A primeira das sete cartas ditadas pelo Senhor Jesus ao seu servo João, foi dirigida ao anjo (literalmente mensageiro, provavelmente os supervisores) da igreja em ÉFESO (que significa relaxar, soltar). Era uma igreja que estava REGREDINDO.
A cidade de Éfeso era um centro comercial, político e religioso importante na época em que esta carta foi escrita, semelhante a Alexandria e Antioquia, e continha um templo famoso dedicado a Artemis (Diana para os romanos), considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.
O evangelho havia sido pregado ali pelo apóstolo Paulo durante sua segunda viagem missionária, com Áquila e Priscila (Atos 18:18-19).Na sua terceira viagem missionária, Paulo ficou ali por mais de dois anos (Atos 19), fazendo discípulos, e depois Timóteo também permaneceu ali por algum tempo com a igreja que havia se formado (1 Timóteo 1:3).
Mais tarde, segundo os historiadores, o apóstolo João mudou-se para lá, tornando-se um dos presbíteros da igreja. A igreja tinha, portanto, uma boa formação, alicerçada no ensino dos apóstolos, rodeada pelo vil paganismo greco-romano.
O Senhor Jesus se apresenta como aquele que segura as sete estrelas e anda entre os candeeiros: os supervisores (estrelas ou anjos) de cada uma de suas igrejas derivam sua autoridade e posição dele, e ele os segura em suas mãos para os vigiar, admoestar, animar e aconselhar, como fez nas cartas que estavam sendo ditadas a João, concernentes às sete igrejas (candeeiros) entre as quais estava andando.
A rigor, os supervisores são responsáveis pelo comportamento de seus membros, por isto as cartas são endereçadas ao seu respectivo "anjo", contudo o Espírito fala às igrejas como um todo (Apocalipse 2:7, 11, etc.) pois cada membro é responsável pela sua parte.
O anjo da igreja de Éfeso é elogiado pelo seu labor, perseverança, aversão aos maus, cuidado em por à prova os que falsamente se apresentam como "apóstolos" (verificando que são mentirosos - veja Atos 20:29-30), e pela perseverança no trabalho que faz, suportando provas por causa do nome de Cristo, sem esmorecer.
Ele é, todavia, repreendido por ter perdido seu primeiro amor: não por esquecimento, mas conscientemente, sabendo que seu amor por Cristo se traduz em seu amor pelos irmãos em Cristo. Uns trinta anos antes, esta igreja havia sido elogiada por Paulo pelo seu amor para com todos os santos (Efésios 1:15-16). Seu anjo deve se recordar de como era antes, ver como regrediu e arrepender-se, voltando à prática do amor fraternal; se assim não fizer, Cristo virá e removerá do seu lugar o seu candeeiro. Literalmente, isto significa que a igreja será afastada dos seus supervisores. Pode também ser interpretado que a igreja deixará de operar como testemunha de Cristo, ficando "morta".
Em seu favor, ele tem o ódio pelas obras dos nicolaítas que Cristo também odeia. Quem são eles? Tem havido muita especulação sobre isso, pois fora outra menção, na carta a Pérgamo, nada mais se encontra na Bíblia a seu respeito. Sem dúvida essas duas igrejas, pelo menos, sabiam de quem se tratava e decerto sua identidade não seria ocultada dos demais leitores das cartas pois suas práticas poderiam aparecer em outros lugares.
Faltando outra explicação, ela deve ser encontrada no próprio nome nicolaítas: existe um Nicolau mencionado em Atos 6:5, mas a Bíblia nada revela de mau, procedente dele, e é improvável que a palavra se refira a possíveis seguidores dele, como querem alguns; mas na língua grega, em que as cartas foram originalmente escritas, nicolaítas consiste na junção de duas palavras: nico que se traduz conquistar, destruir ou subverter, e laos que se traduz povo (donde temos a palavra leigos). Na língua em que as cartas foram escritas, portanto, nicolaitanos são aqueles que conquistam, para dominar, o povo: Diótrefes (3 João 9-11) é um exemplo desta atitude.
Segundo os historiadores, já havia naquele tempo uma tentativa para estabelecer uma ordem sagrada de homens que se colocariam em posição de domínio sobre as igrejas, uma espécie de ordem sacerdotal, mais ou menos segundo o modelo judaico. Eles encontraram resistência em Éfeso, mas tiveram sucesso em Pérgamo. Como veremos mais tarde, eventualmente tornaram-se muito poderosos e perseguiram até à morte os que não se submetiam a eles.
De um ponto de vista histórico, "Éfeso" é uma descrição de como o comportamento da maioria das igrejas se desenvolveu no início, até aproximadamente o ano 170 A.D.: foram fundadas em sua maior parte pelos apóstolos, principalmente Paulo e Pedro; com o passar do tempo, os crentes das novas gerações se empenharam na manutenção da pureza da doutrina que seus antecessores haviam recebido, continuaram a ser praticantes de boas obras, e sofriam com paciência e perseverança por causa do nome de Cristo.
Ser identificado como cristão trazia muitas vezes desprezo e maus tratos, mas a perseguição por parte das autoridades romanas não era ainda muito vigorosa, pois até 96 A.D. os cristãos eram ainda legalmente considerados uma seita do judaísmo (Atos 24:14), religião tolerada pela lei romana. As igrejas rejeitavam os falsos apóstolos que se apresentavam com novas doutrinas, bem como, em grande parte, o clericalismo incipiente.
No entanto, o amor original foi se esfriando e a noção da irmandade entre os crentes, como numa família, foi sendo aos poucos olvidada; a conformidade com o mundo e a sua maneira de vida aumentou, os nicolaitanos tiveram sucesso em alguns lugares e uma organização de igrejas chamando-se católicas (universais) começou a se desenvolver.
Em todas as cartas há ainda uma mensagem para quem tem ouvidos: aquele que está atento ao que o Espírito Santo está comunicando através das cartas. Em cada uma está mencionada uma das muitas bênçãos prometidas ao vencedor, isto é, aquele que é nascido de Deus, o crente em Cristo (1 João 5:4-5). Nesta carta a promessa é que ele vai comer da árvore da vida no paraíso de Deus, ou seja, vai habitar a nova Jerusalém, na presença de Deus (Apocalipse 21 e 22).
1 Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro:
2 Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos;
3 e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste.
4 Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade.
5 Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.
6 Tens, porém, isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço.
7 Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.
APOCALIPSE 2:1-7