A palavra “pentecostes” vem do grego e se traduz como “quinquagésimo”: era o quinquagésimo dia após a festa israelita das “primícias”, vejamos:
Primeiro mês do ano israelita (Nisan ou Abibe):
Dia 14 – Festa da Páscoa (Lev. 23:5, Ex. 12:1-14)
Dia 15 a 21 – Festa dos Pães Asmos (Lev.23-6-8, Ex.12:15-20)
Dia 17 - Festa das Primícias (Lev.23:9-14)
Terceiro mês (Sivan):
Dia 6 – Festa de Pentecostes (Levítico 23:15-21; Deut. 16:9)
A Festa da Páscoa nos lembra a morte do Senhor Jesus: os israelitas celebravam a libertação da escravidão do Egito, mas um dia naquela festa o Senhor trouxe a libertação da escravidão do pecado ao mundo.
Na Festa das Primícias os israelitas ofereciam os primeiros frutos da colheita, para que Deus se satisfizesse com eles; o Senhor Jesus ressuscitou três dias depois, nesta festa, provando a satisfação de Deus pela Sua obra de redenção.
Na Festa de Pentecostes, sete semanas mais tarde, os israelitas faziam ofertas em antecipação à colheita de trigo; naquele ano a descida do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos, conforme Cristo havia prometido, deu início formal à Sua igreja, antecipando “muito fruto” (João 12:24) da “semente” que havia morrido (Atos 2:1, Efésios 2:16-18).
Todos os discipulos se encontravam reunidos em Jerusalém à espera do batismo do Espírito Santo, em obediência às instruções do Senhor (cap.1 v 4-5).
Em cumprimento da promessa do Senhor Jesus, o Espirito Santo desceu nesse dia sobre esses discípulos, audivelmente, soando como se fosse um vento fortissimo. Viram então algo semelhante a fogo que se distribuiu em línguas, de forma que cada uma pousou, ou se assentou, num deles.
Vento e fogo são apenas símbolos do Espírito Santo, assim como óleo (João 3:34), água (João 7:38,39), pomba (Mateus 3:16), sêlo (Efésios 1:13, 4:30) e penhor (|Efésios 1:14).
O ruído encheu toda a casa onde estavam sentados: como num batismo, todos os que estavam lá foram imersos.
A ‘semelhança de fogo’ nessa oportunidade não deve ser confundida com o “batismo de fogo”. O batismo no Espírito e o batismo em fogo são mencionados juntos em uma oportunidade (Mateus 3:11-12 e Lucas 3:16-17), mas são dois acontecimentos bem diferentes: o primeiro é uma bênção, dada como privilégio aos crentes (o “trigo”), o segundo é uma maldição reservada como punição aos incrédulos (a “palha”).
O batismo no Espírito Santo daquele grupo pioneiro de discípulos fez com que fossem habitados em caráter definitivo por Ele, recebessem o Seu poder, e a igreja de Cristo fosse iniciada. Antes do batismo, o Espírito de Deus tinha estado com os discípulos, assim como havia estado com os profetas e outros homens conforme relatado no Velho Testamento, mas sua residência com eles não era permanente (Salmo 51:11).
A partir dessa ocasião, enquanto o Evangelho foi pregado apenas aos judeus, o Espírito Santo foi concedido àqueles sobre quem os discípulos colocavam as suas mãos (Atos 8:17, 9:17, etc).
Quando Pedro abriu a porta do reino de Deus aos gentíos (Atos 10), o Espírito Santo, sem demora e nenhuma outra condição do que a simples fé, foi concedido permanentemente a todos os que creram (João 14:16, Atos 10:44, 11:15-18).
Essa condição prevalece até hoje, e permanecerá até que a igreja seja arrebatada antes da segunda vinda de Cristo. Todo crente nasce do Espírito Santo (João 3:3,6, 1 João 5:1) que nele habita fazendo do seu corpo o Seu templo (1 Coríntios 6:19, Romanos 8:9-15, 1 João 2:27, Gálatas 4:6), e é batizado pelo Espírito (1 Coríntios 12:12,13, 1 João 2:20,27) sendo assim selado para Deus (Efésios 1:13, 4:30).
O Novo Testamento distingue entre “ter” o Espírito Santo, que todos os crentes infalivelmente têm, e “encher-se” do Espírito Santo, que é o privilégio e um dever de todo crente, mas exige a sua santificação e obediência a Deus.
Um crente pode pecar contra o Espírito Santo se mentir ao seu próximo, se irar-se por longo tempo dando lugar ao Diabo, se furtar e não trabalhar, se falar palavras torpes, etc; ele pode entristecer o Espirito com amargura, cólera, ira, gritaria, blasfêmia e malícia (Efésios 4:26-31); pode mesmo até apagar, ou abafar, o Espírito ao praticar o mal e desprezar o ensino bíblico (1 Tessalonicences 5:19).
No dia de Pentecostes os discípulos não somente foram batizados com o Espírito Santo, mas também ficaram “cheios” com Ele. Isso não acontece automaticamente, pois temos o mandamento “enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18). Também é inutil orar pedindo que Ele venha nos encher, pois depende da nossa própria santificação.
As línguas como que de fogo naquela ocasião são interpretadas por muitos como uma representação visível de um dom especial que eles estavam recebendo – o de falar em idiomas estrangeiros, como o que nos é informado logo a seguir.
O fogo pode ser uma figura do Espírito Santo, a fonte desse dom, pois era uma figura de Deus para o povo de Israel (Êxodo 3:2, 24:17, Deuteronômio 4:24). Também pode se referir ao ardor entusiástico com que o Evangelho foi proclamado em seguida.
O dom que foi concedido aos discípulos foi o de falar num idioma que não haviam aprendido, mas eram línguas usadas naquele tempo e foram compreendidas pelas pessoas originárias dos vários países que as falavam, ali presentes.
O Senhor Jesus havia expressado sua intenção de fazer com que o Evangelho fosse pregado por todo o mundo, e nessa ocasião as várias línguas faladas pelo mundo estavam representadas.
Poderíamos pensar que era assim que a mensagem seria proclamada pelo mundo, mas não era assim, como os futuros acontecimentos provam.
Este foi o terceiro milagre, vindo depois do som e das línguas. Não devemos confundir estes sinais milagrosos com o próprio Espírito Santo. Sem dúvida foi nesta ocasião que Ele veio sobre os discípulos, mas Ele é um espírito invisível e não pode ser reconhecido pelos nossos sentidos físicos. Os sinais foram apenas evidências que Ele de fato havia vindo para desempenhar a Sua missão na igreja de Cristo.
O dom de línguas também foi dado à casa de Cornélio em Cesaréia (Atos 10:44-47, 11:15-17), aos discípulos de João em Éfeso (Atos 19:6) e aos discípulos em Corinto (1 Coríntios 14:1-33).
Línguas não foi um dom permanente, e Paulo explica que era um sinal para os descrentes, que não deveria ser usado a não ser que houvesse alguém presente que pudesse comprender e interpretar o que estava sendo dito (1 Coríntios 14:22). O chamado “dom de línguas” de hoje não passa de jargão e histeria.
Lucas nos relata que “habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu.” Que melhor ocasião poderia haver para comunicar as boas novas da salvação? O dom de línguas era ideal para essa circunstância, e o Espírito Santo, na sabedoria de Deus, o deu para os discípulos que seriam os mensageiros.
Atraídos pelo ruído, juntou-se grande multidão ao redor do local onde se encontravam os discípulos, que já estavam falando em outros idiomas. Cada um que chegava ouvia estes simples galileus falar na própria língua em que havia nascido. Havia portanto grande confusão, e todos pasmavam e se admiravam.
Os discipulos falavam das grandezas de Deus nessas línguas estrangeiras – isso levaria ao louvor, muito apropriado naquela festa de antecipação à colheita. Mas o povo estava sendo preparado para ouvir sobre a maior obra de Deus em todos os séculos: o resgate que havia sido pago por todos os pecadores.
Essa notícia viria, em seguida, mediante o discurso de Pedro.
1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar.
2 De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.
3 E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma.
4 E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
5 Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu.
6 Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
7 E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses que estão falando?
8 Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos?
9 Nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia,
10 a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
11 cretenses e árabes - ouvímo-los em nossas línguas, falar das grandezas de Deus.
12 E todos pasmavam e estavam perplexos, dizendo uns aos outros: Que quer dizer isto?
Atos capítulo 2, vers. 1 a 12