Os que eram de Jerusalém, em contraste com a multidão em geral (capítulo 7:20), sabiam do propósito dos seus líderes de matar o Senhor Jesus (João 5:18), assim demostraram surpresa e sarcasmo aos ouvi-los apenas fazer comentários irônicos sobre Ele (versículo 15) embora falasse abertamente (veja versículo 13 e capítulo 18:20), diante de todos que O viam no templo. Na sua segunda pergunta sugeriram ironicamente que os seus líderes estariam agora aceitando a idéia d’Ele ser até mesmo o Messias.
Talvez desdenhosamente, disseram que sabiam de onde Ele vinha - eles devem ter ouvido isto dos galileus que conheciam a Sua família (capítulo 6:42), mas só O conheciam como sendo de Nazaré, não sabendo do Seu nscimento em Belém (versículo 42). Disseram que ninguém sabia de onde o Messias viria - citando um texto da teologia popular que dizia "Três coisas vêm completamente inesperadas: o Messias, uma dádiva de Deus, e um escorpião (Sinédrio 97a)."
Os líderes sabiam ser Belém o local de nascimento (versículo 42; Matthew 2:5), mas alguns até esperavam que o Messias descesse de repente do céu, como Satanás propôs ao Senhor cair do pináculo do templo. Os judeus geralmente esperavam um aparecimento súbito do Messias, saindo do Seu encobrimento mediante uma unção de Elias.
O Senhor sabia o que eles diziam, embora provavelmente só tivessem sussurrado estas perguntas entre eles, e imediatamente respondeu em voz alta e clara no meio do Seu ensino ao povo que O rodeava.
Brevemente concordando que eles conheciam algo sobre Si e de onde viera, Jesus esclareceu novamente que não havia vindo por sua própria iniciativa. Passando por cima da controvérsia sobre a origem do Messias, Ele mostrou a ignorância deles sobre Quem O havia enviado.
As palavras “eu O conheço” contêm uma reivindicação exclusiva do Senhor Jesus, que é repetida com insistência através dos capítulos de controvérsia com os judeus. Ele foi o Intérprete de Deus aos homens (capítulo 1:18) tendo sido enviado por Ele. Este foi o mesmo verbo usado quando enviou os doze (Mateus 10:5) e também no capítulo 17:3. Ele é o Enviado (ou Apóstolo) do Pai aos homens.
Alguns dos de Jerusalém (não os líderes) buscaram prendê-lo para levá-lo às autoridades. Mas não conseguiram porque “ainda não era chegada a Sua hora": a perseguição e morte do Senhor seguiam um plano divinamente preparado e ninguém poderia interferir com ele. Mas uma grande parte da multidão veio a acreditar n’Ele antes ou durante esta controvérsia. Tinham assistido os acontecimentos de perto e ficaram impressionados com todos os sinais que Jesus tinha feito até ali.
Os fariseus (chamados “os judeus”) se tornaram hostís ao Senhor Jesus muito cedo e os saduceus (chamados “os principais sacerdotes”) passaram à crítica (Mateus 16:6); agora os dois partidos se uniram, enviando oficiais para O prender. Tinham ouvido a murmuração das multidões sobre Ele antes da Sua chegada (versículo 12) e mais ainda agora. A aceitação d’Ele como Messias por uma porção da multidão (versículo 31) deve ter especialmente irritado os fariseus.
O Senhor estava perfeitamente atento à sua trama. Disse-lhes então que ficaria mais um pouco com eles (sabia que o fim estava próximo, porque faltavam só seis meses até a última páscoa quando se encerraria o Seu ministério). Depois iria de volta para Quem O enviara (veja também o capítulo 16:5): a palavra “vou” indica que ia se retirar (literalmente, submergir).
Essa maneira de falar era enigmática para os ouvintes. Eles buscariam mas não O achariam, e não poderiam ir onde Ele estaria. Às multidões Ele havia dito: "Buscai e achareis" (Mateus 7:7); agora os Seus inimigos estavam buscando matá-lo (versículo 30), mas quando voltasse para o lugar de onde veio eles não poderiam também ir até lá.
O Seu lugar está na presença absoluta, eterna do Pai. Este relacionamento ia além da compreensão destes judeus infieis hostis (veja capítulo 8:21-24), portanto a eles seria negada a salvação e o acesso ao céu.
Ouvindo isto, os líderes judeus diziam uns aos outros “aonde pretende ir este homem, que não o possamos encontrar? Para onde vive o nosso povo, espalhado entre os gregos, a fim de ensiná-lo?” (NVI). É interessante que eles anteciparam, sem o saber, o caminho que tomaria o cristianismo; o que parecia improvável e impossível a eles realmente aconteceu.
Em cada um dos primeiros sete dias da festa, tirava-se água com uma vasilha dourada do tanque de Siloé, sendo levada em procissão ao templo e oferecida pelos sacerdotes enquanto o coral cantava “com alegria tirareis águas das fontes da salvação” (Isaías 12:3). No oitavo dia, o grande dia da festa se fazia a “santa convocação” (Levítico 23:36), guardado como um sábado sagrado, aparentemente em comemoração da entrada em Canaã.
Neste último dia o Senhor Jesus de repente se pôs de pé e exclamou para que todos ouvissem, como lemos nos versículos 37 e 38 (não temos certeza se as libações eram feitas também neste dia, mas se não eram, a sua ausência faria desse o dia mais próprio para essas palavras). Nenhuma passagem pode ser achada no Velho Testamento para as palavras que pronunciou no versículo 38, mas algumas idéias semelhantes se encontram em várias, como Isaías 55:1; 58:11; Zacarias 13: 1; 14:8; Ezequiel 47: 1; Joel 3: 1 8, etc.
Como este Evangelho foi escrito muito tempo depois do evento, o versículo 39 prevê a interpretação dessa frase do Senhor como sendo o prenúncio da vinda do Espírito Santo, a Quem os que n’Ele cressem receberiam no dia de Pentecoste, depois da ascenção do Senhor Jesus para a glória do céu, e depois disso após a conversão (Atos 10:44, 1 Coríntios 12:13).
Algumas das pessoas estavam convencidas que Ele era o Profeta prometido a Moisés (Deuteronômio 18:15) e esperado há muito tempo (capítulo 1:21). Outros foram adiante e ousaram chamá-lo abertamente de Messias e não somente o profeta que talvez não fosse Ele. Os que negavam que Jesus fosse o Messias deram como razão o fato que ele viera da Galiléia, aparentemente desconhecendo que Ele havia nascido em Belém de onde a Bíblia, que citaram corretamente, disse que Ele viria (Miquéias 5:2). Havia portanto uma clara divisão de opinião entre as pessoas, com alguns desejando agarrá-lo novamente, mas não o fazendo.
Houve uma explosão indignada do sinédrio (saduceus e fariseus) por causa do fracasso da polícia do templo em prender o Senhor Jesus. Talvez já estivessem sentados em seus lugares na expectativa de interrogá-lo imediatamente e ficaram espantados com esse resultado. Os policiais normalmente não se deixam influenciar por palavras, mas estes ficaram profundamente impressionados, da mesma forma que a multidão, pelas palavras do Senhor (veja o versículo 24).
Os fariseus zombaram dos policiais por terem se deixado enganar da mesma maneira que “essa maldita ralé que nada entende da lei” ao invés de obedecer às autoridades e a eles próprios. (Eles desprezavam os que eles chamavam de “povo da terra” como se vê na literatura rabínica: lê-se ali que “nenhum homem embrutecido teme o pecado, nem é piedoso qualquer um do povo da terra”. Veja o assombro do sinédrio quando ouviram Pedro e João em Atos 4:13, considerados comuns e sem instrução [“idiotai” no grego]. Não é de surpreender que as pessoas comuns ouviam o Senhor alegremente).
Nicodemos, de quem não ouvimos desde que veio timidamente ao Senhor, de noite, agora corajosamente protestou contra a injustiça de condenar Jesus sem primeiro ouví-lo. Estes expositores da lei (versículo 49) realmente estavam violando a lei de procedimento criminal (Êxodo 23: 1; Deuteronômio 1: 16).
Eles lhe deram uma resposta desdenhosa, insinuando que Nicodemos teria se enfileirado com a turba desprezada da Galiléia. Nenhum profeta surgiu da Galiléia, mentem (Jonas, Oséias, Naum, possivelmente também Elias, Eliseu e Amós eram todos da Galiléia).
25 Diziam então alguns dos de Jerusalém: Não é este o que procuram matar?
26 E eis que ele está falando abertamente, e nada lhe dizem. Será que as autoridades realmente o reconhecem como o Cristo?
27 Entretanto sabemos donde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é.
28 Jesus, pois, levantou a voz no templo e ensinava, dizendo: Sim, vós me conheceis, e sabeis donde sou; contudo eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis.
29 Mas eu o conheço, porque dele venho, e ele me enviou.
30 Procuravam, pois, prendê-lo; mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora.
31 Contudo muitos da multidão creram nele, e diziam: Será que o Cristo, quando vier, fará mais sinais do que este tem feito?
32 Os fariseus ouviram a multidão murmurar estas coisas a respeito dele; e os principais sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para o prenderem.
33 Disse, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou.
34 Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir.
35 Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá ele, que não o acharemos? Irá, porventura, à Dispersão entre os gregos, e ensinará os gregos?
36 Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e, Onde eu estou, vós não podeis vir?
37 Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.
38 Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.
39 Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
40 Então alguns dentre o povo, ouvindo essas palavras, diziam: Verdadeiramente este é o profeta.
41 Outros diziam: Este é o Cristo; mas outros replicavam: Vem, pois, o Cristo da Galiléia?
42 Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, a aldeia donde era Davi?
43 Assim houve uma dissensão entre o povo por causa dele.
44 Alguns deles queriam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs as mãos.
45 Os guardas, pois, foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?
46 Responderam os guardas: Nunca homem algum falou assim como este homem.
47 Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados?
48 Creu nele porventura alguma das autoridades, ou alguém dentre os fariseus?
49 Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.
50 Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes:
51 A nossa lei, porventura, julga um homem sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que ele faz?
52 Responderam-lhe eles: És tu também da Galiléia? Examina e vê que da Galiléia não surge profeta.
53 E cada um foi para sua casa.
Evangelho de João capítulo 7 versículos 25 a 53