Nos primeiros dez capítulos deste Evangelho, Jesus se revelou como sendo o Filho de Deus em um círculo cada vez maior. Começando pelo casamento de Caná onde havia os convidados e também os Seus discípulos, aprendemos que os discípulos creram n’Ele. Na festa dos Tabernáculos e na festa da Dedicação, Ele se apresentou à nação inteira e foi rejeitado pelos seus líderes religiosos: as Suas obras (capítulo 5:16), as Suas palavras (capítulo 8:58-59) e a Sua pessoa foram todas rejeitadas (capítulo 10:30-31).
Este capítulo consiste num intervalo: o ministério público do Senhor Jesus estava virtualmente completo e Ele se afastou para dedicar-se a um ministério privado. Os eventos registrados aqui aconteceram entre a festa da Dedicação e a Sua última páscoa, entre dezembro e abril.
Seguindo o propósito deste livro (escrito “para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, crendo, tenham vida em seu nome” - capítulo 20:31 NVI), vamos agora ter a evidência que Jesus tinha até mesmo poder sobre a morte.
Lázaro, uma abreviação de Eleazar (quem Deus ajuda), e suas irmãs Maria e Marta moravam em Betânia (casa de tâmaras), descrita por historiadores como cidade notavelmente bonita, perfeita para aposentadoria, repouso, isolamento e deleitosa paz.
Deduz-se que Marta (amargura) era viúva, a mais velha dos três e dona da casa onde viviam. Isto pode explicar porque era impaciente, agitada, ansiosa para ser útil provendo as melhores coisas para o uso do Mestre, em contraste com a seriedade mais quieta de Maria, que se interessava mais na oportunidade de sentar-se aos Seus pés para aprender d’Ele. Fica bem esclarecido aqui que esta Maria foi a que ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos no capítulo 12:1-8, pelo que se tornou famosa como tinha predito o Senhor conforme Mateus 26:13. Ela definitivamente não era a Maria Madalena de Lucas 8:2, nem a mulher pecadora de Lucas 7:36-50, como consta de uma tradição lendária.
As irmãs enviaram uma mensagem ao Senhor, simplesmente informando “Senhor, aquele a quem amas está doente” (NVI). Não exigiram nada, mas deixaram o assunto ao Seu cuidado. Presumivelmente Ele ainda se encontrava em Betabara além do Jordão (capítulo 10:40).
Ele explicou aos Seus discípulos que esta enfermidade não acabaria em morte (como consequência final: Lázaro morreu, mas por pouco tempo), mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus fosse glorificado por ela, e continuou onde estava por mais dois dias: Ele sabia exatamente o que ia acontecer! Ele amava Lázaro, contudo permitiu que adoecesse e até mesmo morresse.
O Senhor Jesus não era motivado por sentimentos emotivos mas por um amor superior, não só para o bem daquela família mas acima disto, para a glória de Deus. Temos que aprender a confiar n’Ele ao descer pelo vale, até mesmo pelo vale da sombra da morte, sabendo que Ele age bem em tudo. Acima e além das lágrimas, das tristezas e das tentativas de sobreviver, veremos que Deus tem um propósito em tudo o que acontece. Nada entrará em nossas vidas sem a Sua permissão, e se Ele permitir vai ser para a Sua glória.
Decorridos os dois dias, sabendo que Lázaro estava agora morto, o Senhor chamou os Seus discípulos para voltar para a Judeia, avisando-os disto.
O Pai tinha dado para o Filho um trabalho para fazer dentro de um determinado tempo, por isso nada O poderia deter antes de ser realizado, tão seguramente quanto há doze horas em cada “dia” (em contraste com “noite”). Se estivermos vivendo em Sua luz, ninguém, nem mesmo Satanás, pode interferir com o propósito de Deus para nós, tão seguramente como também ninguém pode mudar a hora do pôr-do-sol. Podemos entrar na zona de perigo com Ele e não seremos tocados. Mas os que não O seguem estão na escuridão da noite e em perigo de tropeçar porque Ele é a Luz do Mundo.
O uso pelo Senhor da palavra “sono” como uma metáfora para a morte do corpo não foi compreendido pelos Seus discípulos, portanto Ele explicou. O corpo de Lázaro foi posto para dormir, e ser despertado por nosso Senhor. A mesma metáfora é depois usada por Paulo (1 Coríntios 11:30, 15:51, etc.). A alma, porém, não dorme (veja 2 Coríntios 5:8).
Como tinham ainda recentemente escapado da ira dos judeus em Jerusalém (capítulo 10:39) para este refúgio em Betabara, os discípulos estavam convencidos que iam enfrentar a morte, mas corajosamente concordaram em ir com Ele, conforme decidiu Tomé (a palavra em arameu para Tomé significa “o Gêmeo”, sendo Dídimo, a tradução para o grego; claramente Tomé tinha um irmão gêmeo ou irmã). Os discípulos dispuzeram-se a morrer com Ele.
Chegaram em Betânia quatro dias depois da morte e sepultamento de Lázaro (era costume judeu fazer o sepultamento no mesmo dia da morte) e descobriram que muitos dos líderes religiosos, não necessariamente os que eram hostis ao Senhor Jesus, tinham vindo consolar Marta e Maria durante os sete dias de luto solene (1 Samuel 31:13).
Marta foi encontrar o Senhor assim que ouviu que estava vindo, mas Maria estava sentada em casa: ambas agiram de forma típica (Lucas 10:38-42). Marta era a mulher de ação, e enquanto revelava uma fé maravilhosa, também estava impaciente para ver o que o Mestre faria sobre o que parecia ser um enorme desastre, devido à Sua demora em vir. Ela ainda tinha fé corajosa no poder de Deus através do Senhor Jesus, e Ele praticamente repetiu mais tarde o que ela disse aqui (versículo 41). Maria ficou em casa, aguardando com paciência a chegada deles.
O Senhor contou a Marta que o seu irmão haveria de ressurgir, mas ela julgou que Ele se referia à ressurreição final dos justos e dos injustos (Daniel 12:2). Como cria na verdade das Escrituras, ela cria nesta ressurreição e essa consolação provavelmente era comumente oferecida naquele tempo como é agora; mas ela estava esperando algo mais do Senhor.
A resposta d’Ele foi impressionante: não só confirmou a doutrina sobre eventos futuros, mas declarou a realidade sobre Si próprio. Jesus já tinha falado antes sobre a ressurreição futura (capítulo 6:39), mas agora explicou que Lázaro ainda estava vivo: “quem crê em mim, ainda que morra (morte física), viverá (em espírito e alma); e todo aquele que vive (fisicamente), e crê em mim, jamais morrerá (da morte espiritual, que é a separação eterna de Deus)”. Lázaro estava vivo em espírito e alma porque cria.
O Mestre exigiu de Marta que declarasse se ela cria no que Ele dizia. Se Marta realmente entendeu tudo o que Ele disse e o que significava não sabemos, mas ela não lhe fez nenhuma pergunta: confiou n’Ele e fez a sua própria confissão de fé: Ele era o Messias, o Filho de Deus que devia vir como havia sido profetizado.
Depois de dizer isto, ela foi e chamou Maria discretamente para fora de casa e longe da multidão, para lhe contar a alegre notícia: "o Mestre está aí, e te chama".
Maria veio imediatamente até Jesus. Ele não tinha entrado na cidade, talvez para não chamar atenção para Si. Maria O reprovou, como Marta, por não ter vindo a tempo de evitar a morte de Lázaro. A multidão a seguiu para fora, supondo que ia até o sepulcro, para chorar. A lamentação de Maria aos pés do Senhor era genuína, a dos judeus era em parte superficial e profissional e provavelmente um choro audível.
O Senhor sabia que Lázaro seria restituído à vida, mas se comiserou tanto das irmãs e da multidão que também chorou com elas (v.33), pois a morte é uma coisa terrível para os que ficam para trás. Os judeus pensaram que estava lamentando por Lázaro, e alguns deles, como as irmãs, estranharam que não tivesse vindo para curá-lo, como curara o homem cego, o que evidentemente os deixara impressionados.
Ainda comovido, Jesus foi à gruta usada como sepulcro e mandou que tirassem a pedra posta em sua entrada. Marta protestou que cheirava mal porque estava morto havia já quase quatro dias, mas o Senhor apelou para a sua fé pois já lhe havia dito que, se cresse, ela veria a glória de Deus. Referindo-se a uma comunicação prévia que havia tido com o Pai, Ele agora orou para o benefício daqueles que se encontravam em volta, sem qualquer encantamento ou “luta em oração”, mas simples palavras de ação de graças, manifestando assim que o que havia de se seguir era um sinal que Deus O havia enviado.
O Senhor Jesus então chamou Lázaro em voz alta, mandando-o sair do túmulo. Ele imediatamente obedeceu ao seu Criador, pois instantaneamente se restabeleceu em corpo, alma e espírito e voltou à vida.
Terminamos assim nosso estudo dos sete “sinais” escolhidos pelo apóstolo João inspirado pelo Espírito Santo, dentre muitos outros operados por Jesus na presença de Seus discípulos. O seu objetivo foi “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31). Ele nos deu a sua evidência, que é um testemunho pessoal. Fica com o leitor a responsabilidade de crer, para a sua salvação e felicidade eterna.
1 Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 E Maria, cujo irmão Lázaro se achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos.
3 Mandaram, pois, as irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.
4 Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
6 Quando, pois, ouviu que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde se achava.
7 Depois disto, disse a seus discípulos: Vamos outra vez para Judéia.
8 Disseram-lhe eles: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá?
9 Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
11 E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
12 Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom.
13 Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono.
14 Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu;
15 e, por vossa causa, folgo de que eu lá não estivesse, para para que creiais; mas vamos ter com ele.
16 Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos seus condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.
17 Chegando pois Jesus, encontrou-o já com quatro dias de sepultura.
18 Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.
19 E muitos dos judeus tinham vindo visitar Marta e Maria, para as consolar acerca de seu irmão.
20 Marta, pois, ao saber que Jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa.
21 Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se meu irmão não teria morrido.
22 E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.
23 Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir.
24 Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia.
Joh 11:25 Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
26 e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?
27 Respondeu-lhe Marta: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
28 Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo a Maria, sua irmã, e lhe disse: O Mestre está aí, e te chama.
29 Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa, e foi ter com ele.
30 Pois Jesus ainda não havia entrado na aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.
31 Então os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar-se apressadamente e sair, seguiram-na, pensando que ia ao sepulcro para chorar ali.
32 Tendo, pois, Maria chegado ao lugar onde Jesus estava, e vendo-a, lançou-se-lhe aos pés e disse: Senhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria morrido.
33 Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se,
34 e perguntou: Onde o puseste? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê.
35 Jesus chorou.
36 Disseram então os judeus: Vede como o amava.
37 Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também que este não morreste?
38 Jesus, pois, comovendo-se outra vez, profundamente, foi ao sepulcro; era uma gruta, e tinha uma pedra posta sobre ela.
39 Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse- lhe: Senhor, já cheira mal, porque está morto há quase quatro dias.
40 Respondeu-lhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?
41 Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, graças te dou, porque me ouviste.
42 Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me enviaste.
43 E, tendo dito isso, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
44 Saiu o que estivera morto, ligados os pés e as mãos com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir.
Evangelho de João, capítulo 11, versículos 1 a 44