É natural esperar que aqueles que se tornam seguidores daquilo que é bom vão ser respeitados e ninguém lhes fará mal. A expressão no grego original é bem forte: “se fordes fanáticos (não zelosos) do bem”. Sem dúvida é uma referência aos três versículos precedentes, que é o “caminho da felicidade”. Mesmo entre os descrentes, existe geralmente aprovação dos que são cumpridores da lei e irrepreensíveis em seu comportamento social e doméstico.
No entanto, é bem possível que se incorra em sofrimento “por amor da justiça”, isto é, por causa da fidelidade ao Senhor: como o mundo O odiava, o mundo também odiará aos que O seguem. Bem-aventurados são os que sofrem por esse motivo, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5.10). O profeta Isaías foi instruído a não andar no caminho pecaminoso do povo do seu tempo, nem se atemorizar com as suas ameaças, nem se assombrar (Isaías 8.11-13), e essas palavras são aqui repetidas para os crentes que se encontrarem em situação semelhante.
Sofrer por amor da justiça deveria, portanto, trazer júbilo ao filho de Deus (Atos 5.41) e lhe dar motivo para glorificar a Deus (1 Pedro 4.16). Não é que deveríamos procurar ser perseguidos, de propósito, mediante uma atitude ofensiva aos outros em nosso testemunho, mas se simplesmente tomarmos uma posição firme pela justiça de Deus na maneira em que falamos e agimos, deveríamos nos regozijar se sofrermos por isso. Não vamos escapar ao sofrimento no mundo se formos obedientes ao Senhor. Alguém já disse “o cristianismo é um banquete, mas nunca um piquenique”. Nunca nos é dito que vamos ter uma passagem fácil por aqui.
Ao invés de ter medo, devemos santificar o Senhor Deus, ou talvez melhor, Cristo como Senhor de nossos corações – uma adaptação de Isaías 8:13: “a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro”. Em nossas vidas hoje precisamos santificar o Senhor em nossos corações. Habacuque escreveu: “Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Habacuque 2.20). No domingo, por exemplo, o mundo vai passando em direção aos supermercados e diversões, e não O estão respeitando. E nós?
Devemos estar sempre prontos para explicar, quando perguntados, a razão da nossa fé e da esperança que impulsiona nosso comportamento, tendo um domínio inteligente da matéria e habilidade em apresentá-la, com mansidão e temor do Senhor, não do homem. Aqui novamente vemos como é necessário para nós conhecermos mais do que só um pouquinho da Bíblia.
Tragicamente existem hoje tantos que se dizem cristãos, mas qualquer cético, apóstata ou herege é capaz de enredá-los de tal forma que são incapazes de encontrarem a saída. Por que? É porque eles não conhecem a Palavra de Deus. Dependem inteiramente do seu ministro ou pastor quanto aos assuntos básicos da fé, e são facilmente levados ao engano por falsos mestres e argumentos sofísticos.
Desde quando Adão e Eva comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal, a humanidade foi dotada de uma consciência: a habilidade de distinguir entre o certo e o errado. A consciência é corrompida pelo pecado, e pode se tornar incerta, mas quando a mente é renovada pelo novo nascimento no Espírito Santo e instruída pela Palavra de Deus, que a torna sensível ao que é certo e errado aos olhos de Deus, ela merece confiança outra vez. Isso também destaca o valor e importância do crente procurar as Escrituras a fim de instruir a sua mente e coração nas coisas que agradam a Deus.
Os crentes são, portanto, instruídos a manterem uma consciência limpa: falar e comportar-se de uma maneira que agrade a Deus, para que não tenham do que se arrepender depois.
Mas algumas pessoas ainda estarão inclinadas a falar mal contra os filhos de Deus e de se oporem aos que vivem conforme os padrões de Deus. Não gostam dos que são bons demais, assim como condenam os que são maus demais. Este é o caso em que a luz mostra as obras das trevas que eles praticam, e isto eles odeiam (João 3:20). Se nos assegurarmos que aqueles que falam de nós estão errados, os que estiverem observando deixarão de dar crédito aos caluniadores mediante a evidência de nossas ações, e se envergonharão, se não agora, certamente no Dia do Juízo. Os rumores caluniosos a nosso respeito não nos incomodarão porque sabemos que não são verdadeiros.
Por ser a vontade de Deus, é melhor sofrer fazendo o bem e mantendo uma consciência limpa do que sofrer merecidamente por fazer o mal. Em outras palavras, se tivermos que sofrer, que seja diretamente pela mão de Deus e não por alguma culpa nossa. Deus tem uma boa razão para permitir que soframos injustamente: tem a ver com provação e a bênção que se segue. Realmente, a mensagem é sobretudo que a bênção vem ao que sofre por fazer o bem.
O supremo exemplo é visto em Cristo, que foi odiado pelo bem que dizia e fazia e foi morto por isso. Ele sofreu pelos nossos pecados, não os Seus, porque Ele não tinha nenhum. Foi na Sua humanidade que deu a Sua vida por nós na cruz, e foi o Espírito Santo que O levantou dos mortos. Em Seu caso a bênção veio para nós, que cremos nEle, pois era a única maneira pela qual podíamos ser reconciliados com Deus.
Pagou a penalidade pelos nossos pecados quando deu a Sua vida. Os pecados nos separavam de Deus (Isaías 59:2) – fizeram-nos morrer para Ele – e só podiam ser perdoados depois que Ele pagou por eles. Ele era justo, portanto perfeitamente aceitável diante de Deus em todos os sentidos. Sua morte foi uma obra suficiente, completa e acabada, de uma vez por todas satisfazendo a justiça de Deus. Trouxe-nos de volta à comunhão com Deus – reconciliando-nos – e esta é a vida que nunca mais se extinguirá, eterna.
Os versículos 19 e 20 têm sido a causa de muita controvérsia através dos tempos, sendo oferecidas muitas interpretações, e são usadas até mesmo pela instituição católico-romana para justificar a sua invenção do purgatório, que é completamente estranha a todo o outro ensino, muito claro, na Bíblia. A palavra-chave a toda essa passagem está no versículo 20; é a pequena palavra “quando”.
Estes versículos são claramente uma digressão do tema principal, e nos levam para uma época em que a ira de Deus contra a humanidade foi tal que Ele destruiu todo o mundo menos a família de Noé, ao todo oito almas. Quando foi que Cristo pregou às almas em prisão? “Quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé”, não depois que Ele morreu na cruz!
Somos informados que, mesmo naquele tempo, o Espírito Santo, às vezes chamado de Espírito de Cristo da mesma forma que Espírito de Deus, falou ao povo através de Noé – durante 120 anos – anunciando a justiça divina (2 Pedro 2.5); no entanto esse povo era descrente e rebelde, por isso morreram no dilúvio e seus espíritos foram à prisão no hades e lá esperam o julgamento final como o homem rico da parábola (Lucas 16.23).
No tempo de Cristo, aqueles que rejeitaram a mensagem de Noé estavam em prisão. O ensino é que a morte de Cristo não significou nada para eles, da mesma forma que nada significa para uma grande multidão de pessoas hoje em dia que, como resultado, também virão a julgamento.
No versículo 21 faz-se a conexão entre o tempo de Noé e o nosso: a água do dilúvio. O batismo do Espírito Santo é verdadeiro batismo, e a água do dilúvio foi símbolo dele nos tempos de Noé assim como o batismo pela água é símbolo dele hoje. Assim como Noé e a sua família foram salvos pela fé, também nós. A arca que construíram por causa da sua fé na palavra de Deus é um tipo de Cristo que nos dá abrigo do castigo de Deus. Batismo é a resposta a uma boa consciência para com Deus: a fé em Sua Palavra (da qual a água é símbolo) e o recebimento do Seu dom de salvação das consequências do pecado mediante a fé no Seu Filho.
É fé na ressurreição de Jesus Cristo que trouxe a obra do Espírito Santo em nossa vida e nos regenerou. Assim fazendo temos nossos pecados enterrados nEle e recebemos a vida nova como Ele se levantou outra vez da sepultura. Morremos para a vida velha de pecado e vivemos agora uma vida nova de obediência ao Senhor.
Somos todos pecadores aqui em baixo, mas podemos vir a Ele e recebê-lo, e assim nos juntarmos na grande companhia dos salvos. Somos batizados pelo Espírito Santo no corpo de Cristo, porque Ele foi levantado de entre os mortos e hoje está à mão direita de Deus.
13 Ora, quem é o que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?
14 Mas também, se padecerdes por amor da justiça, bem-aventurados sereis; e não temais as suas ameaças, nem vos turbeis;
15 antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós;
16 tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, fiquem confundidos os que vituperam o vosso bom procedimento em Cristo.
17 Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.
18 Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito;
19 no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão;
20 os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água,
21 que também agora, por uma verdadeira figura - o batismo, vos salva, o qual não é o despojamento da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo,
22 que está à destra de Deus, tendo subido ao céu; havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potestades.
Primeira carta de Pedro, capítulo 3, ver. 13 a 22