Este discurso aconteceu na sinagoga (versículo 59), assim havia líderes religiosos presentes, os juSenhor mencionados no versículo 41. Eles resmungavam por causa da reivindicação à Divindade – que desceu do céu - pelo homem que eles conheciam como Jesus o filho de José, cujos pais conheciam bem, porque eles sem dúvida adoravam naquela sinagoga. Na realidade Ele não era filho de José: Ele estava proclamando o Seu nascimento de uma virgem por meio do qual Ele assumiu a humanidade. O Senhor lhes disse abruptamente que deixassem de resmungar entre si. Esses religiosos devem ter parado para escutar, quando explicou em maior detalhe o que quis dizer.
A palavra traduzida "trouxer" é "arrastar". Vir ao Senhor Jesus é um ato do Pai, porque foi Ele que deu o seu unigênito Filho para que quem crer n’Ele não pereça mas tenha a vida eterna (capítulo 3:16). Todos temos livre arbítrio e podemos exercita-lo. Deus nos responsabiliza por isto e sabemos que somos responsáveis. Depende de nós. Existe Escritura após Escritua no Velho Testamento concernente ao ensino de Deus (por exemplo, Isaías 54:13, 60:2-3, Malaquias 4:2). Não é bastante ouvir a voz de Deus. Deve ser atendida, aprendida e obedecida, o que é uma reação voluntária. A ênfase feita aqui é que quem dá resposta voluntária positiva à Palavra de Senhor virá inevitavelmente a Cristo.
Nenhum ser humano já viu Deus com seus olhos físicos (capítulo 1:18) exceto o Filho que tem a Sua origem em Deus (capítulo 1:1,14; 7:29; 16:27; 17:8). O único modo em que outros podem ver a Deus é vendo Cristo (capítulo 14:9). A vida eterna é obtida mediante continuamente crer e confiar n’Ele. O crente em Cristo tem vida eterna porque a expiação pelo seu pecado se fez efetiva pela morte de Cristo, e ele está assim justificado (considerado justo) perante Deus.
O maná que os antepassados deste povo comeram não os impediu de morrer, mas este pão que desce de céu faz isto. O Senhor Jesus é o pão vivo: não um objeto inanimado, mas uma pessoa viva, capaz de dar vida a outros, assim fazendo claro que não estava aludindo à comida física, como haviam pensado. Ele vive, esteve morto, e está vivo para sempre (Apocalipse 1: 18). Se qualquer um comer deste pão: Ele usou novamente o ato de comer pão, por meio do qual absorvemos sua substância a fim de nutrir nossos corpos, como um símile por crer em Cristo como nosso Redentor e recebê-lo como expiação pelo nosso pecado.
Cristo veio a esta terra, o Verbo feito carne (capítulo 1: 14). Um pouco depois iria dar aquele corpo humano em sacrifício pelo pecado: não o d’Ele próprio, porque nunca pecou, mas de todos aqueles que crêem n’Ele. Isto é o que queria dizer dar a Sua carne. Esta declaração criou mais dificuldade ainda para os ouvintes. Tinham resmungado antes (versículo 41), agora começaram uma altercação séria entre si, alguns possivelmente vendo o significado espiritual do que foi dito, mas eram incapazes de entender a idéia de sacrifício próprio (mais tarde houve divisão de opinião sobre Ele em Jerusalém também - capítulos 7:12,40; 9:16; 10:19). Houve descrença desdenhosa, perguntando orgulhosamente como podia este homem dar a Sua carne para ser comida, como se fossem canibais! Não podiam entender a apropriação de Cristo pelo crente (Gálatas 2:20; Efésios 3:17), mas alguns entre eles aparentemente eram contrários a essa interpretação literal de carne.
Para enfatizar a necessidade de uma apropriação total, o Senhor então acrescentou sangue à carne: esta era uma mensagem chocante, porque qualquer idéia de beber sangue, mesmo se não fosse humano, era repugnante porque a lei o proibia (Levítico 17:10, 11). Novamente, o Senhor não estava falando sobre beber o sangue dele literalmente: o único significado possível é a apropriação espiritual da vida de Jesus Cristo pela fé, porque não temos vida em nós mesmos - vida só é achada em Cristo.
Sangue é símbolo de vida e isto era bem conhecido pelos israelitas desde o início quando Ele os convocou da terra de Egito (Gênesis 9:4, Êxodo 12:13, 30:10, Levítico 17:11,14). A vida da carne está no sangue e o Cristo estaria derramando o Seu sangue na Cruz e dando a Sua vida. Ele dá vida nova para o crente quando ele aceita a vida que Cristo cedeu em lugar dele.
Seguramente o Senhor Jesus não está falando da Ceia do Senhor e é heresia grosseira ensinar que a vida eterna é obtida mediante o participar do pão da comunhão e do cálice, como fazem alguns pseudo-cristãos. Esta é uma interpretação errônea violenta do Evangelho e uma deturpação absoluta de Cristo. É uma interpretação grotescamente literal do simbolismo da linguagem de Jesus, que estes judeus também entenderam mal. Cristo usa uma figura arrojada para representar a apropriação espiritual d’Ele que iria dar seu sangue vital para a vida do mundo (capítulo 6:51). Teria sido uma confusão completa para estes judeus se Jesus estivesse usando o simbolismo da Ceia do Senhor. Seria uma verdadeira desonestidade se João usasse esse discurso como propaganda do sacramentalismo (como alguns têm o desplante de dizer). A linguagem do Senhor só pode ter um significado espiritual à medida que esclarece ser o verdadeiro maná.
O Pai vivo enviou o Seu Filho, que vive por Ele: da mesma maneira quem crê no Filho viverá por Ele (capítulo 11:25,26). Jesus Cristo é nossa base de esperança e garantia de imortalidade. A vida está em Cristo.
É curioso que entre os ruínas da sinagoga de Capernaum foi achado um bloco de pedra, talvez a verga de uma porta ou janela, esculpida com uma vasilha de maná, com um desenho de folhas de videira e cachos de uvas em volta.
Provavelmente por causa do último pronunciamento de Jesus, que Ele era o pão da vida descido do céu e que eles tinham que comê-lo, muitos dos Seus discípulos (presumivelmente não os apóstolos) reclamaram que isto era duro de aceitar.
O Senhor, como já provado antes, tinha uma perspicácia sobrenatural em conhecer as mentes e imediatamente os repreendeu pela sua incredulidade. Ele fez uma declaração clara da Sua pre-existência em Suas próprias palavras (capítulo 3:13; 17:5), e explicou que é Deus - o Espírito - que dá vida, e a carne (matéria física) não é de qualquer benefício (João 3:6-8); Ele estava falando de coisas espirituais, e o fôlego de Deus e a vida de Deus estão nestes palavras. "Nunca homem algum falou assim como este homem" (João 7:46). Há vida nas Suas palavras hoje.
O Senhor Jesus conhecia cada uma dessas pessoas, e como reagiriam a Ele, até mesmo como Judas Iscariote O trairia no futuro. Ele declarou novamente que sabia que muitos não criam n’Ele, e que não podiam fazê-lo se não fossem impelidos por Deus (como já tinha explicado). Muitos dos Seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com Ele. Quando Ele perguntou aos apóstolos se eles também queriam retirar-se, ele estava mostrando que eles podiam aceitar ou rejeitá-lo: não eram coagidos por predestinação.
Pedro respondeu: “Para quem iremos nós?” Com sua notória franqueza, Pedro respondeu por todos nós: não há outro caminho; somente o Senhor Jesus tem as palavras de vida eterna. Pensando que estava falando para os doze, Pedro acrescentou “E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Mas o Senhor Jesus sabia melhor: Ele os tinha escolhido, bem sabendo o que eram e em que se tornariam. Ele não disse que Judas era um diabo (caluniador) quando o escolheu, mas que era um agora.
41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu;
:42 e perguntavam: Não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: Desci do céu?
43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.
46 Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que é vindo de Deus; só ele tem visto o Pai.
47 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna.
48 Eu sou o pão da vida.
49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.
52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
59 Estas coisas falou Jesus quando ensinava na sinagoga em Cafarnaum.
60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?
61 Mas, sabendo Jesus em si mesmo que murmuravam disto os seus discípulos, disse-lhes: Isto vos escandaliza?
62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?
63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.
64 Mas há alguns de vós que não crêem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.
65 E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.
66 Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele.
67 Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?
68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
69 E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus.
70 Respondeu-lhes Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? Contudo um de vós é o diabo.
71 Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era ele o que o havia de entregar, sendo um dos doze.
Evangelho de João, capítulo 6, versículos 41 a 71