tinha vindo ter com eles.
Afastando-se também das multidões o Senhor subiu na montanha a sós. Estava solitário em todos os sentidos, porque ninguém fora o Pai o entendia nesta fase, nem mesmo os Seus próprios discípulos. Subiu para orar (Marcos 6:46; Mateus 14:23). Buscar solidão era uma prioridade importante para o Senhor Jesus (também veja Mateus 14:13). Ele abria espaço na sua agenda cheia para estar a sós com o Pai. Fazer tempo para a oração e meditação na Palavra de Deus cria um relacionamento vital e nos equipa a enfrentar os desafios e lutas da vida. Precisamos desenvolver a disciplina de passar tempo a sós com Deus: isso nos ajudará a crescer espiritualmente e a nos tornar cada vez mais como Cristo.
O Mar da Galileia está 200 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo, tinha naquele tempo uma profundidade de cerca de 50 metros e é rodeado por montanhas de, aproximadamente, mil metros de altura. Está sujeito a súbitas e fortes ventanias que causam ondas extremamente altas. Tais tempestades eram esperadas neste lago, mas são assim mesmo amedrontadoras para quem está remando um pequeno barco em sua superfície.
O Senhor estava nas montanhas, no lugar de oração. Os discípulos estavam no Mar da Galileia em uma tempestade e em escuridão, um lugar de perigo. Isso é um retrato dos nossos tempos. Jesus Cristo foi para estar com o Pai, e está sentado à Sua direita. Nós estamos aqui hoje num mar devastado pela tempestade, um lugar de perigo. Cerca da “quarta vigília” (três horas da madrugada), tinham apenas percorrido cerca de cinco a sete milhas, que era só metade da distância até o seu destino, pois faziam pouco progresso devido à tempestade.
Foi então que viram o Senhor que caminhava sobre a água, aproximando-se deles, e ficaram amedrontados porque não O reconheceram, e pensaram que fosse um fantasma (Marcos 6:49). Não esperavam que Ele viesse assim, e não estavam preparados para a Sua ajuda. A fé espera que Deus aja por quaisquer meios, em qualquer lugar. Quando temos essa expectativa, podemos superar nossos temores.
Mesmo depois de assistir Jesus milagrosamente alimentando mais de cinco mil pessoas, Seus discípulos ainda não puderam dar o passo final de fé e crer que ele era o Filho de Deus (Marcos 6:52). Se o tivessem feito, não admirariam que Jesus pudesse caminhar sobre água. Eles não transferiram a verdade que já sabiam de Jesus para as suas próprias vidas.
Jesus lhes disse que não tivessem medo. É comum enfrentarmos tempestades espirituais e emocionais e sentirmos que estamos sendo atirados de um lado para outro como um pequeno barco num grande lago. Apesar de circunstâncias amedrontadoras, se confiarmos nossas vidas a Cristo para a Sua custódia, Ele nos dará paz em qualquer tempestade.
É bom pensar que Cristo virá nos buscar para estarmos com Ele nas horas da madrugada. Cristo é a estrela luminosa da manhã para a igreja e Ele tirará a igreja do mundo. Não sabemos a data da Sua vinda mas todas as indicações são que estamos na “quarta vigília” da noite.
João não nos relata a caminhada de Pedro, só Mateus (Mateus 14:28-31). O Senhor disse a Pedro, simplesmente: "Venha!" E Pedro desceu do barco e andou sobre as águas para ir ter com Ele. Não ficou na intenção, mas demonstrou a legitimidade da sua fé. Não andamos sobre a água, como fez Pedro, mas ainda caminhamos por situações difíceis. Nossa fé é muitas vezes forte na teoria, mas fraca na prática. Sejamos como Pedro, obedecendo às ordens do Senhor: notem que ele pediu que o Senhor o mandasse ir, ele não foi por conta própria.
O Senhor aproveitou a ocasião para nos dar uma lição. Pedro estava andando sobre as águas, confiante no poder de Cristo para sustê-lo. "Mas, quando reparou no vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: Senhor, salva-me!" Se focalizarmos nossos olhos apenas nas ondas das circunstâncias adversas ao nosso redor sem olhar a Cristo para a Sua ajuda, também podemos desesperar e afundar. Para manter a nossa fé quando as situações forem difíceis, temos que fixar nossos olhos no poder d’Ele e não em nossas insuficiências. Embora saindo com boas intenções, às vezes nossa fé hesita. Isto não significa necessariamente que falhamos.
Quando a fé de Pedro hesitou, ele se socorreu em Cristo, o único que poderia ajudar. Estava com medo, mas olhou para Ele. Pedro não procurou nadar, o que parece que ele sabia fazer (João 21:7), mas sabiamente recorreu logo ao Senhor Jesus. Não foi preciso uma oração comprida, cheia de lindos termos de linguística e citações bíblicas, ou uma reza repetida várias vezes (ele teria afogado antes de terminar) mas curta, objetiva, para a pessoa certa: "Senhor, salva-me!" Quando estamos apreensivos sobre as dificuldades ao redor de nós, e duvidarmos da presença ou habilidade de Cristo, temos que nos lembrar que Ele é o único que realmente pode ajudar.
O vento amainou e se esgotou na presença do seu Mestre (Marcos 4:39). Em consequência, os discípulos O adoraram e Jesus o aceitou. Estavam crescendo em sua estima da pessoa e do poder de Cristo, a partir de " Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem? " (Mateus 8:27) até, mais tarde, a " Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." (Mateus 16:16). E logo o barco chegou à terra para onde iam, como diz a cantiga "Com Cristo no barco tudo vai muito bem".
Lemos aqui que Jesus caminhou sobre a água, mas ainda, muitas vezes, nos surpreendemos que Ele pode trabalhar em nossas vidas. Essas coisas haviam sido feitas para provar aos seus discípulos que Ele não somente podia prover o seu sustento, como no caso da multiplicação dos pães, mas também dar-lhes proteção e poder. Assim os discípulos tiveram a certeza que Ele era mesmo o Filho de Deus, e tendo essa certeza O adoraram.
Não só temos que crer que este e os outros sinais realmente aconteceram; devemos também transferir a verdade para a nossas próprias situações em nossas vidas.
15 Percebendo, pois, Jesus que estavam prestes a vir e levá-lo à força para o fazerem rei, tornou a retirar-se para o monte, ele sozinho.
16 Ao cair da tarde, desceram os seus discípulos ao mar;
17 e, entrando num barco, atravessavam o mar em direção a Cafarnaum; enquanto isso, escurecera e Jesus ainda não tinha vindo ter com eles;
18 ademais, o mar se empolava, porque soprava forte vento.
19 Tendo, pois, remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus andando sobre o mar e aproximando-se do barco; e ficaram atemorizados.
20 Mas ele lhes disse: Sou eu; não temais.
21 Então eles de boa mente o receberam no barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.
Evangelho de João, capítulo 6, versículos 15 a 21