No mesmo dia em que Estêvão foi apedrejado, levantou-se grande perseguição à igreja. O povo havia sido agitado pelos membros da sinagoga no dia anterior, quando acusaram Estêvão injustamente de blasfêmia. Ao ser, em seguida, condenado pelo Sinédrio, começaram a perseguir todos os da igreja de Cristo, da qual ele era diácono.
Os fariseus desta vez haviam se juntado aos saduceus na condenação, e entre eles figurava o jovem Saulo, que havia assistido e aprovado com prazer a execução de Estêvão. Ele agora liderava a perseguição da igreja, levado pelo seu zelo para com Deus (Filipenses 3:6), algemando e metendo em prisões tanto homens quanto mulheres (cap. 22:3,4).
Paulo lamentou ter feito tal coisa, depois que percebeu o terrível engano que havia cometido (1 Coríntios 15:9), mas a morte de Estêvão, e a perseguição que se seguiu, desencadeou o movimento que espalhou a igreja pelas regiões da Judéia e de Samaria e "os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a Palavra".
Curiosamente, sem o saber, ao invés de dar término à crescente igreja de Cristo, Saulo foi instrumental para que a sua expansão através da Judéia, e da Samaria se desse naquela ocasião. Pouco depois ele se renderia a Cristo, seria nomeado apóstolo pelo Senhor Jesus e enviado ao mundo gentío com o nome de Paulo.
Muito mais tarde, sofrendo ele próprio a prisão em Roma por causa do seu testemunho cristão, Paulo declarou que as coisas que lhe aconteceram contribuíram para o progresso do Evangelho, pois se tornou manifesto a toda a guarda pretoriana e a todos os demais que era por Cristo que ele estava em prisões (Filipenses 1:12, 13). Muitas vezes o que nos parece uma derrota em nosso testemunho, na realidade é a maneira que Deus usa para alcançar a vitória final.
A Judéia e a Samaria eram os territórios que o Senhor havia comandado os discípulos a evangelizarem depois de Jerusalém. A Judéia circundava Jerusalém e Samaria ficava ao norte dessa cidade.
Os apóstolos, segundo parece, não eram perseguidos ainda, talvez por causa da decisão do Sinédrio de seguir o conselho de Gamaliel e limitavam o seu testemunho a Jerusalém. Não nos é informado o motivo.
O Evangelho, no entanto, era transmitido pelos demais membros da igreja no exílio por causa da perseguição, e novas igrejas iam se formando em outras localidades. O que, do ponto de vista humano, seria considerado como uma derrota para o Evangelho, na realidade foi um sucesso, pois a semente do fruto da pregação pelos apóstolos foi desta forma espalhada pelas regiões vizinhas para dar mais fruto em abundância.
Não sabemos quem eram os homens piedosos que sepultaram Estêvão, mas é possível que tenham sido membros da igreja ou mesmo judeus piedosos que o conheciam, ou haviam se beneficiado das suas curas.
Fizeram por ele grande lamentação, pois além de tê-lo em grande estima por causa do seu caráter, sabiam que iriam sentir muito a sua falta.
Filipe, não o apóstolo mas outro dos sete diáconos originais (cap. 6:5), subiu para o norte e foi para Samaria.
Samaria havia sido visitada pelo Senhor Jesus no início do Seu ministério, quando muitos creram que Ele era o Salvador do mundo, primeiro por causa do testemunho da mulher a Quem Ele havia se revelado primeiro, e em seguida por causa da Sua própria palavra (João 4:39-41). Ele havia proibido os Seus apóstolos provisoriamente de pregarem ali na sua terceira viagem pela Galiléia (Mateus 10:5), mas antes da Sua ascensão comandou que fossem (cap. 1:8).
Em Samaria, Filipe se destacou na evangelização, e Deus lhe deu os dons dos apóstolos para desenvolver esse ministério, assim como fizera com Estêvão. Somente os primeiros pioneiros que levavam a Palavra de Deus ao mundo, além dos apóstolos, receberam esses dons, mas esses "sinais" foram retirados e desde quando os livros que compõem as Escrituras Sagradas, a Bíblia, foram completados e estabelecidos, as credenciais de um homem de Deus têm sido a sã doutrina ao invés de sinais miraculosos.
Filipe pregava a Cristo numa cidade de Samaria, e realizava sinais miraculosos, saindo espíritos imundos de muitos, e curando muitos paralíticos e coxos. Ao ver os que eram curados, as multidões ficavam escutando, unânimes, ao que ele dizia, e isto resultava em grande alegria naquela cidade.
Vemos até aqui como os membros da igreja em seus primórdios obedeceram ao que o Senhor Jesus havia comandado:
1 Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e da Samaria.
2 E uns homens piedosos sepultaram a Estêvão, e fizeram grande pranto sobre ele.
3 Saulo porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.
4 No entanto os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a palavra.
5 E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo.
6 As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava;
7 pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados;
8 pelo que houve grande alegria naquela cidade.
Atos capítulo 8, versículos 1 a 8