Para livrar-se dos clérigos e escapar de um possível apedrejamento, o homem imediatamente foi e contou aos judeus que fora Jesus que o havia curado. Talvez ele pensou que a Sua autoridade seria reconhecida e não imaginava que estava trazendo problemas ao seu benfeitor.
Os líderes religiosos consideraram que a ação do Senhor nessa ocasião era razão suficiente para iniciar uma perseguição com a finalidade de mata-lo. Não gostaram dEle quando fora anteriormente ao templo (cap. 2:18), e desconfiavam da sua popularidade (cap.3:25, 4:1). Agora julgavam que O haviam apanhado em série contravenção à lei, como um violador do sábado. Os fariseus ficaram atentos à Sua conduta nos sábados depois disto (Marcos 2:24, 3:2).
Sua resposta foi “Meu Pai” (não “nosso Pai”, assim reivindicando sua relação exclusiva com o Pai) “trabalha até agora”: portanto, sem descansar no sábado. Ele fez o sábado para a bênção do homem, mas não o observa Ele próprio, “e eu trabalho também”: estava em pé de igualdade com a atividade de Deus. Sua cura no sábado era justificada.
O rancor deles porque o Senhor havia violado o sábado se intensificou com a defesa que fez e deu aos líderes religiosos motivo para uma acusação ainda mais grave: a de blasfêmia, fazendo-se igual a Deus quando disse que Deus era o Seu próprio Pai, em um sentido que não se aplicaria a ninguém mais, pois era precisamente isso que Jesus significava ao dizer “Meu Pai” (cap.14:7, Filipenses 2:6).
Os judeus compreenderam claramente que Ele reivindicava para Si igualdade ao Pai em natureza, privilégio e poder (como também nos cap. 10:33 e 19:7). Então eles intensificaram o seu esforço infatigável para mata-lo (cap. 7:1, 19, 25; 8:37, 40). Essa ira mordaz, fúria assassina, foi crescendo por dois anos.
O Senhor então lhes respondeu reivindicando três coisas e depois deu prova clara que Sua declaração que era igual ao Pai era legítima (ver. 31-47):
“O Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente”. Novamente fazendo uso absoluto do relacionamento do Filho com o Pai, Ele defendeu a sua igualdade ao Pai. A frase poderia se aplicar a qualquer um, mas há um sentido mais profundo quando aplicada a Cristo, por causa do relacionamento íntimo que tem com o Pai (ver. 30, cap. 7:28-29, 8:28, 14:10). A segunda frase se compreende melhor traduzindo para “a não ser que Ele veja o Pai fazê-lo”. É o supremo exemplo do filho que copia o espírito e obra de um pai. Em Seu trabalho na terra, o Filho constantemente via o que o Pai fazia. Ao curar este pobre homem Ele estava fazendo o que o Pai queria que fizesse. A frase seguinte confirmou a Sua igualdade com o Pai em poder e habilidade, ainda mais irritando os Seus inimigos. “O Pai ama o Filho” implica em amizade íntima, comunhão, e afeição. As “maiores obras do que estas” incluiam milagres (ver.36, cap.7:3, 21; 10:25, 32, 38, etc.) mas não se limitava a eles. Foi o Pai que fazia estas obras (cap.14:10) e ainda havia outras maiores a seguir, para que se maravilhassem. Maravilhar é coisa de criança, e de homens sábios, quando vemos as obras de Deus na natureza e na humanidade.
“Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer”. Estas eram as grandes obras, superiores à cura: o Senhor Jesus transmite vida, dá vida, a quem Ele quer. De fato, Ele ressuscitou o filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-17), a filha de Jairo (Marcos 5:22-23, 35-43), Lázaro (cap. 11:43-44), em nível físico, mas, ainda mais importante, Ele dá vida eterna aos que confiam n’Ele – cada um deles.
“O Pai a niguém julga”. O sentido literal é “nem mesmo o Pai julga alguém...” O Senhor Jesus vai julgar toda a humanidade um dia. Na Sua primeira vinda o propósito foi conceder a salvação para quem crer n’Ele. Em Sua segunda vinda Ele virá como Juiz, começando pelas nações antes do Milênio (Mateus 25:31-46), em seguida todos os mortos, depois do Milênio (Apocalipse 20:11-15): “deu ao Filho todo o julgamento”. A finalidade é “... para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.” O Senhor Jesus reivindicou para Si o mesmo direito de adoração pelos homens que o Pai tem. Desonrá-lo é o mesmo que desonrar o Pai que O mandou (cap. 8:49, 12:26, 15:23, 1 João 2:23). Há pouco estímulo aqui para os que louvam a Jesus como mestre no entanto negam Seu direito à adoração.
A vida eterna é disponível imediatamente àquele que ouve (isto é, dá atenção e obedece) o Senhor Jesus e crê no Deus Pai que O mandou: ele não será submetido a julgamento, como os descrentes, que permanecem na morte, mas passa da morte para a vida.
O Senhor Jesus continuou a falar da vida e morte, às vezes física, às vezes espiritualmente, e é preciso observar atentamente a rápida transição, por exemplo: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (cap. 5:25,26) se refere à morte espiritual, enquanto que “todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão” (cap.5:28) se refere à morte e ressurreição física.
Há duas espécies de ressurreição: a ressurreição da vida, de todos os que estão salvos (1 Tessalonicenses 4:15-17, Apocalipse 20:4-6) e a ressurreição da condenação, de todos os espiritualmente mortos (Apocalipse 20:11-15).
O julgamento de Cristo é justo, pois não é um julgamento humano, mas segue a vontade do Pai que O enviou.
15 Retirou-se, então, o homem, e contou aos judeus que era Jesus quem o curara.
16 Por isso os judeus perseguiram a Jesus, porque fazia estas coisas no sábado.
17 Mas Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
18 Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19 Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.
20 Porque o Pai ama ao Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo faz; e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.
21 Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.
22 Porque o Pai a niguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento,
23 para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
24 Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.
25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.
26 Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos;
27 e deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.
28 Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão:
29 os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
30 Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
Evangelho de João, capítulo 5, versículos 10 a 30