De um ponto de vista humano, alguns acontecimentos futuros podem ser VAGAMENTE previstos com base em dados conhecidos e experiência prévia. Outros podem ser RAZOAVELMENTE esperados desde que certas providências sejam tomadas dentro de condições controladas. Mas as previsões não são mais que palpites mais ou menos bem informados e puras especulações para um futuro de apenas um ou dois anos.
Já a profecia descreve EXATAMENTE acontecimentos futuros, centenas ou milhares de anos pela frente: isto é, porque profecia é a revelação de Deus à humanidade, através de seus profetas escolhidos, desses acontecimentos.
De maneira geral, na Bíblia, a humanidade se compõe de judeus, de gentios e da igreja de Deus (1ª Coríntios 10:32); assim, também suas profecias são dirigidas ora a um ora a outro destes grupos e é, portanto, muito importante levar em conta a quem cada uma é dirigida.
O Velho Testamento foi, em primeiro lugar, destinado à nação dos judeus. Deus usou seus profetas dentro desse povo para declarar acontecimentos futuros, e estes dizem respeito principalmente aos descendentes de Israel e às nações gentias com as quais eles se envolveram. Existem algumas exceções, como as interpretações de sonhos de gentios feitas por José e Daniel.
O Novo Testamento introduz algo que antes estivera escondido dos profetas do Velho Testamento, mas foi revelado por Jesus Cristo e seus apóstolos (Efésios 3:3-12): muitos entre os judeus e os gentios iriam se unir por causa da sua fé em Cristo, para formar um só povo chamado a igreja de Cristo. Nele encontramos profecias concernentes à igreja bem como mais detalhes de muitas profecias encontradas no Velho Testamento, que ainda não haviam sido cumpridas.
No conceito de profecia se incluem muitas promessas feitas incondicionalmente por Deus, como:
O concerto abraâmico, considerado o tratado básico, anunciando que uma grande nação descenderia de Abraão, e que nele todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gênesis 12:1-4).
O concerto "palestino", o da restauração, anunciando que, depois de ser espalhado entre muitas nações, Israel irá voltar para a terra possuída por seus pais (Deuteronômio 30:3-5).
O concerto "davídico", o do reino, anunciando que a dinastia de Davi, seu reino e seu trono serão estabelecidos para sempre (2ª Samuel 7:11-16).
O concerto "novo", o da bênção e redenção, anunciando que Israel será outra vez o povo de Deus, que ele será o seu Deus, que Israel conhecerá o Senhor e será perdoado (Jeremias 31:31-40). Está bem claro em Romanos 11:25-27 que isto só acontecerá depois que haja entrado a plenitude dos gentios, ou seja, depois que a igreja, contendo todos os gentios a serem remidos, seja completada e arrebatada.
A maior parte da Bíblia contém material profético, no sentido de revelação do que irá acontecer, em grande parte de maneira explícita, mas também em forma de tipos e símbolos, e cerca de metade já se cumpriu ao pé da letra.
Quanto à cronologia dos acontecimentos anunciados nas profecias, temos uma estrutura notável fornecida no livro de Daniel para os tempos dos gentios, começando com o cativeiro dos judeus na Babilônia e terminando na volta de Cristo para o julgamento das nações, quando ele dará início ao seu reino de mil anos.
Como a existência da igreja foi um mistério não revelado aos profetas do Velho Testamento, o período da igreja na terra está excluído da cronologia de Daniel.
Na revelação das setenta semanas (cada uma de sete anos) em Daniel 9:24-27, os acontecimentos previstos se cumpriram com absoluta exatidão até o fim da 69a. semana, quando a igreja foi estabelecida; a 70a. semana começará quando a besta (também chamado anticristo) firmar um tratado com Israel, e a igreja já não mais estará aqui; isto é, o início do Dia do Senhor, ou tribulação, ou ira, que durará através desses sete últimos anos terminando na segunda vinda de Cristo (Daniel 9:27 e 14, Lucas 21:20-28).
Quanto às profecias de Daniel e dos outros profetas do Velho Testamento, portanto, o relógio parou dois milênios atrás num intervalo de tempo indeterminado, e poderá começar outra vez, logo - o panorama político mundial parece estar quase pronto para o tratado de paz com Israel pelo anticristo (ainda não conhecido), mas antes a igreja será arrebatada - e só Deus sabe o dia e a hora em que isto vai acontecer (Mateus 24:36-44, Atos 1:7).
O último livro da Bíblia, escrito por último, é a revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as cousas que em breve devem acontecer, e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João.
Depois de uma visão do Senhor Jesus em sua majestade, João foi instruído a escrever este livro contendo as coisas que ele havia visto (capítulo 1), as coisas que são (capítulos 2 e 3) e as coisas que hão de acontecer depois destas (capítulo 4 em diante).
Na sua primeira vinda, o Senhor Jesus havia revelado aos seus discípulos algumas coisas sobre o futuro (por exemplo, Marcos 13), mas agora, já em sua posição de glória dos céus, Ele nos revela muito mais através do seu servo João.
Endereçado aos servos de Deus e de Cristo, ele põe em perspectiva a maior parte da profecia já dada e ainda por cumprir, com uma abundância de detalhes concernentes à última semana de anos da profecia de Daniel, acrescentando informações quanto ao estado e destino das igrejas na terra, a nova Jerusalém, os novos céus e a nova terra. É a última revelação que Deus dá sobre o que há de acontecer (capítulo 22:18-19).
Como o Senhor Jesus pessoalmente mandou que o livro fosse escrito, e deu seu selo de aprovação ao fim (capítulo 22:20), ele é o seu Autor.
Realmente, a perfeição da sua composição, o estilo e magnífica linguagem que contém, estão à altura do seu divino Autor. Bem-aventurados são aqueles que lêem, que ouvem suas palavras, e que guardam as coisas ali escritas (capítulo 1:3, 22:7). O número sete é abundante através do livro, outra expressão da sua integridade.
Neste livro encontramos mais símbolos do que em qualquer outro livro da Bíblia, e eles são explicados no próprio livro, ou em outras Escrituras: ele foi escrito para ser lido por aqueles que conhecem (ou deviam conhecer) a Palavra de Deus, e, portanto, têm discernimento espiritual (Deuteronômio 29:29).
Ele está particularmente relacionado com o livro de Daniel: as questões concernentes à tribulação foram encerradas e seladas até ao tempo do fim (Daniel 12:9), mas foram outra vez abertas neste último livro, e João foi instruído a não selar as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo (capítulo 22:10).
O livro começa com uma saudação da Divina Trindade: Deus o Pai eterno, o Espírito Santo em sua integridade de sete propriedades fundamentais (Isaias 11:2), e Jesus Cristo a fiel testemunha (profeta), o primogênito dos mortos (sacerdote), e o soberano dos reis da terra (rei). O Senhor Jesus é louvado por nos ter amado, por nos ter libertado dos nossos pecados pelo seu sangue, e nos ter exaltado; quando voltar outra vez, desta vez como juiz, todos os olhos o verão, inclusive os que o traspassaram (a nação de Israel - Zacarias 12:10).
João escreve que ele estava em espírito, no dia do Senhor: num domingo, como parece indicar a etimologia grega, ou no dia do Senhor mencionado muitas vezes nas Escrituras, que se inicia no princípio da tribulação e vai até o julgamento diante do grande trono branco (capítulo 20:11-15), que é o tema principal do livro.
Ele ouviu uma grande voz, como de trombeta: o som da trombeta tem um significado especial na Bíblia, pois indica a hora em que Deus intervém (por exemplo, Êxodo 19:16, 19, Salmo 47:5, Isaías 18:3, Mateus 24:31, 1 Coríntios 15:52).
Antes, porém, de desenvolver o seu tema principal, sobre as coisas que hão de acontecer, há como que um preâmbulo descrevendo as coisas que são: é a situação dos que recebem este livro: sete igrejas, representando a integridade da igreja na terra: as sete existiam naquele tempo, eram típicas da variedade de igrejas a qualquer tempo, e se apresentavam em determinada ordem, geográfica naquele tempo, e cronológica em sua predominância, como haveremos de verificar, através da história da igreja na terra.
Cada igreja é representada por um candeeiro de ouro, que nos fala da sua preciosidade diante do Senhor, operando pelo poder do Espírito Santo, do qual o óleo é um símbolo, para trazer luz à escuridão espiritual do mundo.
A descrição do Senhor Jesus contém sete aspectos repetidos nas cartas às igrejas, onde seu significado se torna mais claro. As estrelas, anjos de cada igreja, eram provavelmente sua liderança, a quem João deveria mandar cartas. O Senhor tem cada igreja - ou sua liderança - em sua mão, e dirige uma mensagem a cada uma. Não se cogita de uma só "igreja" de âmbito nacional, internacional ou mundial.
Seguindo o exemplo do livro, antes de estudarmos as profecias do que há de acontecer, vamos primeiro verificar o que o Senhor fala sobre suas igrejas, e como isto tem se cumprido através dos últimos vinte séculos.