"Minha alma": a alma aqui é sinônima com espírito no versículo 21 do capítulo 13. Como em Getsêmane (não relatado neste Evangelho) a alma do Senhor instintivamente e naturalmente assustava-se com a Cruz, mas Ele rendeu-se imediatamente à vontade do Pai em ambas as experiências.
Ele não ia só sofrer nas mãos dos homens, mas seria feito pecado, embora fosse santo e incorrupto, para que pudessem ser justificados os pecadores pela fé n’Ele. Ele ia ser ". . . homem de dores, e experimentado nos sofrimentos. . ." (Isaías 53:3,4,10) na Cruz. Isto envolveu uma profundidade de sofrimento que é incompreensível para nós. O desejo supremo d’Ele era a glória do Pai.
Tendemos a lamentar, a chorar, a reclamar e perguntar a Deus porque Ele deixa coisas desagradáveis acontecerem a nós, mas com Cristo deveríamos aprender a dizer, "Pai, por este sofrimento e por esta dor, glorifica o teu Nome."
Uma voz do Céu imediatamente respondeu afirmativamente. Esta foi a terceira ocasião em que o Pai falou para Ele do céu. Em todas as três ocasiões, no princípio, a meio caminho, e ao término do ministério d’Ele era em relação à Sua morte:
Das pessoas que estavam na multidão que assistia, um grupo disse que trovejou, outro que um anjo tinha falado. Estavam ambos errados, pois foi o Pai que falou com Ele.
O primeiro grupo disse que somente trovejou, dando uma explicação natural. Como eles, muitos hoje dizem que a Palavra de Deus é de autoria humana, portanto contém erros e que os milagres registrados não podem ser legítimos. Porque não acreditam, dizem só que "trovejou."
O segundo grupo percebeu que era sobrenatural porque ouviram uma voz: acreditavam portanto no ministério de anjos contado no Velho Testamento e compreenderam que as mensagens de Deus para o homem vinham geralmente através do “Anjo do Senhor”; no entanto, não entenderam que Ele era o Cristo pre-encarnado, nem reconheceram que aquela voz do céu trazia uma mensagem de Deus.
A voz do céu confirmou ao povo que o nome de Deus estava sendo glorificado em Cristo, o que seria lembrado depois. A morte de Cristo na Cruz foi o julgamento do mundo e do príncipe deste mundo, Satanás. Esta é uma das coisas das quais o Espírito Santo agora dá testemunho (capítulo 16:7-11). Ele morreu uma morte de julgamento pelos pecados do mundo, assim pagando a penalidade por eles.
Aqueles que crêem n’Ele já não são julgados e Satanás, o príncipe deste mundo, perde o poder sobre eles e é expulso das suas vidas. Ele será expulso eventualmente do céu (Apocalipse12:10), lançado no abismo e selado durante mil anos (Apocalipse 20:3), e finalmente lançado no lago de fogo (Apocalipse 20:10), a última fase da sua derrota. O seu destino foi selado na Cruz.
O Evangelho fala de um Cristo que foi crucificado. A Sua morte atrairia todos os homens até Ele, e Cristo continua a ser levantado diante dos homens hoje, dois mil anos depois, no mundo inteiro: os que n’Ele crêm são salvos, os que O rejeitam estão perdidos. O magnetismo da Cruz é agora conhecido por todos os homens, porém pouco entendem o significado completo da Cruz.
Por "todos” o Senhor não quer dizer todo homem individualmente, pois alguns, como disse Simeão (Lucas 2:34) são repelidos por Cristo, mas esta é a maneira pela qual os gregos (os gentios em geral - versículos 20 -22) podem vir e virão a Cristo, isto é, pelo caminho da Cruz, o único caminho que existe para o Pai (capítulo 14:6).
Claramente a multidão entendeu que por chamar-se Filho do Homem, Jesus estava se identificando com o Messias, por isso perguntaram como isso era possível: Ele disse que o Filho do Homem seria levantado, logo morreria mediante crucificação, enquanto as Escrituras dizem que o Messias viverá para sempre. Se Ele não era o Messias, então quem era o Filho do homem?
Ele não discutiu esse ponto de teologia com a multidão que não entenderia. Ele retornou à metáfora usada antes quando reivindicou ser a luz do mundo (capítulo 8:12) e instigou-os a tirar proveito do seu privilégio “enquanto tinham luz” (os povos da Antiguidade não tinham iluminação nas ruas como nós, e as ruas escuras eram um terror para os que nelas andavam): têm que crer n’Ele ou nunca acharão o seu caminho.
O Senhor retirou-se então e desapareceu do seu meio. Era sábado.
Entrou no templo novamente nos dois dias seguintes: no primeiro, que era o primeiro dia da semana, nosso domingo, expulsou os cambistas pela segunda vez (Marcos 11:12-19); no segundo dia voltou para ensinar e a curar (Marcos 11:20-37, Lucas 19:41-44, 47-48).
Terminou naquele dia, nossa segunda-feira, o Seu ministério aos judeus e, salvo no dia da Sua crucificação quando nada disse ao povo, nunca mais aparecerá publicamente ao povo em geral até o dia em que virá para derrotar os inimigos de Israel e estabelecer o Seu Reino mundial.
Embora estivessem diante da Luz do Mundo, eles não quiseram abrir os seus olhos para crer n’Ele, depois de terem presenciado tantos sinais que davam a prova da Sua identidade. A profecia de Isaías 53:1 estava sendo cumprida. Eram como um homem que acorda pela manhã e diz a si próprio: "Hoje não vou olhar e vou manter meus olhos fechados o dia inteiro”. É tão cego como o homem que realmente não pode ver.
A segunda cotação vem de Isaías 6:9-10, pois depois que o Senhor se apresentasse ao povo como o Messias e como o seu Rei eles O rejeitariam pessoalmente, e em consequência o dia viria quando não O poderiam aceitar mesmo se desejassem, porque Deus lhes terá tirado a oportunidade.
A coisa mais perigosa no mundo é ouvir o Evangelho e virar-lhe as costas, porque o dia virá quando a pessoa não o poderá ver ou ouvir. Deus é Senhor e é Ele quem tem a palavra final. Isaías com sua visão espiritual viu a glória do Messias e falou dele; o Senhor também disse que o Abraão viu o Seu dia (capítulo 8:56).
É certo que alguns dos líderes perceberam claramente a Sua verdadeira identidade, mas tinham medo de contar aos outros, para não serem expulsos da sinagoga. Estavam pondo em jogo a sua salvação (Mateus 10:32,33). No entanto vamos achar dois destes crentes secretos mais tarde retirando o corpo de Jesus da cruz.
Os últimos sete versículos deste capítulo provavelmente foram ditos quando Ele estava ensinando no templo na segunda-feira, e é como que um resumo do que Ele já tinha dito antes (versículo 36).
Ele novamente declarou que é a Luz do Mundo. Abrirá os olhos de qualquer um, judeu ou gentio, que esteja disposto a admitir que é cego e está disposto a confiar n’Ele. O julgamento vem da Palavra de Deus, e não por nossas pequenas boas obras, ou pelo que pensamos que seja religião.
O Senhor Jesus veio primeiro como Salvador: "eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo”. Da próxima vez Ele virá como o Juiz. Quem rejeita as palavras de Cristo será condenado por elas no julgamento do "último dia." Não há nenhum escapamento disto.
O próprio Senhor Jesus dará testemunho a favor ou contra aquele cuja conduta já revelou sua atitude quanto à mensagem de Deus (Mateus 10:32; Lucas 12:8). A voz de céu ainda está dizendo a nós, ". . . Este é Meu Filho amado. . . a Ele ouvi” (Mateus 17:5).
Isto conclui esta seção do Evangelho de João. Os homens tinham virado suas costas contra aquela voz; tinham rejeitado o Rei. Quando fizeram isto, o Rei os rejeitou. Ele é sempre o Rei!
27 Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora.
28 Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei.
29 A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou.
30 Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós.
31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.
32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.
33 Isto dizia, significando de que modo havia de morrer.
34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?
35 Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.
36 Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles.
37 E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele;
38 para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías: Senhor, quem creu em nossa pregação? e aquem foi revelado o braço do Senhor?
Joh 12:39 Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías:
40 Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.
41 Estas coisas disse Isaías, porque viu a sua glória, e dele falou.
42 Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele; mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga;
43 porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
44 Clamou Jesus, dizendo: Quem crê em mim, crê, nâo em mim, mas naquele que me enviou.
45 E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
46 Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
47 E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
48 Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.
49 Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar.
50 E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.
Evangelho de João, capítulo 12 versículos 27 a 50